25 de fev. de 2012

Os homens que não amam as mulheres – O estupro coletivo de Queimadas

Michele e Isabela, assassinadas
no estupro coletivo em Queimadas.
Era 12 de fevereiro, na pequena cidade de Queimadas, Campina Grande PB, uma festinha de aniversário ocorria. Lá as mulheres eram vendadas e amarradas para serem violentadas sexualmente e depois mortas, como se fossem velas que são apagadas na hora de cortar o bolo e dar os parabéns. O mais bárbaro e mais horrível é saber que todos os homens, inclusive o dono da festa, sabiam do acontecimento que terminaria na morte de Michele e Isabela. Mas como veremos este não é um fato isolado, não é algo que acontece no interior das cidades grandes e nem somente no Brasil, não esta restrito a uma ação de psicopatas, criminosos ou traficantes, mas em todas as classes sociais e idades, por ser fruto da mentalidade masculina sobre o sexo.

O ponto de vista masculino sobre o assunto

Certa vez escrevemos que os homens são cúmplices de um mesmo crime. Isso nos parece ter mais significado ainda após analisamos o caso de Estupro Coletivo em Queimadas. Para nossa sorte dentro do nosso grupo existem homens capazes de fazer uma reflexão sobre a sexualidade masculina, com a honestidade necessária a ótica feminista. Em primeiro lugar, o questionamos por que na cabeça dos homens barbaridades com está ocorrem? E a resposta foi:
Cena do filme: American Pie 6
O sonho da orgia ou do `bundalelé’ é um sentimento comum na vida da grande maioria dos homens. Praticamente em todo grupo de rapazes, houve ao menos um momento que estes imaginaram planejar uma `festinha’, com o objetivo de embriagar mulheres, para que ‘todos’ façam `sexo’. Histórias de ‘orgias’ são contadas por homens mais velhos como uma consagração de sua superioridade frente aos adolescentes, quase como um ritual de passagem para a vida adulta. Ao planejarmos esta coisas, nós homens criamos um `sentimento’ de identificação uns com os outros, igual aos filmes de comédia que passam até na sessão da tarde.”
Em segundo lugar, perguntamos de que modo os homens pensam nas mulheres ao imaginarem “festas” como estas, em que nós mulheres seremos enganadas para a obtenção de “sexo coletivo sem consentimento”? E a resposta foi:
Quando imaginamos, pensamos ou conversamos sobre tais `festinhas’, as mulheres nunca entram em consideração. Não aparecem falas sobre “se as mulheres sentiriam dor, asco, prazer ou qualquer outra coisa”, o foco é tão somente a nossa `diversão’ (que mascara a violência). Isso ocorre porque pensamos que as mulheres que vão participar já conhecidas nossas, tipo ‘elas nem se importam com isso’. Mas pensando bem, puxando pela memória, o sexo imaginado no ato, se parece mais com o dos filmes pornográficos, normalmente violentos, do que com o amor romântico e adolescente apresentado nas ‘festas universitárias’ dos filmes de comédia. Agora me parece que nós sentimos um certo ódio destas mulheres que não possuímos, caso contrario nós pensaríamos também nelas.”
A conclusão das respostas destas duas perguntas é que, em primeiro lugar, os homens possuem ódio das mulheres que eles não possuem. Segundo, nos estupros coletivos, existe um fetiche ligado, de alguma maneira, a guerras ou rituais de passagem para o mundo masculino adulto. Terceiro, há entre os homens um sentimento  passado geracionalmente que os faz buscar identificação quando o assunto envolve violência contra as mulheres, como se ao participar/imaginar atos como estes, eles pudessem se manter unidos em torno de um mesmo valor, um segredo que, se revelado, verdadeiramente desmascararia todas as mentiras do machismo, como o cavalheirismo, o amor romântico, o bom moço.
É importante ressaltar que existe uma grande diferença entre o pensar e o fazer, todavia sabemos que é bom todas as mulheres estarem cientes na cama, sentadas ao lado, no ponto do ônibus ou no cinema que provavelmente aquele homem, namorado, amigo, pai, filho ou irmão dela, já deve ter pensado ou conversado com outros homens sobre este fato, sem nunca classificá-lo como ESTUPRO, cultivando-o como simples orgia, bundalelé ou “diversão”.
Como ocorrem os Estupros Coletivos?
O estupro coletivo, em grande maioria, é muito bem planejado. Seja na China, seja nos EUA, no México ou em qualquer parte do mundo, este crime tem várias semelhanças: o fato dos agressores serem homens, assim como na violência doméstica, muitos dos agressores são conhecidos das vitimas e também que nestes países as mulheres são consideradas inferiores, putas ou santas, mercadoria, sem voz, sem poder.  Geralmente as vitimas são enganadas sendo convidadas para uma festa, para assistir televisão, para fazer um trabalho de escola ou para jogar vídeo game e etc. Os homens criam um teatro para fazer com que as mulheres acreditem que estão em um lugar seguro e prazeroso. E a bebida serve para “tirar um pouco da timidez”. Mas se este é um crime que acontece em todos os lugares, é porque todas as mulheres em algum momento de sua vida já foram assediadas, seja num bar, na rua, na igreja ou até num velório, com um agarrão no braço, um chamar de gostosa, um aliciamento considerado banal, porém cheio de significados violentos, pois o que explica tantas pessoas acharem que a culpa disso tudo é das próprias mulheres?
Concurso de Beleza  
O capuz é para impedir que os julgadores
não se influenciem pelo rosto.
Inglaterra. Ano: 1956
É mais fácil e confortável achar culpadas para um fato do que analisar todo um sistema de violência que se esconde por trás da desigualdade de gênero.  A sociedade patriarcal culpa as mulheres desde seu nascimento. Os homens nos culpabilizam quando estamos de acordo com as regras e quando fugimos delas. Por termos ousado participar da ciência, fomos queimadas pela igreja. Quando lutarmos por direitos e participação no mundo público, fomos torturadas, presas, queimadas e mortas dentro das fábricas. Quando falamos disso, os homens são os primeiros a dizer que tais acontecimentos fazem parte do passado. Mas o que vemos ainda hoje é que quando uma mulher é espancada e estuprada, as primeiras perguntas que se fazem são: “que roupas usavam?”- “porque estava no local?” – “porque ingeriu bebida?” Por mais que tenham ocorrido mudanças, fica óbvio que os homens nunca pensam nas mulheres. Pior é quando estas questões partem das próprias instituições. Isso quer dizer que este discurso é verbalizado através das representações legais e que o Estado continua contra as mulheres. Ou seja, a base para a continuidade e a perpetuação do estupro está no patriarcado. É através deste sistema que ele se perpetua. O abuso sexual, o estupro e as violências que nós mulheres sofremos cotidianamente são tão cruéis e antigos quanto às mulheres que eram queimadas em praça publica pela Inquisição.
Além do próprio sistema sexual de classes que garante a manutenção desta violência sexual, vemos que o que mais tem contribuído para criar seres humanos totalmente alienados ao estupro são os meios midiáticos. Ao pesquisarmos o estupro coletivo nos deparamos com uma série de atos dessa natureza pelo mundo todo, e como as pessoas reagem frente a isso. No final desta matéria deixamos disponíveis todos os casos que encontramos em algumas horas de pesquisas, apenas para mostrar a banalização desta prática que finalmente tomou a devida repercussão na mídia, porem não havendo debate e reflexão necessária.

