7 de ago. de 2009

O MITO DA INFÂNCIA FELIZ

 texto abaixo é uma produção surgida a partir do estudo do livro Dialética do Sexo

Não existe nada mais bonitinho, indefeso e inofensivo do que uma frágil criancinha com um sorriso no rosto, certo? Errado. Para os homens, não há nada mais bonitinho e indefeso que uma "mulher frágil" com um sorriso no rosto. As mulheres são como crianças do machismo. E as crianças são "as mulheres" das mulheres.
Agora imaginem uma imagem revolucionária de um exército de crianças Marchando Armadas, com sede de sangue nos olhos e com dedos nervosos para puxar o gatilho no primeiro adulto que lhes tentar impor suas vontades, sob forma de violência física ou psicológica. Bang! Graças aos preconceitos de classe e raça só lhes parece Possível conceber garot@s com tal imagem, pobres e negros, loucos de drogas e dispostos a violentar "pessoas de bem" na rua por puro sadismo? É ... eis que o filme Cidade de Deus já fez sua parte. Não existe nada mais ameaçador do que um sorriso satisfeito no rosto de uma criança.
Infantis - sem voz e vez

Assim como a visão que conhecemos de "Igualdade de gêneros/origem" tem na Revolução Francesa, uma concepção da criança como sujeito de especiais "Necessidades", na prática, é posterior a Revolução Industrial. Antes e durante a fase inicial das máquinas, as crianças eram vistas como pequenos adultos, com a mesma Obrigação referente ao desenvolvimento do trabalho que um homem ou mulher adulto (pobre principalmente), e sem o isolamento participavam assim de "todos" os Aspectos da vida adulta. Com os Princípios "humanistas da revolução iluminista", a infância foi Caracterizada como uma fase de inaptidão e Preparação para o desenvolvimento do sujeito adulto de direitos (ao menos na teoria).
Sob o Julgo dos Interesses dos adultos do capital, e em nome de uma Igualdade abstrata, o conceito e os direitos da criança fundamentam-se na idéia política dos "infans", mas escondem o interesse problemático da preparação passiva e robotizada para o mercado de trabalho , ou seja, venda da mão-de-obra submissa. A própria etimologia da palavra infância revela uma similaridade com impar uma condição feminina dentro patriarcado, pois é por si só carregada de preconceitos que refletem uma condição real destas pessoas dentro de nossa sociedade. "Infância" deriva do termo "Infante", do latim "infans", que significa Incapaz "de falar", o que é o "sem voz e sem fala".
Eis uma condição que nós mulheres conhecemos muito bem ao permanecermos isoladas, por muito tempo, em vosso "Lar Doce Lar". Durante séculos, fomos proibidas de estudar e escrever nossas Próprias histórias. Um dos principais livros sobre o que é ser uma mulher nobre no séc. XVI chama-se "A mulher perfeita casada" de Frei Luís de Leon, que diz o seguinte em sua página de abertura:
"(...) Se enganam muitas mulheres que pensam que casar-se não é mais que deixar a casa do Pai, indo para casa do marido; sair da servidão para a liberdade ea felicidade. E que pensam ainda, parindo um filho de tanto em tanto e jogando-o nos braços de uma ama, são mulheres plenas, quando na verdade são obrigadas uma coisas muito diferentes pela condição de seu estado. "
A relação entre "ser mulher" e "ser criança" vai além do cordão umbilical, porém a diferença básica é que Devido a uma vagina, as mulheres são condicionadas a uma imutabilidade infantil, enquanto a infância É uma fase de transição Capaz de transformar pessoas em homens ou mulheres. Ou seja, é uma fase de adequação e preparação para os papéis sociais do machismo. Enquanto criança, o silêncio de sua história se perdura pela Inacessibilidade de sua condição frente aos adultos e, para as mulheres, o mesmo Ocorre pela submissão à condição que nos é / foi imposta pelos homens. Como podemos observar nenhum trecho da obra de Natalie Rogers, em que ela narra uma sensação de conviver ainda menina não proibido mundo masculino:
"Eu ficava orgulhosa de ser uma boa tripulante: sabia como Manter em ordem o barco de acordo com as Exigências dos Capitães. Como tripulante eu estava agradando aos homens de minha vida, recebendo seus louvores ao fazer o que esperavam de mim. Era empolgante participar de suas ações. Eu não tinha que comandar o barco - gostava da sensação de ser Poupada total da responsabilidade, embora tomando parte da animação. Eu costumava pensar: "Pena mamãe não Esteja aqui participando da aventura (...)."
