2 de fev. de 2009

O mito do Femismo

A primeira vez que escutamos o termo “Femismo” foi dentro de um debate virtual, com outras mulheres, cujo tema era a rivalidade feminina. Uma delas usou este neologismo como legitimador do argumento que diferenciava a sua “consciência de mulher independente” das demais mulheres. Ela se mostrou avessa o movimento feminista do qual ela ao momento pouco conhecia. Pesquisando mais sobre este termo, observamos como isso está sendo divulgado para dizer que é o “machismo feminino”, na verdade é um sentimento de aversão que algumas mulheres sentem pelos homens, claro que isso está carregado de preconceitos e estereótipos para distanciar as mulheres de reconhecer a sociedade machista e engajarem-se na luta feminista, a intencionalidade disso é o que queremos descrever ao longo do texto.
Em nossa análise, sua angústia era a de não ter sua imagem pública-virtual vinculada a uma imagem estereotipada de mulher: “a feminista”. Uma imagem reacionária das “mulheres convertidas a temidos monstros de saias”, mulheres que teriam invertido a lógica do sexismo patriarcal e “de todos os mulheres ual ou intelectualçpos Nucleo ormado num homem de saias" pretendem arquitetar “a dominação de todos os homens”. Por tal motivo escrevemos este primeiro artigo do “Núcleo de Estudos Feministas – Simone de Beauvoir” que, a partir da explicação do que é femismo, desenvolve um olhar sobre os arquétipos femininos criados pelo machismo e que serve de oposição a figura estereotipada de feminista, figura imposta ao nosso inconsciente coletivo.
Femismo é um termo usado para desviar a atenção das mulheres das opressões que elas sofrem. Concordamos com a Simone de Beauvoir, quando ela cita que nem todos os “valores femininos”, criados pela opressão de gênero, devem ser jogados no lixo, em troca de serem substituídos pelos defeitos comuns à identidade masculina. Os exemplos de Condolezza Rice e Margaret Theacher representam os valores de uma classe social e não os valores da luta feminista, por tal motivo elas eram mais que mulheres no poder, eram mulheres atreladas aos valores machistas que sustentam os privilégios de uma sociedade patriarcal, branca, heteronormativa, burguesa e adultocêntrica, ou seja, não existe femismo, o que existe é machismo e este “termo” é uma criação reacionária contrária à luta pela emancipação feminina.
A criação do neologismo femismo tem por objetivo forjar uma realidade que a muito já é difundida pelos meios de comunicação anti-feministas. Eis uma ideologia panfletária que possui como intuito o fato das mulheres não se identificarem com o feminismo ou com a autonomia econômica feminina. Esta ideologia é muito antiga e comum a vários filmes da american way of life[1].
O modo que a mídia retrata as figuras feministas é exorbitantemente estereriotipada, em sua maioria, apresenta as mulheres – em qualquer nível de liberdade, seja sexual ou intelectual - como neuróticas, histéricas ou com graves problemas emocionais. Esta estratégia ideológica nada sutil é detalhadamente orquestrada para que nós mulheres não nos engajemos em sua própria luta e não nos reconheçam como tal. Pois como exemplifica Naomi Woolf, em “O Mito da Beleza”, os padrões de identificação da mídia servem como modelo do desejo masculino forjado e constituem os mitos sexuais da indústria do entretenimento, pegando no ponto mais vulnerável das mulheres na atualidade, que é o de ser aceita e desejada sexualmente, pois consideramos que numa sociedade consumista e machista, em que uma mulher é vista como um produto, o desejo é a repressão do instinto pela linguagem, é a necessidade de satisfação psicológica em substituição a uma necessidade física, é uma construção social.Bons exemplos são das divas aparentemente emancipadas dos grilhões do machismo, criadas para influenciar na construção da identidade das mulheres e adolescente do mundo todo. Tais como Britney Spears, Jenifer Lopez, Beonce, mulheres que trabalham fora de seus lares, ganham muito dinheiro, são aparentemente donas de seus corpos, contudo, sofrem do mesmo Complexo de Cindelera[2] exposto por Collete Dawling. Ou seja, representam a figura ambivalente entre a independência exigida pelo feminismo e a necessidade de ser amada e desejada, como é ditada dentro da lógica da sociedade falocêntrica do capitalismo.
