7 de jun. de 2009

Dilma para presidente...

ou presidenta Dilma?
Vocês se acham feministas? Já tiveram dúvidas se suas idéias são realmente suas ou se são réplicas dos discursos dos homens que admiram? Vocês se acham machistas? Nós mulheres somos...
“Embora as politiqueiras feministas admitam que as mulheres devem se organizar em torno de sua própria opressão da maneira como elas a sentem, que elas podem realizar isto de um modo melhor através de grupos independentes, e que a concentração principal de todo grupo de mulheres deveria ser nos problemas das mulheres, todo esforço é feito ainda visando adaptar essas atividades as analises esquerdistas existentes e as estruturas prioritárias – nas quais, naturalmente, as mulheres, nunca vêm primeiro”. - Shulamith Firestone

Quem não conhece uma mulher atuante do movimento que dá palavras de ordem, que se indigna e se manifesta contra as injustiças, que se acha mais “consciente” que as outras, que se sente porta voz das outras mulheres e aquelas que só se manifestam para dar peso final a uma decisão? Olharam no espelho? Ainda não?
Todas só querem uma coisa: a aprovação da sociedade, ou melhor, dos homens que decidem os rumos das idéias e da luta. Nosso papel tem sido lavar os pratos no fim do banquete, não escolhemos o cardápio e nos cabe o trabalho manual, ou seja, nós não decidimos os rumos e somos exploradas como secretárias e multiplicadoras do que foi proposto por homens do movimento, homens considerados livres das estruturas que colocam as mulheres como agente passivo da transformação.
Se nunca perceberam isso não se preocupem, nós mulheres não somos cegas, a dominação nestes movimentos é muito bem camuflada, ela vem com muita sutileza e cordialidade, a fim de evitar o enfretamento.
As mulheres dos movimentos sejam movimentos partidários, movimento negro, movimento de mulheres, movimento dos sem terra ou teto, movimento ambiental, seja a mulher apenas atuante ou a líder ou aquelas que servem como figurantes para adornar as reuniões e fazer números nas votações, cada qual com sua especificidade, todas tem algo em comum, nós temos o mesmo lugar. Toda mulher que adere ao pensamento de esquerda sem perceber que a luta feminista engloba a questão de classe, é uma mulher omissa nas decisões dos rumos de sua vida e por extensão da vida das demais mulheres. A luta feminista engloba as questões de classe, mas a luta de classe não engloba a totalidade da luta feminista.

“Por exemplo, vi muito de perto a situação das mulheres na URSS. Quase todas as mulheres soviéticas trabalham e as que não trabalham (as mulheres de alguns funcionários em altas posições ou de pessoas muito importantes) são desprezadas pelas outras. (...) No entanto, se considerarmos o número de mulheres que pertencem ao Comitê Central ou são membros das assembléias, que tem verdadeiro poder, ele é pequeníssimo em relação aos homens. (...)
É uma condição que, num certo sentido é melhor do que as mulheres nos países capitalistas, porém mais difícil. Donde se conclui que, na União Soviética, também a igualdade entre homem e mulher não foi absolutamente conseguida”. - Simone de Beauvoir



ps: Depois da plástica, será que Dilma vai para a academia?Estes clichês de inclusão social ou de teórica quebra do sistema se aplicam também as mulheres de direita que se dizem feminista. Elas só se importam com questões pontuais e individuais. Elas não desejam a transformação das identidades e papéis masculinos e femininos, não estão dispostas a abrir mão da miséria de seus privilégios. São mulheres que representam a vontade de serem incluídas no ciclo de poder masculino. Seu papel é ocupar o espaço reservado ao segundo plano, afinal somos o segundo sexo. Já que este papel cabe a todo oprimido, como jovens, negros, homossexuais, crianças e etc. Estas mulheres, em geral são brancas, burguesas e conservadoras, elas excluem a questão de classe e raça, elas só querem aproveitar a brecha que o capitalismo estrategicamente oferece. Essas mulheres são “homens”. São marionetes. Na verdade, tod@s somos vitimas de uma sociedade de fantoches, mas o mecanismo de manipulação dos “bonecos ativistas” é mais sofisticado, permite uma sensação de quebra e rompimento das cordas. Toda mulher que se omite do enfrentamento contra os homens e luta contra “o sistema”, se engana facilmente com estes modelos de revolução, de igualdade, de fraternidade e liberdade. É o cavalheirismo do capital.
Não existe “centro” para a vida político-partidária feminina dentro das estruturas sociais que conhecemos, seja na direita ou na esquerda, nós mulheres estamos a margem do poder e ao alcance das mãos masculinas, que nos oferecem como alternativa de mudança que em nada altere as estruturas do capitalismo, do patriarcado do poder, ou seja, do machismo.
De Cleópatra a “Ave Maria Madalena” que intercede pelos pobres, passando por Eva Perón a Cristina Kirchner, de Benedita da Silva a Rosinha Garotinho, de Margareth Teacher a Hilary Clinton, de Zélia Cardoso de Melo a Dilma Rousseff e, numa situação especifica de Betty Shabazz a Marina Silva, vemos reproduzidas as estruturas conservadoras do “papai e mamãe”. É quando o pai se encontra ausente que a mãe toma os rumos da casa, inclusive com braço forte. Ou seja, essas mulheres reproduzem a lógica da opressão que nos coloca em segundo plano, lógica esta, que damos seqüência sem alterar os rumos da humanidade, por termos a permissão e desejarmos a aprovação masculina. Qualquer mulher que se engaje num projeto masculino, terá que se adequar ao padrão que o projeto exige e, consequentemente, é porta voz dos valores machistas e de todos os tipos de exclusão que nasceram com a primeira opressão de um ser humano sobre outro.
Parece um exagero? Podemos lembrar de Lênin, Trotsky, Stalin, Nikita Krushev, Gorbachev, portanto, a conclusão parece óbvia: quantas mulheres assumiram o poder com a mesma equivalência que estes homens?
Afinal, as mulheres da revolução russa lutaram pelo que mesmo?

Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro

14 comentários:

Anônimo disse...

toda mulher que seguir movimentos quaisquer,e não postular,não buscar a justiça,a ética está fadada a ser um apendice do homem,do sistema.Eu vou discordar sobre a Marina Silva-ainda hoje lí no editorial da Folha,um artigo em que ela fala,continua falando,sobre as injustiças do Brasil.Diz ela que aquí ainda continuamos como nos tempos das capitanias hereditárias-acertos são feitos,leis são observads apenas para poucos,qdo. não se quebra os jogos de interesses.Gosto dela,ela é valente,autentica,trabalhadora,e não está apoiada em muletas de homem algum.Hillary Clinton?essa sim!é louca pelo poder!

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Olá novamente Monica.
Sim, sempre que mulheres não construírem seus projetos de luta, ao se engajarem num projeto existente (masculino) será um apêndice das idéias dos homens, ou seja, será sempre o segundo sexo.
Confessamos que a proposta de colocar o nome da Marina Silva no texto tbm gerou polemica no grupo, mas chegamos a conclusão que a inserção de Marina foi comum a de outras mulheres, ela se engajou num projeto “político masculino”, conseguiu ganhar uma notoriedade (anulando toda a historia de luta), sugaram-na até onde era possível ter ganhos e jogaram o “bagaço” fora! Assim, “não somos contra as mães, mas a ideologia que induz a mulher a maternidade”. Para não parecer que só existem criticas, existe ao menos um exemplo admirável a ser lembrado, Aung San Suu Kyi.

Adília disse...

Desculpe o desabafo, mas não aprecio nada, do ponto de vista gráfico, o texto sobre fundo preto. A leitura resulta muito cansativa. Quando tentei seleccionar e copiar, apenas para o ler como se fosse um texto vulgar não consegui e é pena porque me pareceu interessante e porque gostaria de rebater algumas teses, mas como não consegui analisar devidamente o texto não o farei, pelo menos por agora.

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Adília
Agradecemos sua crítica, mas a estética não tem sido nossa maior preocupação, apesar de levarmos em consideração suas palavras, o quê mais nos preocupa é o comum condicionamento de "facilitar" as coisas para nós mulheres. A leitura de nossos textos é mesmo muito pesada, já que o tema misogenia não pode ser descrito como suave. Assim demanda algum esforço, e esta é nossa intensão. Mas como aliadas, daremos "umas ajudinhas":
1-se vc deixar seu e-mail mandamos o texto que vc não lêu, mas que deseja rebater algumas teses - só não sabemos se são nossas teses feministas ou teses machistas de outros;
2-iremos ler o seu blog e se tivermos discordâncias de percepção ideológica, e não estética, postaremos lá, seja individualmente ou em coletivo!

Até a próxima e sinta-se livre para apodrecer!

Adília disse...

