30 de jan. de 2010

A IDEOLOGIA DAS DIFERENÇAS ENTRE OS SEXOS - 2

O Patriarcado da Miséria ou Miséria da Maternidade










No machismo, a atividade social fundamental das mulheres é a maternidade. Seja para a libertação dos machos ou para a manutenção das desigualdades econômicas, a reprodução sexual é o empreendimento masculino de maior utilidade para a sujeição e dominação entre os sexos e classes sociais. Fomos afastadas das forças produtivas devido aos sucessivos partos, como não havia modos de controlar a natalidade, nossa condição ao longo da história passou a ser a da reprodução da vida pela própria vida.
A função social da Mulher
para os homens
 Contudo, atualmente, a realidade mudou e ainda assim continuamos a conservar a ideologia das diferenças entre os sexos. Ao perpetuarmos tal condição, nós acabamos permitindo que os machos continuem a projetar no mundo exterior os valores de suas representações. Com o exemplo empírico da maternidade, eles tentam provar a teoria da falsa superioridade masculina, ou seja, a “condição de dependência natural das mulheres”. Pois se a maternidade é "a atividade/trabalho feminina", graças as suas especificidades, logo é possível se admitir que o estado de dependência física causado por tal condição biológica, naturalmente nos põem em uma condição "diferente/de svantagem" em relação aos machos de nossa espécie.
A ideologia como forma de opressão
Naturalizar a condição em que nos encontramos...
nesta sociedade de classes sexuais significa manter os privilégios masculinos de classe sexual e econômica. Para isso os machos tem uma arma poderosa em seu favor: a mídia. Sempre disposta a exaltar o "desejo de toda mulher em ser mãe", como se a pressão social que sofremos desde a infância fosse inexistente para que tal manifestação acontecesse, a maternidade torna-se uma imposição moral, uma requisito básico de normalidade inerente a qualquer ser humano que possa ser definido como mulher. Assim,"a Felicidade" é o substantivo feminino mais comum e contundente usado nas revistinhas da grande mídia para designar o estado de gravidez das "fêmeas colaboracionistas do machismo"¹, projetando nas outras mulheres um modelo social a ser seguido sem culpa ou questionamento.

A imposição da "maternidade” - junto com o mito do amor romântico - é estratégia fundamental dos “homens” para nos manter cativas a condição de "mulher". Pouco importa qual é o o perfil da revista, mesmo aquelas que teoricamente se dirigem ao público masculino, como as de esporte ou nudez, abrem espaço para a contemplação deste estado físico "interessante". Pouco importa se é uma publicação estadunidense, européia ou brasileira, o modo, as posições, as frases, tudo se resume a analisar a maternidade pelo mesmo ângulo de interesse: o ponto de vista masculino. Se as falas tenham sido ou não proferidas pela boca de qualquer uma das mulheres em questão, estas apenas dizem o que os homens impuseram pra nós. No final das contas, a maternidade se apresenta como um fim para todas as mulheres, não importa o que fazem ou fizeram, todas deve sucumbir "a razão de sua existência": dar aos machos um herdeiro (ou privatizar a riqueza acumulada quando a fêmea em questão é a grande burguesa da relação).