A lógica da mídia sobre a banalização do estupro

Nos comerciais de TV, nas novelas e até nos desenhos animados mostram como é “mais fácil” se conseguir sexo quando há bebida na jogada.  

 Na novela “Aquele Beijo” há uma personagem adolescente e virginal chamada de Belezinha.
Ela perde a virgindade, com seu namorado Agenor, quando esta se encontra completamente vulnerável e bêbada, algo planejado por ele e bem típico de Miguel Fallabela (misógino como é). O fato em si é preocupante, pois nenhum debate sobre o tema é levantado, naturalizando assim a ação, ou seja, isso foi mostrado como se fosse algo super normal e até desejado pela garota, já que ela se casa com o rapaz que promoveu o estupro. Assista a cena em que os personagens falam sobre o estupro, está a partir de 3 minutos e 10 segundos.
Em “Insensato Coração”, novela escrita por homens e dirigida por Denis Carvalho (acusado de fazer o teste do sofá), existia uma personagem romântica chamada Cecília, também virginal, que foi embebedada por Vinicius, seu namorado, e tem a noite do seu “primeiro estupro”. Como o “destino” dela era com outro homem, a história se repetiu sem feliz penalidade, mas com a mesma banalização. Mas aqui, até então, ainda estávamos no nível da ficção.
No famoso “Big Brother Brasil”, tod@s assistimos um homem ‘assediando’ uma mulher totalmente desacordada, embaixo de um endredom. O fechamento deste fato foi o mais horrível possível, já que, ao que parece, a Rede Globo conseguiu colocar panos quentes, e a mídia em geral formou uma espiral do silêncio em torno do caso, que hoje parece nunca ter acontecido.
Todavia existe um exemplo que impressiona quando descobertas suas “raízes artísticas”: o quadro de Valeria e Janete, do programa “Zorra Total”.

