12 de jan. de 2011

A história de Linda Susan Boreman - De atriz pornô a militante feminista

Biografia de Linda Susan Boreman
As feministas podem nunca ter houvido falar de Linda Susan Boreman, mas ela é um nome importante na história do feminismo. A história dela não seria muito diferente de muitas histórias que ocorrem no Brasil, se Linda Susan Boreman não fosse Linda Lovelace, a atriz ícone do cinema pornô dos anos 70, protaginista de Garganta Profunda (1972) e a principal figura responsável pelo ponta-pé inicial da luta feminista contra a pornografia.
Em 1969, com 20 anos, Linda tinha acabado de dar a luz a um menino e foi convencida pela avó da criança, mãe de Linda, a permitir que ela cuidasse dele. Logo após, Linda descobriu que nunca mais voltaria a vê-lo, pois a verdadeira intensão da avó era mandá-lo para a adoção.
Depois de sofrer um grave acidente de carro, e ainda na convalecência, conhece Charles Traynor, com quem se casou.
Linda Lovelace e Garganta Profunda
Financiado pela famiglia Colombo, o filme Garganta Profunda teve o custo de 22.000 dólares e, estima-se que, lucrou entre 600 milhões a um bilhão de dólares. Através da grana ganha, os mafiosos fundaram uma produtora de cinema responsável por clássicos B como “O massacre da serra elétrica” e “Drácula e Frankenstein” de Andy Warhol. Entretanto, Linda Lovelace diz não ter ganho um só centavo deste montante, o único valor de 1.250, foi pago ao seu marido Charles Traynor, pela produção.
Complexo de Cinderela
Linda Susan Boreman sofreu de um evidente “Complexo de Cinderela”, como comprovam as palavras do autor de seu obituário, Joe Bob Briggs: “ela era leve, tinha um desejo desesperado de ser amada e aceita o que fazia com que parecesse mais uma menina confusa do interior do que com a líder da revolução pornográfica.” Após o grave acidente de carro, que lhe deixou cheia de cicatrizes, o cafetão Charles Traynor representava “a força masculina” protetora. Ele a espancava (ele adimitiu o fato dizendo que existia na relação de ambos toques “sado-maso”) e, segundo Linda, ela o agradava para não apanhar ainda mais. Se não fosse o bastante, ela teve um câncer de mama devido aos implantes de cilicone líquido feitos a “pedido” de Traynor.

A traidora (da indústria) americana:
Da Prostituição a atriz pornô e militante feminista
Durante a vida nas ruas, Linda Susan Boreman desenvolveu uma “técnica de sexo oral” de alto relaxamento muscular que serviu de inspiração ao filme, além de ter que fazer cenas de zoofilia em filmes anteriores. Após o sucesso de Deep Throat, Linda jamais fez outro filme pornô, circulou por Hollywood, se divorciou de Charles Traynor, converteu-se ao presbiterianismo e comecou a militar no movimento feminista.
cena de "Garganta Profunda"
Foi muito graças a Linda Lovelace que Andrea Dworkin e Gloria Steinem, Catharine MacKinnon e Brownmiller Susan, bem como a organização de Mulheres Contra a Pornografia.tiveram base para construírem o conceito de que a pornografia é um fenômeno machista que degrada mulheres, pois em plena comissão do Congresso Norte-americano, que investigava a indústria pornografia dos EUA, Linda declarou "Quando vêem o filme Garganta Profunda, estão me vendo ser estuprada. É um crime que o filme continui sendo mostrado; (eu) tinha uma pistola apontando a minha cabeça o tempo todo”. 
Ela escreveu livros e se colocou decepcionada com as pessoas que publicaram sua vida, ganhando dinheiro, sem nunca lhe ter dando um só centavo pelo uso de sua imagem. Ela chegou a comparar esta situação a dos produtores de Deep Throat. Em abril de 1980, por exemplo, ela entrou no Phil Donahue Show para promover o livro Ordália. Descobriu um público hostil, que respondeu de forma ríspida aos seus relatos de violência doméstica.
Ela podia denunciar a pornografia, mas nunca introduzir o dedo na ferida das relações familiares americanas.
Desiludida, em 2000, ela posou para uma revista de fetiche e começou a autografar produtos do “Garganta Profunda”. Este retorno ao mundo pornô causou raiva na classe d@s profissionais da pornografia. 
cena de "Garganta Profunda"
A ex-atriz Gloria Leonard considerava Linda uma "traidora”. Na estimativa de Leonard, Linda tinha cometido um pecado imperdoável: estigmatizou todas as pessoas que trabalhavam na indústria pornô, pois para Gloria os trabalhadores estavam lá por “opção”. 
A Hustler Magazine, em março 2001 referiu-se à sua sessão de fotos como "mercenária das façanhas sexuais". A revista mirou na sua aparência: "as fotos de Linda Lovelace, com seus pés de galinha e flacidez, são tão sexy como uma verruga anal".
Em 2002, ela morre em um novo acidente de carro. Mas, na real, fica a pergunta do por que Linda Susan Boreman voltou a ser Linda Lovelace?