A maternidade, um empreendimento masculino
Lógico que sem as limitações materiais... impostas historicamente as mulheres, a ideologia das diferenças entre os sexos não teria como se sustentar. Como simples ideologia, ela se caracteriza por ser um instrumento de dominação que age através do convencimento, mas a ideologia é um meio e não oa causa ou o fim. Jamais será possível mater uma "falsificação" sem que a realidade possa confirmá-la, sempre sucumbirá sob forma da verdade. Para as mulheres despossuidas de bens e riquezas, a maternidade se apresenta como única propriedade existência individual. Devido a brutal opressão material, o conjunto dos fenômenos que a projetam, elabora idéias e representações superficiais a respeito da realidade histórica humana e individual, forjando relações de afeto dependentes e estigmatizadas pela posse de um ser humano sobre o outro, transformando tal dependência em sinônimo felicidade. E estas só se confirmam pela exclusão material e econômica. Como não resta-lhes nada mais, sobra vontade de ser mãe para ter sobre "alguém" algum tipo de poder, amor e respeito social. Quantas super-modelos, atrizes, ou mega-empresárias pariram mais de 6 filhos como é possivel se observar nas regiões marginalizadas? Ainda assim, é extremamente comum que fêmeas de nossa espécie abandonem suas carreiras ou, após atingirem um status social tipicamente masculino, acabem dando "um tempo da vida profissinal" para se dedicarem ao feliz nascimento de uma criança, para que possam se sentir "completas". Mas a maioria das mulheres normalmente nem chega a ter uma carreira e, já na adolecência, caem na armadilha da maternidade. Tornando-se economicamente dependente de seus maridos/homens.
Fêmeas humanas ou Mulheres animais
Compreendemos que a imagem... que temos de nós mesmas é fruto da atividade que desenvolvermos durante nossa existência. Para as Maçãs Podres, a humanidade se expressa e faz no seguinte axioma: “existo, logo trabalho; trabalho, logo penso; penso, logo sou”. Se "a mulher" existe porque possui “o poder de ser mãe", logo a maternidade é a condição natural que nos torna o que somos. Como humanas, somos o produto natural de nossa "existência maternal". Mas se os seres de nossa espécie diferenciam-se dos demais animais pela sua capacidade de trabalhar (construir e transformar), logo a condição natural da humanidade é a transformação e não a reprodução. Então reproduzindo a animalidade o quê somos e o quê mais seremos? Perpetuar o "sonho da maternidade" significa que nos manteremos na condição dependente que foi imposta. O empreendimento masculino é naturalizar a maternidade (“instinto materno e familiar”). Tal estratégia facilita nossa dominação, sem que sejam necessário qualquer enfrentamento direto, como por exemplo o estupro. Se a maternidade "ocorre" por feliz escolha própria (ou por instinto "natural das mulheres"), como se apresentam os discursos machistas, nada poderiamos fazer para superar nossa condição, já que "voar é natural as aves". É como se nunca existisse opressão masculina, pois estariamos destinadas a tal condição, dada a nossa função biológica, esquecendo que há muito somos seres sociais. Então fica aqui a pergunta: "se está na reprodução a principal função social das mulheres, o quanto estamos distantes da condição de simples animais/presas?"
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro

PS.: explicaremos no próximo texto o quanto a maternidade é materialmente útil para a conservação do poder masculino.
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¹ - Para ter a exata compreensão do termo “colaboracionistas do machismo” leia: http://nucleogenerosb.blogspot.com/2010/01/dialogoscom-simone-de-beauvoir.html

8 comentários:

Tatiane R. disse...

Ola pessoal. Por que vocês não escreveram este texto a dois anos atras????
Não que tenha tido um filho. Bom, a dor foi de dar a luz...mas na verdade fiz minha monografia sobre a maternidade e violência sexual contra criança e adolescente.
Como estagiava com crianças e adolescentes vitimas de violência sexual e percebia que os técnicos, a mídia, culpabilizavam mais a mãe do que propriamente o pai agressor. Com frases, do tipo:
"Onde estava a mãe daquela criança" "Mas também não parava em casa" "Trabalhava porque queria e olha que aconteceu ao filho, agora reclama!"
Isto me instigava (leia:revoltava). Afinal, em relação a infância violada a mulher teria os supra poderes de salvar a humanidade?
As expectativas que a sociedade coloca na mulher/maternidade é como um microcosmo que age por si só, tem poderes especiais e são as respostas para uma sociedade melhor e saudavel!
Vamos virar uma giraia da maternidade, né!kkkkk
O que mais me indignou foi os estudos, brilhantes, de Jurandir Costa que diz que a Medicina-Higienista em dado momento histórico instiga a mulher a amamentar dizendo que esta pratica proporcionva gozo sexual!
Eu hein, quanta artimanha...jesus!!!!!
Eu teria um monte de coisa para falar...mas queria indicar mesmo um livro que fala da mídia e a opressão da mulheres em relação a maternidade...é o "Mãe de todos os mitos. Como a sociedade modela e reprime as mães"- Aminatta Forna.
Sem falar dos livros de Mary del Priore. Principalmente: "Ao sul do corpo:condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil Colônia.
Ou mesmo filmes como Juno, que a maioria tem mal estar em assistir (por que será, né) ou Desmundo...
aí jesus, vou ficando por aqui!
Ana Laura

IGN-UP! disse...