Zorra Total, a mídia ao Estupro Coletivo é mundial
Há tempos vem se debatendo na internet e no movimento feminista o quanto o quadro do Zorra Total da Rede Globo de TV é prejudicial as mulheres e o quanto este quadro estimularia a violência sexual em espaços coletivos, mas o que poucas sabem é que tal quadro é apenas uma suavização de um fenômeno pornográfico extremamente popular no Japão e outros países: os vídeos pornôs de estupro coletivo.
Meses atrás, pensávamos em fazer uma nova pesquisa sobre pornografia e nos deparamos com algo chocante, um vídeo extremamente realista de um ataque coletivo sofrido por uma garota japonesa dentro de um metrô. Vestida com roupas de colegial, a garota era violentada por vários homens e as imagens do abuso tinham o rosto dos homens distorcidos, assim como também estavam as partes genitais da vítima e dos agressores, a moça não fingia prazer, pelo contrário, ela expressava no rosto muita dor e nojo com o fato. Numa rápida pesquisa, descobrimos que o vídeo “não era real”, mas um tipo de produção pornô que faz muito sucesso no Japão por dois motivos:
1-       Dada a grande população do país, os trens circulam super lotados em horários de trabalho, facilitando uma prática muito comum em ônibus, metrôs e trens do Brasil, o abuso sexual em espaços coletivos. Lá os abusadores receberam o nome de Chikan.
2-       Os vídeos primam por buscar um realismo incomum em vídeos pornográficos mais estilizados, muitas vezes deixando duvidas se o fato aconteceu ou não.
Não sabemos se antes ou depois do sucesso no Japão, esta tendência de filmagem pornográfica se espalhou pela Europa e também teve repercussão nos EUA, chamada de frotteur. Apesar do nome mais pomposo, no final das contas a mensagem e o estilo são os mesmos dos japoneses, só que agora os estupros coletivos com jovens mulheres loiras, ao invés de orientais.
O fato é que quem criou o quadro do programa Zorra Total, não tirou sua concepção do nada, a ideia surgiu do sucesso que esta ocorrendo na indústria pornográfica que traz um realismo documental da violência. Agora as mulheres nem precisam fingir orgasmo, os filmes mostram o sexo que os homens querem ver, brutal, forçado e capaz de ser realizado sem nenhuma ética ou humanidade. Ou seja, o sucesso deste quadro já era previsto, pois na mentalidade coletiva dos homens a ideia do estupro é algo mais comum do que podíamos imaginar, a diferença é que como quadro da TV é uma comédia, é preciso mascarar um pouco o fato e se trabalhar com outro conceito machista presente na mentalidade masculina, o de que depois de iniciada a violência as mulheres passam a gostar e cedem ao violentador.
Agora o que este fato tem haver com o ocorrido em Queimadas? Tudo, pois os estupradores de Queimadas partiram de um mesmo pressuposto básico para cometer o crime, mesmo que o modus operandi tenha sido outro, é a lógica que o programa de TV banalizou, assim como ocorre nos assédios dos meios de transporte coletivos, o de que a população da cidade “assistiria” o fato sem levantar sua voz, sem denunciar os agressores e que ao final as mulheres cederiam aos estupradores.
A naturalização do Estupro Coletivo é o silêncio popular sobre os fatos do machismo
Apesar do explicito ódio aos estupradores, é com uma total apatia, esquecimento e, inclusive, castigo moral que a sociedade normalmente trata as mulheres violentadas por estupro. Vimos também que o estupro é muito mais comum nas novelas do que imaginávamos, sabíamos o quanto que estas abordagens são para manter toda esta estrutura e naturalizar a violência, mas a repercussão da barbárie de Queimadas é só o caso que a mídia elegeu para divulgar neste momento.
Achando culpados individuais, a mídia machista esconde os motivos que fazem os homens de todas as classes sociais, por mais jovens que sejam, como o caso acusado ao rico filho do dono de uma filial da Rede Globo, a reproduzir estes atos. E inclusive estimularem a prática pela internet.
Enquanto feministas nosso papel é desmantelar os dispositivos que fazem parecer que estupros coletivos são uma exceção, e não uma regra, é mostrar o que é a verdade por de trás deste tipo de abordagem, é querer formar e educar nossas mentes a fim de que sejamos capazes de conceber mulheres como  a personagem Lisbeth Salander, pois se diferente do machismo, o feminismo nunca matou ninguém, já deveríamos reagir a este tipo de situação com o máximo de inteligência e ódio consciente possíveis, pois qualquer uma de nós pode ser a próxima vítima, de uma violência muito bem planejada e estimulada pelos meios de comunicação. Abaixo vai um resumo dos casos que possibilitaram esta análise:


