Nos meses de Junho e Julho de 2010, Nós Maçãs Podres - Grupo de Intervenção Feminista - desenvolvemos duas ações externas: a primeira na Cidade de São Bernardo do Campo e a segunda junto ao ponto de cultura Comunidade Cultural Quilombaque, no Perus - São Paulo.
Junho:
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Junho:
Em São Bernardo do Campo, Ana Clara Marques foi convidada para debater as questões de gênero e pintar no Encontro de Graffiti para Mulheres.
Por estarmos num espaço estritamente masculino e com uma forte resistência para refletir as questões de gênero, levamos um vídeo que abordasse de forma direta o papel violento do homem estabelecendo as origens culturais deste comportamento. Apenas quatro mulheres do Hip Hop estavam presentes, elas relataram as dificuldades das mulheres estarem em espaços públicos e dentro de uma “cultura masculina”. Deram ênfase ao fato da sociedade cobrar-lhes a permanência dentro de casa. Já a participação masculina ressaltou a desigualdade no aspecto racial, identificando as similaridades com o machismo.
No dia do mural preparamos uma intervenção "agressiva" que teve diferentes signos do consciente coletivo na elaboração. Os três Macacos Sábios (KIKAZARU- 'não ouça o mal' , MIZARU-'não veja o mal' , IWAZARU-'não fale o mal'), o símbolo do Feminismo e o Martelo Comunista estavam entre estes elementos.
As cores fundamentais da composição foram azul e rosa/lilás, por serem as representações mais comuns dos sexos masculino e feminino. Cada uma posicionada com definições de espaços público e privado.
Também foi elaborada por Patrick Monteiro uma poesia ("MIUDEZAS"¹), para compor o muro, com objetivo de desvelar o machismo existente no mito da fragilidade feminina.
Durante a intervenção, as reações foram as mais diversas, desde graffiteiras vindo elogiar a "delicadeza" do trampo, crianças paradas ao redor vendo os desenhos, Secretário de Cultura puxando conversa de projeto, mulheres com cara de que não gostaram do poema e bebado aplaudindo representação das bonecas. No vídeo, Ana Clara Marques comenta o painel.
"Fernanda contou um pouco da sua experiência (...) em um projeto que realizou em parceria com escolas, unindo graffiti e literatura, a partir do estudo de obras de autores brasileiros. Destacou também a importância de conscientizar o público com ideias e palavras nos graffitis, além de ressaltar que o graffiti enquadrado em galerias de arte não tem o mesmo impacto que o exposto nas ruas da cidade."
Ao final da apresentação, expandimos o tema em questão para um debate sobre a construção da masculinidade do homem negro e seus reflexos dentro do Hip Hop. Falamos de como as relações raciais e econômicas são produtoras do imaginário coletivo de mulheres (negras e brancas) e quais comportamentos e consequencias nascem de tais relações sociais. Para nossa feliz surpresa, tanto as mulheres quanto os homens que estavam presentes no espaço mostraram-se sensíveis a conversar sobre gênero e economia patriarcal.
Eis que esta foi também uma ótima experiência pra nós.
Eis que esta foi também uma ótima experiência pra nós.
Vídeo e Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
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¹-As miudezas nos tornam delicadas. (LIMITADAS)
Somos bijuterias que imitam jóias raras,(ESCRAVAS)
Rainhas de um reino de miniaturas.(SENZALAS )
É pq vivemos presas em casinhas de boneca (CONTO DE FADAS )
Que o mundo dos homens nos assusta, por isso...
Destruam com BOSTA destas estruturas!
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Foto do Poema: Nina Vieira
Fotos e texto do Quilombaque: Sílvio Luz
Fotos e texto do Quilombaque: Sílvio Luz
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