Na boa,vcs já estão entrando no fanatismo,para não dizer loucura...se ser mãe é tão insultuoso assim,é um "projeto masculino" como vcs nasceram então? Vcs tem mãe? Imagien se elas as abortasse ou tivessem tal mentalidade,nem existir vcs existiriam.

Este blog se corrompeu.Depois de ter visto vcs defenderem prostituição,violência masculina extrema como algo "legitimamente" feminino,como se fôssemos nós a inventar tal atrocidade,me desiludi e não mais confio na tal insurreição feminista que vcs estão propondo(imagino o quanto de ofensa devem ter me escrito lá).Ao invés de verem a maternidade e educação das crianças como algo a nosso favor para construir um mundo mais justo,ficam com esta ideologia insana.

Já estou percebendo que no fundo,toda feminista revoltada neste sentido tem profunda vergonha de ser mulher.Daqui a pouco vão alegar que mestruação é um "projeto masculino" de Deus para nos punir.

Adília disse...

Texto muito bom embora precisasse em minha opinião de ser trabalhado no sentido de se tornar mais acessivel. As ideias parecem-me correctas mas a forma um pouco brutal e radical em que estão vazadas pode comprometer a mensagem. Além de que vai sempre haver quem nem sequer percebe o que se está a dizer, mas aí não há volta a dar-lhe.

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Ana Laura, Isolda e Adília agradecemos os comentários .
1- Adília, concordamos com vc, o objetivo do blog é dividir o conhecimento que adquirimos com os estudos, o que muitas vezes faz com que os textos saiam menos lapidados do que queríamos, mas posteriormente iremos aprofundá-los com um objetivo maior que um blog.
2- Isolda, preferiríamos que vc extraísse os trechos que discorda em nossos textos para contribuir com nossa formação, assim como pretendemos contribuir com a formação de outras feministas. Teremos imenso prazer de alterar qualquer questão que nos convença do contrario, evitando ataques pessoais, pois assim como vc, o fim do machismo é o objetivo de todas aqui.
3- Ana Laura, agradecemos as indicações e com certeza iremos atrás deste material, é assim que se faz um troca real de saberes. Infelizmente a dois anos atrás ainda não existia as Maçãs Podres, esperamos que vc leia todos os textos produzidos sobre este tema, colabore com a produção através de idéias, indicações e quem sabe venha produzir um outro estudo a partir da integração que vamos trocar aqui.

Saudações feministas

Adília disse...

Caras Maças podres
Acabei de colocar no meu blog um texto sobre anti-feminismo e maternidade que talvez tenham interesse em ler. aqui fica a notícia,
Abraço, adília

Kassan! disse...

E claro que essas garotas ''feministas'' não passam de extremistas vomitando seu ódio contra tudo e todos. Se alguém faz um crítica contras as onipotentes Maças Podres e logo considerado um reacionário machista.., ou uma mulher alienada pelo poder do patriarcado.

Esse tal grupo Maças Podres, representa bem o pensamento neofascista que ganha força a cada dia. Simulando estarem ao lado do Povo e das mulheres oprimidas, esse grupo esta apenas disserminando uma idelogia de guerra de sexos.


Maças Podres não tem consistência para estruturar nenhuma idéia politicamente produtiva, pois a única missão dessa mulherada pseudo-revolucionária e ficar criando sofismas, e mais sofismas.


Eu até chego a dar risadas após ler os textos colocados nesta pagina. Não sei a onde esse grupinho neofascista deseja chegar pregando essas idéias toscas.

dream disse...