Data: 20/07/11 - Prenderam na madrugada deste sábado, três homens acusados de prática de estupro coletivo de vulnerável. Romildo Domingos da Silva (21), Mário Jorge Domingos da Silva (23) e Luciano Batista dos Santos (25) foram presos após o crime que ocorreu durante uma festa no Sítio Romeiro, em Coruripe, Alagoas. http://www.pm.al.gov.br/intra/index.php?option=com_content&view=article&id=290:11o-bpm-prende-acusados-de-estupro-coletivo-em-coruripe&catid=5:policial&Itemid=78 

Data: 22/10/11 - O comerciante T.S.B, 43, morador do bairro Santa Rosa, em Cuiabá, local onde teria ocorrido um estupro coletivo de 10 homens contra uma garota de programa. A vítima diz que precisou pular o muro e para fugir depois de ser violentada durante 3 horas. http://www.gazetadigital.com.br/pdf/m10a11/g2206l-b.pdf 

Data: 03/11/11 - Era o tradicional dia de Porto Rico, onde os imigrantes daquele país fazem uma das maiores festas de Nova York no Central Park. Mais de um milhão de pessoas estavam nas ruas, quando cerca de 50 a 100 rapazes passaram a molhar as moças e, ato contínuo de despir as vítimas. Casais foram separados, mães viram suas filhas serem desnudadas, bolinadas e roubadas sem piedade. E o pior, a polícia demorou quase três horas para entrar em ação. http://www.istoe.com.br/reportagens/37228_ESTUPRO+COLETIVO 