Das discordâncias minhas em relação a este texto, ou melhor, à leitura que dele fiz, dou hoje conta num texto que publiquei no meu blog: Mhulheres e poder. Penso que terão in teresse em ler e comentar, discordando ou não do que lá digo.
Saudações feministas, adília

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Adília como é que você compreende esse processo de equilíbrio das mulheres no poder hoje?
Hoje é importante para os governos e empresas terem representatividade em todos as camadas ditas “excluídas da sociedade”, isso irá garantir êxito na sua popularidade e aceitação social... Existe aí a cooptação de mulheres, que se tivessem feito um caminho diferente, certamente, a história poderia ser outra... ou não? Esse desejo de poder, muitas vezes cega! Será que ele não compromete a assimilação e a acomodação do conhecimento?
Esse processo de “socialização” ou “adaptação”, não transforma em nada o que está estabelecido. Isso foi exatamente o que ocorreu com praticamente todas as mulheres que chegaram ao poder. Se as mulheres ingressam num projeto de homens para homens e tem que se adaptar, temos que admitir que, embora, nem todas as mulheres têm o desejo de manter o mesmo tipo de sociedade e as estruturas de controle existentes, ao ter que se adaptarem é isso que acontece!! Aproveitar as brechas é importante, é necessário para “sobreviver na selva”, porém muitas vezes o que temos visto não são as mulheres chegando ao poder e agindo para uma transformação de seus papeis e sim para uma implementação maior de funções a esse papel. Negar isso é uma estupidez.
Não serão essas funções em paridades com os homens que trará a liberdade a mulher!
Quem disse que não podemos sair da selva? Se não houvesse chances de sairmos da selva, não teriam esses instrumentos contra nós, como a força física, a beleza, a inteligência, o dinheiro, manipulando até hoje!
Só utilizar-se das brechas, acender ao poder,está mais que provado que não modifica os papéis. É necessária a insurreição feminina!!
Isoladamente será mais difícil, mas se unidas...

Adília disse...

A sua análise desta questão parece-me pouco realista pois, se tivermos em conta o processo histórico, verificamos que, apesar de haver ainda imenso para fazer, ocorreu progresso efectivo na situação das mulheres, no Ocidente, de há dois séculos a esta parte, progresso esse que se acelerou nos últimos trinta anos.
Quando comparo a situação das mulheres, nomeadamente a das classes cultas do século XVIII, por exemplo, com a nossa época sinto-me verdadeiramente privilegiada. Ora, quer queiramos quer não, tudo começou com o feminismo liberal, com o direito ao voto, o direito ao trabalho bem como o acesso à instrução que, numa linha de continuidade há-de implicar a paridade no desempenho de cargos de poder. Claro que ainda é tão diminuto o número de mulheres no desempenho de cargos de poder, que não me parece sério nem rigoroso tirar ilações sobre a forma como as mulheres exercem o poder, e tudo leva a crer que mais e mais mulheres no desempenho desses cargos irão condicionar o aparecimento de uma massa crítica que não vai limitar-se a acomodar-se, mas irá «impor» os seus esquemas de acção.
A única alternativa a esta estratégia que V. propõe é a insurreição feminina, mas neste momento não estão criadas as condições mínimas para ela ocorrer; diferentemente de qualquer outra classe oprimida, as mulheres estão divididas e obrigadas a cumplicidades (maridos, filhos, família) que comprometem qualquer esforço de unidade e comprometem mesmo a criação da consciência de classe. Além de que a insurreição feminina iria alienar os homens, ora individualmente falando, penso que, de uma maneira geral, não temos nada contra os homens, temos contra o sistema patriarcal de que eles se aproveitaram, como nós o teríamos feito se as circunstâncias o propiciassem. Passa-se o mesmo que se passou com o colonialismo, o problema não eram os colonos, era o sistema.
Estas são pois algumas razões da minha divergência em relação à V. posição, mas vou continuar a acompanhar o V. blog e a pronunciar-me sempre que se oferecer oportunidade. Penso que do debate de ideias só podem resultar efeitos positivos.
Um abraço, adília

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Adília
Gostariamos de saber onde você tirou essa visão de que tudo começou com o feminismo liberal?
De fato as mulheres estão divididas, isso é realmente um problema. E o que de fato divide
as mulheres, entre outras coisas, é essa estrutura familiar em que estamos presas, além de impedir a consciência de classe, cria em nós uma psicologia oprimida. Mas por medo do enfretamento, (por que as mulheres estão acostumadas com “facilidades cavalheirescas legais” conquistada por doação) culpa-se o sistema, ou seja, evita-se o enfrentamento com os homens e com o capitalismo. E de quebra, ainda se adapta a ele, ajudando-os em sua manutenção.
Mulheres de direita não querem revolução. Elas são mães, esposas, devotadas aos seus homens. Ou, quando são agitadoras, o que elas querem é um pedaço maior do bolo. Elas querem salários melhores, eleger mulheres para os parlamentos, ver uma mulher se tornar presidente.
Fundamentalmente, acreditam na desigualdade, só que elas querem estar no topo e não por baixo. Mas elas se acomodam bem ao sistema como ele é, ou com as pequenas mudanças para acomodar suas reivindicações. O capitalismo certamente pode dar-se ao luxo de permitir o poder a algumas mulheres,desde que a desigualdade continue todos podem entrar ao “Reino de Deus”.
Entendemos que, o capitalismo é inteligente o suficiente para fazer com que as mulheres entrem em suas estruturas e se adaptem e fiquem se sentindo orgulhosas pelas "conquistas"! Isso não foi conquista, faz parte das estruturas do capitalismo.
A acomodação capitalista chega a dispor que mulheres tenham 50 % ou 100% das propriedades desde que existam homens e mulheres proletários e oprimidos! Propomos a destruição da economia capitalista, das normatividades sexuais e do sistema familiar biológico e patriarcal. Devemos combater as estruturas e não se infiltrar nela e acomodar-se. Precisamos ter nossos próprios projetos para ter uma transformação radical, portanto, não negamos as adaptações/mudanças, mas não temos nada para nos vangloriar e nos sentirmos privilegiadas, porque não conquistamos...afinal, para evitar convulsão social, se afrouxa a corda do sistema para que nós mulheres não morressem enforcadas e não perceber que esta corda existe!
Abraços podres.