[Atualização] Morte e vida de  Linda Susan Boreman

O cartaz original do filme Garganta Profunda.
É "estranho", mas o cartaz traz um aparente
reflexo do contexto histórico do anos 1970, 
auge dos movimentos de libertação social e do
feminismo recente.  Mas a ilusão de liberdade
que o cartaz original aparenta, foi tudo que
não existiu na vida Linda S. Boreman
A situação de Linda Susan Boreman pode ser respondida de diferentes formas. Primeiro, é fato que quando boa parte da sociedade ainda vivia intensamente o desjo da Libertação Sexual, participar de filmes pornográficos tinha outro significado, Linda Susan Boreman conseguiu transvalorizar e desfrutou das glórias deste fato, sendo capa de revistas importantes e reconhcecida como celebridade no mundo todo. É difícil não cair na ilusão da ribalta.
Porém, 3 décadas passadas, o prisma social do EUA alternou e o modo como as pessoas passaram a lidar com tais questões da sexualidade foram banalizou pelo liberalismo estadunidense. 
O avanço das mídias eletrônicas e da tecnologia possibilitou a criação de “celebridades sexuais instantâneas”. Práticas com o swing, o exibicionismo, o voyeurismo e o bondage possuem espaço tanto na mídia formal, quanto na net, ou seja, dentro da sociedade americana.
Desde que vividos na privacidade dos lares ou em espaços “clandestinos”, os comportamentos sexuais antes “pervertidos” passaram a ser definidos como “normais”. Lógico que tal aceitação é uma hipocrisia, a questão é que, “como produto”, todos são necessários ao capitalismo, amamentam a solidão sexual. “Sexo vende” e no capitalismo, principalmente nos EUA, é isso que importa.
Tanto que existe no mercado brasileiro uma onda muito atraente para celebridades e astros falidos dentro da indústria sexual(vide o fenômeno Rita Cadilac, Alexandre Frota e similares, que no Brasil frequentam as emissoras de tv sem muitos problemas). O BBB 11 é uma prova disso.
Como poderia Linda Boreman, pessoalmente, não como feminista, mas como mais uma pessoa lançada no capitalismo como todas nós, não levar em conta o fato de novamente se envolver com a pornografia se este era o modo que mais lhe ofereciam como forma de sobrevivência? Coletivamente é certo afirmar que ela levada a “remar junto a maré”. Segundo, a pornografia como fenômeno de massa é produto da construção de gênero de uma sociedade que delimita posições bem definidas para a sexualidade feminina.
Quando iniciou sua batalha olímpica contra a pornografia, Linda Susan Boreman tinha todo um aparato de feministas e artistas de renome ao seu lado. Mas assim que começou a ocorrer o refluxo do feminismo radical e a implementação da “perspectiva liberal pós-feminista”, Linda Susan Boreman não tinha onde e em quem se apoiar, pois a banalização do corpo feminino, como objeto de poder e fetiche, é uma afirmação dentro de uma sociedade que capitaliza os padrões de beleza e sexualidade humana. 
E esta foi uma das imagens é do filme sobre a vida
de Linda Boreman em produção em Hollywood.
Ela é bem importante,  pois dá um panorama do
contraste histórico e ideológico entre a "liberdade
sexual" dos anos 1960/70  e  atual coisificação
do corpo feminino, comprovando o quanto
o machsimo esta declarado dentro dos atuais
dias do pós-feminismo liberal.  