 Data: 03/11/11 - Em Ipatinga MG, uma garota de 17 anos é estuprada por sete, ao mesmo tempo, no Bairro Esperança. Os indivíduos a fizeram ingerir bebida alcoólica e remédios psicotrópicos. Segundo o médico de plantão, a vítima teria ingerido grande quantidade de álcool e substâncias psicotrópicas e poderia ter morrido se não socorrida logo após o estupro coletivo. Os quatro adolescentes envolvidos confirmaram o estupro coletivo. Eles foram detidos, mas já se encontram em liberdade. http://www.plox.com.br/caderno/policia/garota-17-anos-e-estuprada-por-sete-ao-mesmo-tempo-esperanca
 Data: 24/01/11 - Em Porto Velho, Rondônia, um homem de 60 anos, estuprou e manteve em cárcere privado uma adolescente de 14 anos. José das Graças Correia Maciel foi preso em flagrante. Além de violentar e matê-la presa, o mesmo oferecia a menina para os caminhoneiros em troca de cigarros. http://www.rondoniagora.com/noticias/menor-diz-que-estava-sendo-mantida-refem-de-anciao-ha-um-mes-e-era-estuprada-por-varios-homens-2011-09-24.htm
Data: 26/08/11 - A Polícia Federal (PF) ouviu, nesta sexta-feira (26), dois suspeitos de terem estuprado coletivamente uma adolescente de 14 anos, em Cascavel, no Oeste do estado. Um rapaz que teria testemunhado o crime também prestou depoimento às autoridades. O crime ocorreu no início do mês, quando quatro jovens abusaram sexualmente da garota. Outro envolvido gravou o estupro com um celular e postou as imagens na internet. http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1162698&tit=Suspeitos-de-participarem-de-estupro-coletivo-de-adolescente-sao-ouvidos
Data: 12/04/11 Em Barra Mansa no RJ, uma menor de 13 anos foi violentada por pelo menos dez homens na noite de ontem (11). Segundo as primeiras informações da Polícia Militar, o crime aconteceu por volta das 22h. A vítima foi atendida na Santa Casa de Misericórdia. http://www.band.com.br/barramansa/conteudo.asp?ID=479923
Data: 15/04/10 - Em Florianópolis SC, três jovens de classe média alta, estupraram uma garota de 13 anos em Florianópolis. O caso foi abafado por 40 dias, por uma questão de classe e gênero. A garota era ex-namorada de um dos adolescentes, foi encontra-lo em um shopping e levada para a casa de um segundo adolescente, parecia somente uma conversa entre amigos, até que eles oferecem vodka para a garota e ela apagou, a mesma não se lembrava de nada a partir deste fato. O estupro aconteceu com a jovem inconsciente. Um terceiro jovem pode ter participada do estupro. O garoto ainda divulgou fatos do estupro pela internet e ainda ameaçou uma outra adolescente, dizendoa que ela poderia também ser estuprada. http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4541181-EI5030,00-SC+delegado+entrega+inquerito+de+estupro+de+menina+de+anos.html 
Data: 29/10/09 - Três adolescentes estão sendo indiciados por agredir e estuprar uma menina de 15 anos em um escola no Estado americano da Califórnia. A menina teria sido estuprada por até dez jovens durante uma festa na escola Richmond High School. Além de abusada sexualmente, ela foi agredida e roubada. Alguns dos agressores tiraram fotos com telefone celular.  Segundo relatos, dezenas de pessoas testemunharam o estupro e não reagiram, o estupro coletivo aconteceu no final de semana passado, e não fizeram nada para ajudar a jovem. A policia só foi informada depois que uma mulher ouviu dois jovens comentarem, aos risos, o estupro.http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/10/091028_estupro_eua_dg.shtml
Data: 20/12/09 – Em São Gonçalo na Grande Natal, um grupo de quatro criminosos encapuzados entrou numa festa de confraternização de funcionários de uma rede de supermercados. Armados, os bandidos fizeram um arrastão contra os 14 funcionários que estavam no local e não contentes estupraram quatro mulheres antes de fugir. Os oito homens foram trancados em um dos quartos da granja e as mulheres em outro. Duas vítimas só foram poupadas da brutalidade dos assaltantes pois uma estava grávida e a outra menstruada. http://tribunadonorte.com.br/noticia/bandidos-encapuzados-assaltam-granja-e-estupram-mulheres-em-sao-goncalo/135494
Data: 15/09/09 - Em Marabá no Pará, um grupo de 10 homens violentou uma adolescente de 16 anos por toda uma noite. Os rapazes pediram para a jovem foi entregar uns CDs emprestados na casa de um deles, a vitima pediu água e eles deram água com sonífero. Logo em seguida a jovem começou a ser abusada sexualmente, a garota passou a noite neste local. http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-60571.html
Data: 29/11/07 - Em Abaetetuba no Pará, uma adolescente de 15 anos, que mede 1,50m e pesa 35 quilos, foi presa acusada de ter tentado furtar um celular. A garota que aparentava ser uma criança de 12 anos foi encarcerada pela delegada Flávia Pereira em uma cela com trinta homens adultos. Ela foi estuprada e torturada durante , dois dias depois a adolescente foi levada à presença da juíza Clarice de Andrade, a juíza contrariando as leis, devolveu à mesma a cela. Todos os dias a menina era estuprada de cinco a seis vezes por dia. Um dos presos disse que ela era uma menina que ela não poderia ficar ali. Os policiais então cortaram os cabelos lisos e negro à faca, e rente a cabeça. Como seu corpo tem poucas curvas, ela ficou parecida com um menino.http://veja.abril.com.br/281107/p_054.shtml
Também no Pará, tem mais casos de mulheres e meninas que foram presas em celas masculinas e estupradas coletivamente. No link ao lado: http://www.gazetadopovo.com.br/brasil/conteudo.phtml?id=717495
Data: 23/05/11 - Militares afirmam que teriam sido obrigados a violentar quatro mulheres em Misrata, diz 'BBC' - Acusações de que as forças do líder líbio Muamar Kadafi estariam promovendo "estupros coletivos" durante batalhas contra rebeldes foram confirmadas por dois soldados a um correspondente da BBC no país. Detidos em Misrata, no noroeste da Líbia, os militares afirmaram que teriam sido forçados a estuprar quatro mulheres e deram detalhes da suposta campanha de Kadafi na região. O número de mulheres pode ser bem maior. O estupro coletivo durou cerca de uma hora e meia e que, enquanto as garotas eram violentadas, os militares "ouviam música, dançavam e fumavam". http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,soldados-dizem-que-kadafi-ordenou-estupros-coletivos-na-libia,723006,0.htm