Oi, Maçãs.
Gostei do tema, mas me assustei com a parte final. Vocês escreveram: a humanidade se expressa e faz no seguinte axioma: “existo, logo trabalho; trabalho, logo penso; penso, logo sou”. E como o trabalho da mulher é a maternidade isso a diminui? Não entendi mesmo. Para vocês só o trabalho remunerado, voltado para o mercado, é importante? Ser mãe, o trabalho de cuidados e outras atividades são menores? Acho que seria mais interessante valorizar as atividades desvalorizadas pelo capitalismo do que empurrar as mulheres (mães ou não) cada vez mais para dentro do sistema escravizante. Não entendi onde o texto quer chegar. Mas gostei do tema. Parabéns.

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Oi dreamnwork
Boa questão para objetivar o tema, tentaremos ser diretas para eliminar as dúvidas:

1- “Os trabalhos de cuidados” como os conhecemos hj se caracterizam como consequência da divisão das atividades produtivas entre os sexos. A medida que as mulheres foram excluídas das terras e enclausuradas no mundo privado, após o surgimento da propriedade privada, todas as derivações das atividades do lar ficaram para as mulheres. Nesta divisão, não somos nós quem diminuímos seu status social, mas identificamos neles a posição de trabalhos braçais e não de chefia, ou seja, nos trabalhos de cuidados estão implícitas as divisões sexuais que delegam as mulheres uma segunda posição social, que não transformam a natureza em materiais de subsistência humana e não colaboram para a transcendência do ser e do conhecimento. É por isso q em geral a medicina é dominada por homens e cabe as mulheres o papel de enfermeiras. Assim nos opomos a esta fragmentação e escala hierárquica que reproduz nas mulheres (negros e pobres) os papeis de comandados sociais.

2- Sobre a escravidão capitalista, não basta as mulheres se incluírem no mercado de trabalho, mas tb não é suficiente para qlqr pessoa estar excluído de seu modo de produção, pois a lógica deste momento histórico é que cada pessoa é o q ela faz/produz. Qndo alguém pergunta a outra pessoa “quem é vc”, todas responde o nome e a profissão. Isso pq esta implícito na pergunta “qual é a contribuição desta pessoa para o mundo”. Enquanto “mãe”, a mulher apenas reproduz as condições naturais que o destino biológico lhe impuseram, não existe transcendência humana ou conquista prévia de conhecimento por esforço intelectual, mas na condição de cientista, engenheira ou militante, a humanidade transforma as bases do mundo deixando condições materiais e resquícios históricos de sua existência. Basicamente todas as mulheres que de algum modo ultrapassaram os limites da morte e se firmaram como pessoas registradas na historia humana, não o fizeram apenas pela maternidade, esta a historia apagou, mas o fizeram pela politica, ação, pensamento e trabalho para além dos muros do lar. A ideologia da maternidade é um trabalho de manutenção da humanidade enquanto, queiramos ou não, as atividades capitalistas são para a produção e transformação da humanidade, somos contra a ideologia materna pq toda e qlqr mulher possui muito mais atributos para desenvolver e contribuir com a humanidade em geral do que a simples condição de ter filhos como a séculos foi instituído.

3- Assim o axioma apenas afirma que o trabalho (esforço de transformação) é a condição humana de ser um ser social, através do que se aprende pelo trabalho, se constrói a identidade individual e coletiva, e com tais conhecimentos o ser humano atua e transforma o mundo e a historia da humanidade. A reprodução biológica não nos faz humanos, mas apenas confirmam nossa animalidade, e presa apenas a maternidade, toda mulher possui mais condições de se encontrar presa as divisões sociais que a aprisionaram no espaço privado e construíram o mundo como espaço masculino. As contradições existentes no mundo do trabalho de mercado acrescentam a qlqr ser humano conflitos sociais q em muito contribuem para sua capacidade de entender a realidade da opressão humana, presa as paredes do lar toda e qlqr terá uma visão bem limitada de sua importância para a humanidade. Se uma mulher é apenas “mãe” ela pensará apenas como “mãe”, defendendo inclusive os valores da propriedade privada que gera a exclusão, mas enquanto, mãe, operária e militante, por exemplo ela possuirá uma percepção muito mais aguda, dada as dificuldades que terá q enfrentar, sobre a desigualdade q é ser oprimida, mulher, pobre, negra, lésbica etc.

Esperamos ter ajudado, agradecemos os elogios e saudações feministas.