Existe no cerne filosófico do feminismo a antítese do individualismo e da desigualdade (inclusive econômica). Desigualdade que se encontra presente nas raízes históricas da sociedade em que vivemos. Sociedade esta desenvolvida através do domínio político e econômico dos homens. Desenvolvida a partir da diferença entre os sexos. Desenvolvida a partir da desigualdade entre as raças, as classes e os gêneros.
No atual contexto social que estamos inseridas, a desigualdade econômica é a base material das demais desigualdades. Não há como lutar pelo fim do machismo quando nosso corpo está passando fome. Fica mais difícil de lutar contra o patrão machista, quando temos um único emprego. O machismo se torna suportável quando, com nossos corpos, é possível de se ganhar muito dinheiro.
Mas a dor física, a dor mental, a dor emocional, a dor moral, a dor material da ausência/carência de condições igualitárias entre os seres não se sustenta só com a desigualdade econômica. Ela é sustentada também pela opressão do Estado, pela massificação da violência estética nos meios de comunicação, pela eliminação filosófica dos ideais de libertação. Sem uma base sólida, a luta não se constrói. Sem chão, não se pavimenta a estrada da conquista.
A ideologia do individualismo utilizada como pós-feminismo, representa a intenção conceitual de fragmentar a realidade na qual estão inseridas as pessoas. Ao individualizarmos os problemas sociais, ao dissociarmos a construção dos gêneros como imposição social ao sexos, produto no qual algumas mulheres e apenas alguns homens fojem, se tenta desmaterializar as bases da construção social que dividiu as tarefas sexuais, consequentemente, se tenta desestabilizar os parâmetros teóricos da luta feminista. Algo que de modo similar aconteceria com qualquer luta social. Desmaterializar a luta coletiva é imobilizar as conquistas sociais no plano político.
Contudo, esta fragmentação conceitual, esta desmaterialização dos ideais coletivos, esta individualização das realidades sociais, não mudam a realidade concreta das pessoas em geral, não altera as estruturas históricas da desigualdade em seus desdobramentos, causas e consequencias, e portanto, o pior, é que não propõem ou projeta soluções de superação destas situações de desigualdade.
Os valores morais da ideologia do individualismo são como anabolizantes que nutrem o monstro do poder masculino. São as bombas de efeito moral que torturam e condenam à conscientização feminina a morte. São os anestésicos de lobotomia injetados contra a memória e a história de luta das mulheres.
Ao aceitarmos o isolamento moral que propõem o pós-feminismo, a ideologia do individualismo nos condena a retornamos as celas domésticas da vida privada de 1950, de séculos e milênios atrás. O isolamento fragiliza-nos diante do enorme monstro que é toda uma sociedade. E este monstro, de apetite voraz, se alimenta de nossa carne e útero, de nosso trabalho e produto, se voltando sempre contra nós.
É fato que a riqueza econômica liberta as pessoas. Eis um fato. É fato que a liberdade econômica é individualizada. Eis outro fato. É fato que a conquista da liberdade esta associada ao acúmulo de bens e riqueza. Eis mais um fato. Porém, estes são fatos que se instituem dentro de uma sociedade criada pelo machismo. Ou seja, a independência econômica que possibilita a superação das barreiras sociais para os indivíduos é a que gera a dependência coletiva das mulheres, que faz com que nos sujeitemos aos abuso mpostos pelos homens.
A história da “libertação” é um processo lento que nos prova, em séculos, que sozinhas, fizemos pouco por nós mesmas. E que os homens também não fazem bem a todos eles, não tendo motivos assim para acreditarmos que eles fariam muito por nós.
Nós, as Maçãs Podres, sabemos que não esquecer de ser contra o machismo, é lembrar que a sociedade individualista, na qual vivemos, é constituída por valores masculinos. Valores de posse sobre os bens e propriedade sobre as pessoas. Só desta maneira é possível entender o quanto um discurso político de “libertação radical”, em condições de igualdade, é perigoso, quando entendemos que esta sociedade, na qual vivemos, é formada por valores individualistas. E estes são os valores masculinos da conservação social.
Mesmo que os homens aceitem a participação de algumas mulheres dentro de seu sistema social, político e econômico, a sociedade machista nunca abriu e não abrirá espaço para a participação completa e igualitária de todas nós mulheres, sem que haja uma insurreição coletiva. Uma insurreição feminista.
Nós, as Maçãs Podres, sabemos que não esquecer de ser contra o machismo, é lembrar que a sociedade individualista, na qual vivemos, é constituída por valores masculinos. Valores de posse sobre os bens e propriedade sobre as pessoas. Só desta maneira é possível entender o quanto um discurso político de “libertação radical”, em condições de igualdade, é perigoso, quando entendemos que esta sociedade, na qual vivemos, é formada por valores individualistas. E estes são os valores masculinos da conservação social.
Mesmo que os homens aceitem a participação de algumas mulheres dentro de seu sistema social, político e econômico, a sociedade machista nunca abriu e não abrirá espaço para a participação completa e igualitária de todas nós mulheres, sem que haja uma insurreição coletiva. Uma insurreição feminista.
A história feminista foi construída a partir luta coletiva. E esta luta é pautada por valores de união entre as mulheres. Da superação feita em conjunto. Da eliminação das desigualdades entre os dois sexos. Eis o perigo social que o feminismo representa. Eis o motivo pelo qual o feminismo sempre foi combatido.
Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
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