Paquistão 2002



GRIF MAÇÃS PODRES

8 comentários:

IGN-UP! disse...

"(...)já deveríamos reagir a este tipo de situação com o máximo de inteligência e ódio consciente possíveis(...)"

Colocação um tantao esranha,pois até onde me lembro,fui "condenada" por pregar que devemos exigir justiça e que muitos homens merecem ser odiados;que este discurso pacifista exagerado do feminismo não tem resolvido em nada os horrores violentos contra nós.Eles,em sua maioria,nos odeiam de todas as formas possíveis,por que insistimos nessa de "entender e educar"? O que temos ganhado em troca?Precisamos de mais prova para conprovarmos a façlta de empatia por parte de muitos?
Agora entendem o que eu estava tentando dizer?

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

A colocação foi proposital, e completamente coerente com os princípios iniciais do blog. Pois diferente do que vc sempre sempre verbaliza, o ódio de seus comentários, por si só, não significa nada, não propõe nada e não é capaz de superar o patriarcado. Propomos algo direcionado, planejado e feministicamente consciente, que nem mesmo signifique violência gratuita, mas buscar meios como o hackrativismo, exposição pública, copilação de provas e denúncia de pedófilos, estupradores e afins. Falamos de um feminismo consciente e transformador, que inclui ações muitas vezes pequenas, como as nossas, de escrever textos, pintar na rua, dar oficinas, palestras, participar de fóruns e desmascarar a mídia machista, inclusive estamos sempre abertas para refletir e publicar textos de feministas que tenham conhecimento de fatos dos quais não temos experiencia, por exemplo, tráfico de mulheres, pedofilia, exploração sexual de mulheres e crianças e etc. Agora você entende o que nós tentamos dizer?

Arttemia disse...

No sexto parágrafo, acho que não tem muito a ver com o ódio ás mulheres que eles nao possuem, e sim uma autoafirmação da masculinidade, onde mulheres são usadas para isso. Até porque, todo estupro é sobre o poder e homens estupram namoradas, esposas e etc. Andrea Dworkin tão combatida e detestada pelos mosóginos e sexistas, já denunciava em seus textos como a masculinidade é construída, Vejam:

"Toda dominação pessoal, psicológica, social e institucionalizada nessa terra pode ser remetida a uma mesma fonte original: as identidades fálicas dos homens."

"O sadismo sexual efetiva a identidade masculina. Mulheres são torturadas, chicoteadas, e acorrentadas; mulheres são amarradas e amordaçadas, marcadas e queimadas, cortadas com facas e fios; mulheres são urinadas e defecadas; agulhas em brasa são cravadas nos peitos, ossos são quebrados, retos são rasgados, bocas são devastadas, bocetas são brutalmente caceteadas por pênis após pênis, vibrador após vibrador — e tudo isto para estabelecer no macho um sentido viável de seu valor próprio."

Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)

O desejo de dominação é uma besta voraz. Nunca há corpos quentes suficientes para saciar sua fome monstruosa. Uma vez viva, essa besta cresce e cresce, se alimentando de toda vida ao seu redor, percorrendo a terra para encontrar novas fontes de nutrição. Essa besta vive em cada homem que refestela-se na servidão feminina.
Discurso pronunciado para a Organização Nacional para as Mulheres, Washington, DC, em 23 de agosto de 1975. "Our Blood: The Slavery of Women in Amerika", cap. 8, Our Blood (1976)

Arttemia disse...