Contudo, as coisas podem mudar.
O treinamento infantil
"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher" Esta é uma máxima de Simone de Beauvoir, e se encontra presente já na primeira frase do capitulo sobre a Infância, do livro O segundo sexo. E ela continua desmistificando a idéia de que homens e mulheres Possuem naturezas distintas, ou seja, é com construção/Criação (social) Dada as mulheres e aos homens que determina o tipo de comportamento de ambos:
"Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define uma forma que a fêmea humana assume nenhuma seio da sociedade, é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho eo castrado que qualificam de feminino".
Assim é Possível compreender que as diferenças dadas no tratamento de meninos e meninas, já em sua primeira infância é o responsável por grande parte da psicologia comportamental dos sexos e do entendimento das relações sexuais de poder. Pois quando ainda somos dadas como demais "jovens", em dias de "festas infantis", ou seja, exposição pública, usamos vestidos brancos e rosados e cheios de babado, ao cairmos ao chão logo um adulto corre para nos socorrer. Limpar as marcas de nossas pernas em terra, puxar o vestido para os limites do joelho, Dependendo da "proteção", nos colocar no colo para doces afagos. Assim, as mulheres aprendem que lágrimas são sinônimos de atenção e carinho. Para calar os meninos das lágrimas diziamos que homens não podiam chorar. Como qualquer atitude de cavalheirismo (Ação masculina de proteção e cuidado na frente de outras pessoas), quando crescemos o carinho aumenta em situações similares, mesmo a Queda menor tenha sido.
Na verdade o que assusta a criança é não verdadeiramente a queda mas o modo abrupto que os adultos se movimentam em sua direção. Porém, quando estamos em casa sem estranhos observando, não há nada de cavalheirismo infantil, apenas uma "preocupada" e sutil recomendação (ordem) de pretensa autoridade materna: "Cuidado para não sujar o vestido". Enquanto isso, os vestidos de festa se apresentam como armaduras estrategicamente preparadas para que nossos movimentos Sejam limitados. E REPRESENTAM a Limitação da liberdade feminina, pois, em contra partida, os meninos usam shorts folgados. Seus joelhos ficam expostos para Serem ralados pelas quedas da vida. Eles tem uma permissão de correr de um lado para o outro, nós não.
Os meninos, desde muito cedo, aprendem que não haverá mal algum se ele abaixar as calças e fizer um Xixizinho em público, já que seu pênis, ainda bonitinho, de tão pequenino e inofensivo, diferente da "ameaçadora vagina infantil" é um trófeu a ser exposto para o mundo pois o concede a chave para a dominação. A medida que a idade aumenta, diminui-se a "preocupação com as meninas muda" e os perigos se tornam outros.
Assim é que as coisas começam de macho, após mijarem em pé, os meninos puxam as calças e os cabelos das meninas, sem derrubarem "Nossa tiara de Princesa Prometida". E uma menina PODERÁ até reclamar de tal Desvantagem para Receber troca em uma proteção feliz: "Não bata na sua irmãzinha, Joãozinho não esta vendo que ela é mais fraquinha?".
Mas sobre os olhares de outros adultos, este Exercício NÃO PODE SER constante, evitando a chatice da manha que é o escândalo de uma criança, outra frase pode surgir, Dependendo da quantidade de pessoas ao redor ou se os adultos estiverem fazendo algo e serio " IMPORTANTE: "Xiiiiii, fica quietinha meu amor, você está tão bonitinha, se não vai chorar Parecer uma mocinha bem comportada".
O reflexo desta diferenciação educacional entre as meninas e os meninos aparece no espelho do futuro, na espera por um protetor que nos ame e defenda dos perigos do mundo. É o Complexo de Cinderela que associa incapacidade nascida da super proteção uma falsa fragilidade e das mulheres, associa o amor, a uma proteção incondicional tutela (). É o mito da infância feliz que alimenta o monstro da dependência afetiva das mulheres da incompreensão e rude masculina emocional.
O feminismo e uma libertação das crianças

