20 de jul. de 2011

Racismo x Machismo: um convite à reflexão, por Karina Moura

Resposta de Karina Moura a ISOLDA na postagem
Carta Aberta
O racismo é crime, certo? Certo! Mas o racismo sempre foi crime? Não, não! Teve uma época em que ele era inclusive institucionalizado! Os negros eram publicamente vistos como inferiores, comercializados como mercadoria, tinham uma determinada função na sociedade. Mas isso todo mundo nessa lista está careca de saber!
Abolição oficial da escravidão, quase um século e meio depois e o racismo permanece entre nós. Só que agora ele é velado e se reproduz simbolicamente nas entrelinhas da sociedade. Mas a luta histórica do movimento negro conquistou uma legislação específica que tornou o racismo um crime. E a lei garante que “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Mais anos de luta, marchas, cartas de repúdio, manifestações, atos públicos e protestos e fomos conquistando alterações sempre no sentido de punir toda e qualquer forma de preconceito racial.
Versus
A violência contra a mulher é crime, certo? Certo! Mas a violência contra a mulher sempre foi crime? Não, não! Na nossa sociedade as relações sociais e pessoais entre as mulheres e os homens se estabelecem baseadas no patriarcado, essa estrutura desigual de opressão onde a mulher é considerada inferior e também cumpre um determinado papel na sociedade: submissão às vontades e desejos masculinos. Mas isso todo mundo nessa lista está careca de saber! Será?
Organização das mulheres, movimento feminista. Após muitos anos de luta, marchas, cartas de repúdio, manifestações, atos públicos, protestos, queimas de sutiãs, conquistamos uma legislação específica que tornou a violência contra a mulher um crime. A lei, conquistada muito recentemente, garante uma série de medidas para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, além de garantir as medidas de proteção e assistência às mulheres vítimas de violência. Conseguimos tornar público, o que antes era absolutamente privado. Conseguimos tornar uma questão, que antes era de foro íntimo, em problema social. Sem dúvida, um grande avanço na luta das mulheres, visto que até pouco tempo atrás o homem poderia violentar e até matar uma mulher em defesa de sua honra. Afinal, em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher!
Racismo versus machismo. Ambas as lutas trazem consigo características comuns. São movimentos específicos, que muitas vezes, mesmo dentro dos movimentos sociais de esquerda, são taxados como lutas menores, não prioritárias. Muitos insistem em dizer que findada a desigualdade entre as classes, automaticamente findará o racismo e o machismo. Tola ilusão! Sabemos que isso não é verdade. Sabemos que o racismo, o machismo, a homofobia, para além das questões materiais, se perpetuam de forma cruel na subjetividade de cada um de nós. Daí a nossa disputa pelo simbólico. A guerra das palavras, dos símbolos, dos significados. A nova sociedade será construída por e construirá, simultaneamente, novas mulheres, novos homens e novas/os LGBT´s.
A pergunta é: onde está o botão que aciona nossa indignação? Ficamos tão indignados com as falas racistas de deputados, com as atitudes racistas e violentas de policiais e agentes da segurança pública. Chamamos essas falas e atitudes de abomináveis, intoleráveis, inadmissíveis. Enquanto Fórum da Juventude Negra a gente grita constantemente com os demais movimentos sociais de esquerda: Hei! A nossa luta não é menor não! Não é secundária a coisa nenhuma! Hei! Escutem a gente! Somos duplamente oprimidos, sofremos com o racismo e sofremos com a desigualdade. Hei! A luta contra o racismo tem que caminhar lado a lado com a luta pela transformação social que queremos.
A pergunta é: onde guardamos o nosso machismo? Porque, nós mulheres negras, mesmo dentro dos movimentos sociais, ainda temos que gritar: Hei! Por obséquio companheiros indignem-se com as falas e atitudes machistas e violentas que nós sofremos repetidas vezes no nosso cotidiano. Hei! Escutem a gente! A nossa luta não é menos importante não! A nossa luta não pode ser colocada em segundo plano coisa nenhuma. Somos triplamente oprimidas, sofremos com o machismo, o racismo e a desigualdade. Hei! A luta pela igualdade entre mulheres e homens precisa caminhar lado a lado à luta contra o racismo e pela igualdade social.
Porque não tolerar práticas racistas de nenhum nível ou tamanho, mas aceitar e/ou abrir concessões em relação a práticas machistas? O racismo é um absurdo, é crime! Mas o machismo é tolerável dentro de determinadas situações e limites!
Qual é o limite?
Onde está o botão que aciona a nossa indignação?
Onde escondemos o nosso machismo?
Muita reflexão ainda precisa ser feita. Muitas práticas ainda precisam ser revistas e transformadas.
Por uma vida sem racismo, sem desigualdades, sem opressões, sem extermínio e sem violência machista!
Karina Moura,
mulher, negra, feminista, socialista, indignada!
Karina Moura
CCCP Olho da Rua
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obs: O texto escrito é de responsabilidade da autora.

3 comentários:

Gabriel Brito disse...

Ótimo discurso.
A resposta à questão dos n por ques são: "num nível mais profundo, além da política, à margem da sociedade, da psiquê consensual - está a moral. A moral que sobrevive a mudanças materiais/econômicas. Essa é uma guerra ideológica. O combate a moral deve ser visto como desafio tão importante quanto as campanhas materias: criação de leis, reconhecimento de direitos, etc.; Pois às desigualdades subisistem a partir de idéias pré-concebidas, anteriores ao tempo dádo(atemporais) e persistirão, mesmo se a sociedade se tornar "economicamente socialista".
Apesar do proposto pelo marxismo,leninismo, anarquismo; devemos lembrar que a cultura/arte, sempre se projetou, a partir do Patriarcado, como machista - projetada para homens e para os homens. Ou seja, a arte não foi projetada para um futuro feminino, igualitário, justo.
Em suma, precisamos projetar o nosso futuro, além da moral, desse atual bem e mal.

IGN-UP! disse...

Analisando de uma forma mais objetiva: o que as pessoas entendem como machismo? O que a mulher comum(não-feminista) entende de violência contra mulher?É só o homem que estupra,o marido que dá porrada?

O conceito de machismo se tornou muito simplório no senso comum e a indiferença feminina tem o reforçado muito.Negro não ri de piada racista,ele denuncia,mas mulher ri de piada machista e se vc reclamar,ela fala que vc não tem senso de humor ou leva as coisas sempre á ferro e fogo.Nem preciso dizer que o negro não se coloca contra os que lutam contra o racismo mas as mulheres sim.

Então,para chegarmos no mesmo ponto que os negros chegaram,a mentalidade feminia tem que ser mais trabalhada.

ps: falando nisso,vcs já fizeram a cartilha com aquelas coisas que eu mandei?

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Isolda...
não estamos com tempo nem para respirar e escrever no blog.
De fato, só estamos conseguindo participar de projetos já prontos, como convidadas, e não cocolaboradoras, infelizmente isso é o temos para imediato...