Como celebridade falida, ícone pornô e forte figura antipornô, tudo ao mesmo tempo, ela era a própria representação da dictomia sexual feminina numa sociedade patriarcal, um produto sexual do liberalismo americano e uma figura emblemática do feminismo (algo que os machistas e as antifeministas sempre estão a procurar buracos para deslegitimar). Linda Susan Boreman, enquanto Linda Lovelace, era uma “marca sexual”. E como não vivemos um período que a grande mídia abre espaço para posicionamentos “antisexo”, a não ser que você tenha uma imagem de virgemzinha e a indústria dos aneis de castidade ao seu lado, algo que ela nunca teve, fica difícil pensar em muitas saídas para alguém nas suas condições. 
O capitalismo lança as pessoas sem grandes propriedades privadas numa vala que só as permite vender no esgoto sua mão de obra. Linda, sem nenhuma capacitação formal, tinha no mercado apenas sua imagem pública (corpo) e simbólica para vender.
Com todo conjunto de descriminações geracionais, sexuais e ideológicas que devia sofrer, ela viu no novo convite da indústria da pornografia uma forma de ter renda. E de expressar sua consonância histórica com “libertalismo da mulheres pós-feministas”.
Porém, dentro da indústria pornô, e em quase toda parte do patriarcado, não a espaço para as mulheres terem arrependimentos ou crises de indentidade feminista: os mandamentos do machismo determinam que ou a mulher é “puta” ou é “santa”. Não nós é permitido transitar por pelos dois terrenos de mundo público e privado, como fazem os homens. Ao escolher se posicionar ao lado do feminismo radical, Linda expôs ao chão o mito da libertação sexual que recaia sobre a indústria da pornografia, dando lhe um status de respeitabilidade, criando inimigos mortais que viram nela a figura responsável por nunca mais ter lucros tão altos quanto os da película Garganta Profunda. 
Imagem de divulgação do filme "Inferno"
Ainda com a atriz  Lindsay Lohan
Assim como qualquer "Marilyn Monroe", o ciclo social se fechou na vida de Linda Susan Boreman reproduzindo todo o complexo de representações trágicas que significa ser uma mulher e um “simbolo sexual” no patriarcado do capital. Tanto que Hollywood pretende novamente lançar seu drama no filme “Inferno” (nome de dupla moralidade, capaz de agradar tanto os fanáticos religiosos quanto “antipornografistas” desavisados). Não nos parece a toa que Linda Susan Boreman morreu da mesma maneira em que ela acabou por conhecer o homem que a colocou na pornografia, um acidente de carro, quem sabe este foi um modo racional dela eliminar com a mecânica coisificação imposta a seu/nosso corpo?


Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
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2 comentários:

Anônimo disse...

Resgate importante sobre quem foi Linda Susan Boreman e situar o que é a industria pornográfica e o que é a pornografia na manutenção da sociedade em que vivemos, seria bom dar uma revisada no texto pois escaparam alguns erros de digitação. Mas mesmo assim sempre certeiras nas caracterizações.

Luka

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Valeu Luka...
tivemos que traduzir pouco a pouco, parágrafo por parágrafo, a tese que serviu de base pro texto, além de outras pesquisas da biografia de Linda Susan Boreman, para fazermos o mínimo de justiça a esta mulher.
Sobre os erros (kkkk), sabemos que todos os textos eles estão presentes. As vezes, pensamos em retificar, mas depois de todo estudo, e de entramos em outros, ficamos "meio lesmas", e os deixamos pra "depois".
Um dia tomaremos vergonha e faremos as correções necessárias. Pedimos paciência a todas e muita compreensão feminista.

Saudações Feministas!