Elas têm como chave de seu sucesso o uso expressivo de seu corpo “sexy”, muito mais do que a criatividade de suas idéias. Como todo ser humano quer ser desejado na mulher isso é bem mais marcante, a imagem a ser desejada está registrada através de personagens muito atraentes e indecifráveis como as das “femme fatale[3]”, uma mulher misteriosa representação simbólica incontrolável da “mística natureza sexual feminina”, voluptuosas em atributos físicos e fartas em decotes, devoradora natas de homens, como as antigas vamps[4], com um apetite sexual fora do comum, prontas para destruir famílias e corações masculinos ou as típicas garotas “pra-frentex” retratadas como “jovens mulheres modernas” com cabelos coloridos, tatuagens e usuárias de drogas, porém submissa e dispostas a serem salvas por um homem ao final do filme. O contraponto a estas representações são as figuras nada atraentes, sempre vestidas por camisetas brancas e coletes, usando óculos e com cabelos desgrenhados (o estereótipo das feministas).
Mas ao final, seja nos filmes, seja na vida real, todas estas mulheres de forte sex appeal acabam flertando com a moral das “boas moças”, casando-se, tornando-se mães, para desvincularem-se da imagem de mulher desonesta (recorrendo a redenção social proposta pelo cristianismo, onde as mulheres devem abrir mão de sua vida sexual ativa e tornarem-se “mães respeitáveis” e assexuadas). Objetos de satisfação sexual dos machos alfas (os fortes) e consumo onírico dos machos beta (os fracos) do capital. Estas mulheres guardam resquícios de cinderelas pobres, calçadas com o sapatinho de cristal da fama, as com que g do c a moral dentrica ui nesta comunidade e isso ficaria registrado para a historia mas mantendo um conjunto de desejos e atitudes distorcidas que si iniciam na construção social de sua infância, como qualquer pessoa sofrendo das imposições semeadas na crença de que a menina necessitara de um homem mais forte para protegê-la.
No Brasil, o mesmo modelo é aplicado desde a mais tenra idade, onde os nada inocentes programas de televisão manipulam a construção do mito de uma menina doce, engraçadinha por ser respondona sempre vestida como boneca de porcelana, típica da década de trinta, ou seja, completamente atemporal as conquistas feministas. Ela faz extremo sucesso aos olhos desavisados das famílias dominicais. E nem é preciso dizer seu nome, basta apenas saber que o star system[5] também foi aplicado a uma mulher chamada Shirley Jane Temple.
No meio disso tudo, somos tod@s - mulheres e homens - massa de manobra. Entrando nas clínicas de estética em fileiras quase simétricas, como gados de engorda para o abate, pacientemente esperando ficar iguais umas as outras. Iludidas com o desejo de tornarmos fisicamente diferentes do que somos para que tenhamos um destino igual de submissão. Extraindo pedaços de nossos corpos, acrescentado substancias plásticas e sendo manipuladas como estátuas de carne para sermos expostas na vitrine do mercado de consumo que é o mundo machista. Não é precisamos dizer quem é o açougueiro e quem será o comprador.
Como a construção da identidade feminina se caracteriza pela aprovação masculina, como identificado por Shulamith Firestone no livro “A Dialética do Sexo”, as correntes do desejo feminino rejeitam a imagem “da mulher feminista” para se agarrar numa imagem platônica de mulher ideal, hora é decidida hora ela parece estar morta de tão tola e nunca pertencente ao mundo real, forjando uma inexistente imagem de divina perfeição. Mecanismos que continuam a tradicional construção dos arquétipos femininos de Lilith x Eva, de Eva x Maria, de Maria x Madalena, da Mãe x a Puta, da Esposa x a Amante, da Diva Sexy x a Neurótica.