beigesilkworm disse...

Excelente texto,pena que não é todo mundo que chega aqui e consegue entendê-lo na integra.E sim,mulheres no poder não quer dizer fim dos papéis homem x mulher na sociedade,nem mesmo os órgãos destinados á nossa defesa se manisfestam ao nosso favor (CEDIM,CENDM,etc).Aproveitando que mencionaram o século XVIII,seria bom nos lembrarmos que a Rainha Vitória proporcionou a mais reacionária época durante seu governo,reafirmando a moralidade patriarcal em todos os sentidos.

Francamente,eu não entendo esta estória de "não ser contra os homens".
Vejo que muitas brasileiras se encontram alienadas em ealção ás crueldade machistas que os sitem patriarcal proporciona.Quem nos oprime então? O curioso é que eles não pensam 2 vezes antes de nos direcionarem as atrocidades que nos humilham e nos ferem,mas sempre devemos pensar várias vezes antes de ficarmos contra eles,para não "ofender os pobrezinhos".Não sei aonde vamos chegar com tal pensamento...

beigesilkworm disse...

Precisamos de líderes feministas com o mesmo "marketing místico" de Martin Luther King,Mandela,Gandhi....as mulheres precisam exaltar aquelas que morrem por elas,ler sobre a história de sua luta,como os demais movimentos sociais fazem...mas cade elas? Estão lá lendo suas caprichos,queridas,marrie clair e bostas afins.Existem muito mais seguidoras de blogs fúteis do que de blogs feministas,muito mais mulheres se orgulhando de se reduzirem a bundas e peitos do que fazerem descobertas científicas e tecnológicas,ser modelo é mais importante do que se engajar na política...Estão vendo como precisamos de "marketing"?

angel del noche disse...

"A luta feminista engloba as questões de classe"
Que mentira, o movimento feminista pode ser pluriclassista, o correto é associar a luta de classes a luta contra o machismo.

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Angel
talvez vc acredite nisso pq considere as mulheres burguesas como feministas, porém "feminismo burguês" não pode ser feminismo! Defendemos que é eminente o fim das desigualdades entre os sexo em TODOS OS NÍVEIS, qualquer "luta" que deseja incluir mulheres dentro do capitalismo é evidente reestruturação.

O feminismo que pregamos NÃO ABRE MÃO DA LUTA DAS MULHERES por nenhuma outra luta q não traga equidade/igualdade/liberdade geral e irrestrita para todas (as pessoas).

Anônimo disse...

O Brasileiro tem que ficar muito esperto nessa eleição. A Dilma é mentirosa e como os brasileiros terão uma demagoga no poder, mostrando nas suas propagandas bibliotecas que estão fechadas e hospitais que não funcionam dizeno para o povo que isso tudo está em pleno funcionamento. E ainda faz chntagem com as emoções de nós mulheres nos iludindo com um brasil cor de rosa.A DILMA É FURADA!

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Anônimo(A)
A questão não é a Dilma, mas o funcionamento social. Bibliotecas e hospitais permaneceram fechados com qualquer que seja o candidato eleito, pois dentro do modelo econômico que vivemos no Brasil, quem quer saúde e conhecimento deve pegar por eles. A péssima qualidade pública é proposital. Quanto a "chantagem emocional demagógica", isso sim nos preocupa, pois representa o modelo da dissimulação, signo que os homens depositam como mística feminina: "sem a força fisica, o poder econômico ou a racionalidade sobraria as mulheres manipular as pessoas/poder'". Este é o jogo masculino e Dilma não vai (e nem tá ai) pra quebrar as apostas, apenas dar as cartas como um croupier.