Não existem ilusões. Em nome do mito do amor romântico, que nós mulheres "aprendemos desde a infância", nos submetemos às vontades masculinas como promessa de segura e de um futuro feliz. Entretanto, muitas vezes, ao cairmos nesta ilusão, cometemos pequenos erros e atrocidades por pura insegurança e Em nome de outro mito do amor incondicional: "o amor materno".
No decorrer do desenvolvimento da  Instituição da família nuclear surge o mito do amor materno, este não é um instinto animal, é uma construção social que escraviza a mulher uma condição de reprodutora e feitora dos valores machistas desta sociedade. A educação que conhecemos hoje é Baseada no controle social e qualquer argumento diferente deste, é uma mentira semelhante a que os homens impõem as mulheres. Podemos dizer que qualquer mulher que acredite ser inaceitável a concepção de que as crianças possam ser criadas livres de seu controle, é uma fêmea da espécie absorvida por concepções masculinas. É um homem em "potencial". Ou seria "mais correto" dizer que tal mulher é uma marionete do machismo?
A infância é por si só, um período de "impotência natural" designada pelos adultos, assim como a feminilidade é a "fragilidade natural" do ser humano Determinada pelos homens.
Na esperança de encontrar a felicidade perdida de nossa própria vida, impomos as crianças uma ditadura da felicidade ingênua. Mas que felicidade é esta? Uma dependencia de proteção para se obter a felicidade? Com certeza tal felicidade não é que prepara para a liberdade, já que a liberdade Pressupõe poder de escolha e independência. E porque impomos esta "Felicidade" para as crianças?
Quando pensamos na infância, pensamos em ingenuidade e felicidade, e é "quase pecado" pensar o contrário. Entretanto a felicidade ingenua é uma falsa felicidade. Seu objetivo real é criar pessoas indefesas e dependentes. É a continuação do mito da passividade, traduzida na imagem da "infância feliz Livre". Será mesmo que as crianças são livres? E se foram "felizes" isso as tornará pessoas adultas, sãs e independentes, como dizem as "cartilhas da família estruturada"?
Se pensássemos na vida que tivemos na infância, Poderíamos lembrar que só houve liberdade plena quando estávamos juntos a outras crianças e distantes do controle dos adultos. O professor lhe deixava em plena liberdade? Seu patrão lhe Permite total liberdade de voz? Ao privarmos as crianças de suas vontades, confirmamos sua condição de criança ". É o controle social da infância e a infância é o mais cruel sinônimo da impotência, travestida pela imagem da beleza angelical. A dependência infantil é uma condição bem útil para uma dominação social. Em seus diversos e níveis diferentes de poder e Convívio. Se pudermos corrigir tal privação, não lançaremos mais tanta preocupação sobre a vida das crianças. Contudo, nosso medo da morte, da impossibilidade, depois de uma vida burocrática e insípida, se Reflete na Necessidade de Gerar Filhos e supor que nossos sonhos e infelicidades puedem ser superados com a vida que iremos preparar a seguir. Fingimos saber Quais são os atalhos, mesmo tendo vivido uma vida medíocre. Quando Tentamos guia-las pela "Calçada dos tijolos amarelos", provamos nossa incapacidade de reconstruir o futuro sem Reproduzir uma tutela masculina imposta às mulheres.
Por tais motivos, furamos os olhos das crianças com o protecionismo do mito do amor materno. O machismo nos deu as crianças em sacrifício para completarmos o vazio que foi nossa limitada vida e ilegítima. Assim, precisamos cegá-las, como fazem diariamente conosco. Cegá-las com a luz de uma felicidade que não existe. Essa é a verdade sobre o que é "A Beleza da Infância", uma idéia da beleza inofensiva e indefesa que nos é proposta como uma promessa de felicidade, de uma falsa felicidade. A falsa felicidade de uma criança é uma verdadeira felicidade de um adulto, assim como uma falsa felicidade de uma mulher é a verdadeira felicidade dos homens. Porém quando estamos Conscientes de nossa verdadeira condição, uma luta pelo fim da opressão se torna um objetivo individual e diário. Isoladas, seremos induzidas a Reproduzir um conjunto de condicionamentos como a maternidade, mas é preciso avançar.
Quando decidimos Enfrentar nossos opressores, temos que parar para pensar se estamos contribuindo para oprimir o outro. Falamos outro "aquele" que ainda não teve o direito de escrever sobre sua própria exploração. E por tal condição, acabamos por falar de nós mesmas! Se não estamos falando dos homens, e pelo simples motivo de que os homens Devem se conscientizar de suas Próprias e opressões, então, estaremos prontas para contribuir como Feministas. Caso os mesmos Estejam dispostos a romper com as correntes do machismo! Eis o que seria a desejada "revolução pacífica" que sonham as humanistas mulheres. Mas antes de pensar em tal, nos resta o enfrentamento direto, como única alternativa atuante contra a opressão.
Quando nos calamos sobre uma condição submissa em que as crianças se encontram é por conveniência. É por fazermos muito com elas Do que os homens fazem conosco. E desta maneira, estaremos contribuindo na manutenção da alienação que teríamos que lutar contra. Se nos calarmos, estaremos Reforçando o projeto masculino de dominação. Ou seja, além de Manter a ordem do sistema econômico que determina sobre os seres humanos como hierarquias de poder, estaremos criando pessoas (crianças) dependentes ao invés de autónomas. Estaremos comprando brinquedos e roupas sexistas, assim como os homens fazem / faziam dando Eletrodomésticos e languerie a nossas mães e avós. E como dizem as "Super nanys": "se não mantivermos as crianças sobre controle, estes pequenos terroristas acabam dominando Nossa Casa" (roubando o nosso micro-espaço de poder). Mas como disse a Firestone:

"Sabemos onde estão as crianças, o que estão passando, porque nós, também, ainda estamos sofrendo os mesmos tipos de opressões. A mãe que quer matar o filho, por causa do que teve que sacrificar por ele (comum um desejo), só aprende a amar essa criança, quando compreende que é tão desprotegida e oprimida quanto ela, e pelo opressor mesmo. Então, seu ódio se dirige para fora, e nasce o "amor materno". (...) Ainda não existem crianças Capazes de escrever livros seus Próprios, de contar suas historias Próprias. Nós temos que, uma ultima vez, elas fazer por isso. "

Nós maçãs podres sabemos que uma possibilidade real de insurreição feminista, em nada condiz com o mito da fragilidade feminina imposta pelos homens. Por isso é Necessário derrubar os mitos da essência feminina e amor romântico e junto com eles os mitos da infância. Se nossa opressão é traduzida pelos machos da mídia como baixa-estima é porque eles se assustam com a impossibilidade de nossa completa autonomia.
A possibilidade de nossa felicidade não está reduzida na "auto busca da beleza", da completude "materna" ou do "amor". Só com uma superação dos papéis que impossibilitam o desenvolvimento pleno de nossas capacidades humanas e a divisão das riquezas de modo paritário é que produziremos o conhecimentos capaz de Gerar uma nova humanidade autônoma e livre de tutela repressoras. Citando Firestone:
"Devemos protestar, não pelo fato de as exploradas Serem Crianças como os adultos, mas pelo fato de que os adultos Sejam estupros desse jeito. Precisamos começar a falar, não em poupar crianças, durante alguns anos, dos horrores da vida adulta, mas esses horrores em eliminar ".

A idéia de que as crianças não são objetos inofensivos Indefesos e, tem que entrar em nossa cabeça com muito mais força do que qualquer outra concepção de sobre a infância, para que seja Possível uma prática feminista Capaz de revelar uma educação libertadora em todos os preconceitos , inclusive os da maternidade preconceitos. Pois imaginem que as crianças não aceitam sem resistência a nossa criação sobre elas. Antes da acomodação, como crianças resistem o quanto también como Germaine Greer escreveu:

"Não estaria fazendo justiça as meninas se pretendesse que elas aceitam uma luta sem toda sua aculturação. O peso da pressão materna Para Que Sejam como asseadas e meninas submissas encontra muitas vezes o mesmo grau de resistência. Uma menina em crescimento pode recusar-se a Manter limpo o quarto, em insistir pode se ocupar com assuntos de rapazes, mesmo ao ponto de se juntar um grupo um e seus lutar para Manter nele lugar, sendo duas vezes mais rude do que qualquer dos Meninos. Pode perder todos os enfeites e fitas de cabelo (...) e evidenciar este tipo de resistencia por anos a fio até qa puberdade difere o golpe esmagador e final ".

Ou paremos de Criar e tratar como crianças com o preconceito da incapacidade, ou o nocivo mito da dependência as corromperá. E estaremos agindo do mesmo modo dos homens que não aceitam na imagem das mulheres para além de delicadas donzelas. Se continuarmos agindo sem pensar sobre esta questão, nós não conseguiremos ir muito além em nossos objetivos de luta contra a opressão. O mito do amor materno e o mito da infância feliz são mentiras masculinas e burguesas, com as Quais as mulheres cuidadoras CRIAM outros escrav@s sem perceber. Por Princípios básicos, a liberdade das Crianças e por extensão uma libertação de todas as mulheres. Todas as práticas que os homens exercem sobre as mulheres, como Determinar a nossa roupa, julgar nossa Capacidade de pensar, o controle de nossa sexualidade, os adultos exercem sobre as crianças.
Em silencio, pergunta uma criança:
- Até quando terei que obedecer você?


O mito da infância feliz é uma mentira dos adultos que nós mulheres tantas vezes nos submetemos e por extensão fazemos o mesmo com as crianças. E enquanto tomamos "conta" das crianças, em nome dos machos adultos da espécie que assistindo futebol juntos, com suas cervejas e gargalhadas, Nos agradecem pela "colaboração".
Texto: Ana Clara Marques, Élida R. Pereira, Patrick Monteiro

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