E mais:
"O sadismo sexual efetiva a identidade masculina. Mulheres são torturadas, chicoteadas, e acorrentadas; mulheres são amarradas e amordaçadas, marcadas e queimadas, cortadas com facas e fios; mulheres são urinadas e defecadas; agulhas em brasa são cravadas nos peitos, ossos são quebrados, retos são rasgados, bocas são devastadas, bocetas são brutalmente caceteadas por pênis após pênis, vibrador após vibrador — e tudo isto para estabelecer no macho um sentido viável de seu valor próprio.
Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)

O conceito masculino utópico que é a premissa da pornografia é este — já que a masculinidade é estabelecida e confirmada contra os corpos brutalizados das mulheres, os homens não precisam agredir uns aos outros; em outras palavras, as mulheres absorvem a agressão masculina de modo que os homens fiquem a salvo disto.
Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)

Os rituais de sadismo masculino contra os corpos das mulheres são os meios pelos quais a agressão masculina é socializada de modo que um homem possa associar-se com outros homens sem o perigo iminente de agressão masculina contra sua própria pessoa. O projeto erótico comum de destruir mulheres torna possível aos homens se unirem em uma irmandade; este projeto é a única base firme e confiável para cooperação entre machos e todo laço masculino é baseado nisto.
Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)"

Arttemia disse...

E isso tb:
"
Nós pensamos que vivemos em uma sociedade heterossexual porque a maioria dos homens está fixada nas mulheres como objetos sexuais; mas, de fato, nós vivemos em uma sociedade homossexual porque todas as transações críveis de poder, autoridade, e autenticidade realizam-se entre homens; todas as transações baseadas em igualdade e individualidade realizam-se entre homens. Homens são reais; portanto, todo relacionamento real acontece entre homens; toda comunicação real acontece entre homens; toda reciprocidade real acontece entre homens; toda mutualidade real acontece entre homens.
Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)

A masculinidade só pode ser experimentada, alcançada, reconhecida, e personificada em oposição à feminilidade. Quando os homens colocam sexo, violência, e morte como verdades eróticas elementares, eles pretendem dizer isto — que sexo, ou foder, é o ato que os possibilita experimentarem sua própria realidade, ou identidade, ou masculinidade o mais concretamente; que violência, ou sadismo, é o meio pelo qual ele efetiva essa realidade, ou identidade, ou masculinidade; e que a morte, ou a negação, ou a inexistência, ou a contaminação pela fêmea é o que eles arriscam cada vez que penetram no que eles imaginam ser o vazio do buraco da fêmea.

Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)"

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Arttemia
Suas colocações são perfeitas, e sem anular ou diluí-las, vou explicar melhor o ponto, pra que seja possível se fazer uma dialética feminista, pois a Dworkin era mulher, logo o que eu revelei na reflexão é o ponto de vista do “outro”, do qual conheço melhor que a Dworkin pelo único motivo que ela não era, ser homem:

É verdade que os homens estupram companheiras, namoradas, esposas e afins, mas este não era o caso de Queimadas. Nem a Michele e Isabela eram companheiras deles. Assim, o caso deve ser analisado sob outro prisma, mesmo que o modus operandi, seja, e é, muito similar aos demais casos.

Não é nada incomum que em grupos de amigos, os homens demonstrem um certo ódio de mulheres que não possuem, lembro bem que em todos os grupos masculinos que passei, sempre havia um homem que, ao levar um fora de uma mulher, se referia a ela, dentro do grupo, com o uso termos pejorativos, principalmente referentes a sexualidade. Normalmente isso não ocorre quando estes possuem elos emocionais tradicionais com tais mulheres, pois se declarassem abertamente que elas são "p..as" isso em nada fortalece a masculinidade deles, ao contrário, os faz motivo de chacota.
Retornando a situação, as expressões do rosto, o tom de voz, o gestual das mãos ocorridos nestes momentos pós rejeição, em nada me fazem duvidar que exista um mínimo de ódio em cada declaração que presenciei. Alguém poderia dizer que é o principio da negação pós rejeição, etc., todavia concordo muito mais com a explicação da Dworkin.
Um homem misógino que encontra a rejeição sexual de uma mulher que não possui, não despertar nele nada menos de um ódio sexista, principalmente num caso como o de Queimadas, dado o tradicionalismo patriarcal, pois imagino minimamente como estes caras deviam se referir a Michele e Isabela, antes do fato ocorrido e durante as investidas rejeitadas.
Acredito que o sadismo sexual que desenvolveram, deve ter lhes dado muito prazer, mais o alimento deste prazer era o ódio específico que tinham por elas, muito mais que qualquer desejo sexual.
A violência, a monstruosidade e a brutalidade impetradas podem ser compreendidas se comparadas aos momentos que uma pessoa sente tamanha raiva que destrói um objeto caseiros como forma de reestabelecer seu controle emocional. Inclusive porque, como disse a Dworkin, numa sociedade patriarcal as mulheres são vistas como objeto sexual. E, me parece que estupra-las não seria suficiente pra eles, precisavam destruir o que os não pertencia, aquelas que lhes rejeitaram.