A “nova mulher” está sendo reformulada a cada instante, contendo a mesma essência apesar de se alterarem os rótulos e os recipientes, mas nunca abrindo caminho para que ela seja dona de seu destino e agente ativo nos projetos da humanidade. A responsabilidade? Esta, acreditam os machistas, deve ser deixada para os “super-homens”, eis a intenção de se manter os arquétipos femininos nesta sociedade: evitar que as mulheres se reconheçam nelas mesmas, e deixando nas mãos dos homens os rumos econômicos, sociais, políticos e culturais, pois esta parte necessitaria de “atributos masculinos” para realizar com responsabilidade e sucesso. E este reconhecimento dos papeis sociais se dá pela identificação através dos olhos desejosos do Outro.
O real feminismo é contra a falsa idéia de emancipação feminina existente nas práticas forjadas pelos nossos opressores, ou seja, somos absolutamente contra o machismo inclusive se este vier revestido do que os próprios machistas insistem em chamar de “femismo”. A luta feminista não é contra as mulheres citadas, como também não deve ser contra as mães, mas é contra a ideologia que transforma as mulheres em mães, meninas em princesas, humanas em divas, pois se assim fossemos, estaríamos em casa lavando as roupas de homens que nos desejam escravizar para receberem o titulo de reconhecimento social masculino chamado de marido. Portanto, não existe femismo o que existe é machismo.
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro.
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[1] American Way of Life – Estilo de Vida Americano foi desenvolvido na década de 20, amparado pelo bem-estar econômico que desfrutavam os Estados Unidos. O sinal mais significativo deste way of life é o consumismo, materializado na compra exagerada de eletrodomésticos e veículos.
[2] (...) uma rede de atitudes e temores profundamente reprimidos que retém as mulheres numa espécie de penumbra e impede-as de utilizarem plenamente seus intelectos e criatividade. Como Cinderelas, as mulheres de hoje ainda esperam por algo externo que venha transformar suas vidas(...) Os homens são educados para a independência desde o dia do seu nascimento. De modo igualmente sistemático, as mulheres são ensinadas a crer que, algum dia, de algum modo, serão salvas. Este é o conto de fadas, a mensagem de vida que ingerimos justamente com o leite materno.
[3] A femme fatale é um tipo de personagem, normalmente uma vilã que usa o poder da sexualidade de forma a apanhar o desafortunado herói. É uma tradução do francês femme fatale, 'mulher fatal'. É muitas vezes representado como sexualmente insaciável. Em algumas historias a femme fatale representa de anti-heroína mesmo quando é heroína (boa moça). Atualmente, o arquétipo é geralmente visto como um personagem que constantemente atravessa a linha entre o bem e o mal, sem escrúpulos agindo independentemente da sua fidelidade.
[4] Uma vamp é um estereótipo de mulher sedutora, atraente, e geralmente também perversa e cruel. No entanto, distintamente da mulher fatal, a vamp não necessariamente é uma criminosa ou assassina, mas tem características de frieza e sadismo. Também se descreve a vamp como uma mulher misteriosa e glamurosa de maneira exótica e estilizada.
[5] Segundo definição do Dicionário Houaiss, star-system é, no mundo do espetáculo, organização comercial e de produção centrada na publicidade, no prestígio e no culto a grandes astros e estrelas. O star system surge nos anos 20 e nasce da concorrência entre dois estúdios americanos, o star system, o sistema de "fabricação" de estrelas