De qualquer modo, pode ser que esta minha tentativa de contribuição seja só um conhecimento empírico, interpretado erroneamente por mim. Mas obrigado por sua contribuição, pois graças a ela, acho que conseguirei aprofundar este entendimento, já que não existem tantas referencias sobre o tema, nascidos do ponto de vista masculino, mesmo que em âmbito feminista.

Saudações, Patrick Maçãs Podres.

Arttemia disse...

O que eu quis dizer ao citar Dworkin é que o mote tanto para o estupro de companheiras quanto do estupro coletivo é a misoginia, q sempre está permeando as relações entre homens e mulheres numa sociedade patriarcal. O fato dos homens n demonstrarem escancaradamente a misoginia contra as mulheres q consideram suas, não faz com que estejam isentos de odiá-las (ou desprezá-las). Já presenciei homens demonstrando ódio pelas suas mulheres, por exemplo, naqueles q estão envolvidos em relacionamentos longos, é comum se referirem às companheiras como 'patroa', 'jararaca', 'velha' e zombam da idade delas, do corpo delas e de namorados revelando as intimidades q tinham com as namoradas para os amigos, casos de homens q filmam as namoradas,ficantes e depois colocam na internet e etc.

Tudo isso é misoginia, porque só o ódio explica q homens tenham essas atitudes com mulheres com quem convivem e compartilham da intimidade. E me parece q fazem isso, pelos motivos que Dworkin escreveu: a fraternidade masculina q afirma e reafirma a masculinidade ás custas das mulheres. Enquanto se queixam das mulheres, riem delas, se fazem de vítimas por terem sido 'obrigados' ao relacionamento ou revelam suas intimidades, estão exercendo seu ódio e seu sentimento de superioridade, e costurando a sua camaradagem com a desvalorização do objeto-mulher.


A feminista Taslima Nasreen escreveu: "This is a man's world. Men want a few women as family, and rest of the women as sex-slaves. No woman is safe in man's world."

Como no patriarcado a misoginia e o sexismo assombram as relações de homens e mulheres o tempo todo, no estupro coletivo praticado ou desejado ou fantasiado pelos homens, o ódio é mais evidente, ao invés de escamoteado como quando estão se relacionando, porque as mulheres que não lhes pertencem e não lhes são úteis em outros aspectos, sao mulheres estupráveis, são as "sex-slaves" a que se refere Taslisma. Por isso, por serem objetos, coisas que não são sua propriedade, é muito mais fácil para o homem misógino, expressar e talvez praticar, o ódio contra essas mulheres.


Assim da mesma maneira q o falar mal das suas mulheres propicia aos homens uma camaradagem, o estupro coletivo propiciou aos homens, exercerem sua camaradagem masculina ao compartilhar um ato de extrema violência contra mulheres que n lhes pertencem. E tb a sua fraternidade, no caso, uma vez q o estupro foi concretizado como uma vingança coletiva dos amigos contra um grupo de mulheres, pelo fato de duas delas terem tido a ousadia de rejeitar um 'irmão'.


Então, estupro coletivo é uma maneira dos homens, punirem as mulheres coletivamente por não serem suas 'sex-slaves', e mulheres são estupradas por companheiros prq eles tem q deixar claro que por serem de sua propriedade, elas tb tem que estar à disposição como sex-slaves. A misoginia é a liga tanto na violencia coletiva como na violencia individual dos homens contra as mulheres.

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Arttemia
Compartilhamos das mesmas análises. Mais uma vez sua contribuição é de forte importância.

Saudações Feministas.