9 comentários:

Marcel Angelo disse...

O que se dizer então, de muitso casos do quais eu já presenciei, de mulheres que realmente não admitem que pais, homens, eduquem seus filhos?
Tendencias a exteriotipar o sexo masculino como burro, institivo e inferiores? Isso não é feminismo, é óbvio, mas ALGUMAS mulheres que se dizem feminista costumam usar de argumentos preconceituosos.
Como minha professora do ensino médio, que usava de uma idéia romantica de humanidade primitiva para sugerir que o homem não tinha capacidade de criar ou de que uma relação amorosa só é válida ou igualitária em caso de duas mulheres.

Esse tipo de argumento é insensato, além de estar muito longe do que seria igualdade.
Longe de discutir o exteriótipo machista sobre o feminismo,
o que seria então aqueles comportamentos citados acima?

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Geleiras,
Leia o texto do link abaixo e se vc ainda tiver dúvidas conversamos

http://nucleogenerosb.blogspot.com/2010/10/o-machismo-feminino.html

Marcel Angelo disse...

obrigado, salvei a página para ler.

Mario disse...

O que vc diz de lésbicas que dizem que homens são inferiores e devem ser exterminados?

O lesbo-femismo é uma das vertentes do femismo.

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Mário
diga-nos qual é a sua opinião sobre o assunto?

Erzulie disse...

Permitam-me discordar: a nossa sociedade patriarcal não é nme nunca foi machista. Ela é antes de tudo, sexista. Eu gostaria que comentassem esse link ; http://odeiohomens.tumblr.com/

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Erzulie Medusa Byron:
Sobre Machismo e Sexismo:

não existem discordâncias... o ódio as mulheres é inerente ao patriarcado, sendo o machismo "apenas" a ideologia de suporte.

Sobre o link:
A própria apresentação do Blog o define melhor que o faríamos, o texto inclusive o finaliza como uma autoconsciência ou "alerta", mas dentro de nossa perspectiva, a transversalidade feminismo+antihomofobia+antiracismo+luta de classe é a única capaz de explicar a necessidade de uma insurreição revolucionária, para que os motivos sejam justificáveis e a vitória possível, inclusive porque existem mulheres brancas racistas tanto quanto homens sexistas, e ambos são inimigos de qualquer feminista revolucionária!

Saudações!

Joane Farias Nogueira disse...

AUTOR(ES),LEIA(M) O TEXTO, POR FAVOR.
Por favor,eu sei que o texto é longo, mas tome um tempo e me responda. Eu preciso saber se estou tão errada assim. Preciso de uma luz de feministas mais antigas,mais experientes. Eu estava discutindo com meninas por causa de um garoto que fez uma pergunta inconveniente, mas que se desculpou por isso e disse que não queria dar uma de macho alfa que sabe mais do que todo mundo. A pergunta:"O nome feminismo não daria margem a mal entendidos? Não faria confundir com machismo?" Esse tipo de pergunta só é feita por pessoas que querem deslegitimizar o movimento, mas dei o crédito a ele quando ele disse que não era intenção dele. Eu levei na boa, me desarmei e parei de trolar o cara. Questionei por que as meninas ainda tavam lá trolando o sujeito.

Parecia que era só por ele ser homem. Disseram que ele não entende de feminismo, porque é homem.

A) mandaram ele calar a boca e escutar, se quisesse aprender sobre feminismo (acho isso muito arrogante);B)disseram que ele deveria perguntar a uma feminista de fora do grupo ou pesquisar na wikipedia antes de falar qualquer coisa; C)mas hostilizaram o cara quando ele perguntou algo para elas. Essa sequência é meio louca na minha cabeça, como posso aprender calado e sem perguntar nada algo sobre alguém que me hostiliza?
Elas disseram que tavam pouco se fod*ndo para o cara só por que ele ficou triste com o tratamento grosseiro e hostilizaram o cara mais ainda por ele falar isso.


Disseram que ele que não esperasse ser tratado como humano ou com gentileza,porque elas eram tratadas feito sub-humanas e quem era ele para reclamar? Escreveram isso num post onde ele pedia desculpas pela pergunta. Aceito que nem todo mundo é obrigado a dar crédito a ele, mas para que ficar humilhando o cara a troco de nada? Eu disse que era sexismo maltratar um homem só por ele ser homem.Elas disseram que eu tava sendo desonesta, que era falsa simetria dizer que era sexismo delas.

Não consigo ver a atitude delas de outra forma. Entendo que trolls nos desgastam e a gente perde a paciência, mas mesmo depois de esclarecer que o cara não é inimigo, elas continuaram e legitimaram maltrato ao garoto com o maltrato que elas sofrem por serem mulheres e com o fato dele ser homem.

Unknown disse...

Joane Farias Nogueira É isso o que é Femismo. Boa parte das pessoas que se chamam feministas na verdade são femista e não querem um sociedade equalitaria, querem apenas trocar o patriarcado por uma sociedade matriarcal. Acham que os homens são todos monstros e agora querem vingança. São essas mulheres que deslegitimam o movimento feminista. Ja cheguei a ver uma mulher dizer que homens não podem ser feministas pois são homens. Se ele é a favor das ideias então ele é um pró-feminista. E eu que achava que feminismo era defesa dos direitos iguais entre as pessoas independente do sexo.
Dizer que o Femismo não existe é apenas reforçar a perpetuação do sexismo.