31 de mai. de 2009

Fantasia Sexual e Apologia ao Estupro

Meninas com pirulito na boca, com saias de colegial, meias 3/4, rabos de cavalo, cara de inocente, com um ar de que tudo é uma brincadeira. Ficou excitado? Calma, não fique assustad@s e nem se sentindo culpad@s achando que vão pro inferno, isso é simplesmente nossos desejos sendo manipulados pelo sistema econômico em que vivemos. No fundo o lema é: “vinde a mim as criançinhas”! E para nossa imaginação aflorar ainda mais, temos um arsenal de objetos eróticos, roupas sexuais, revistas pornô e pasmem até vídeo games. Todo mundo se assusta quando assisti na TV reportagens sobre pedofilia? Vocês ficam revoltad@s? E se pegam o pedófilo, tod@s querem matá-lo jurando fazer justiça? É..., até parece que as pessoas estão realmente dispostas a mudar a mundo.

Mas quem não lembra da Xuxa novinha, com voz de criança, dois rabinhos de cavalos, com um batom rosa me delineado, um jeito meio moleca, roupinhas estrategicamente curtas dando cambalhotas no ar? Ficou excitado? Calma... pois o pai já assistia tudo aquilo e, quando chegava a noite, ele tinha “o maior dos pesadelos”: fica louco de tesão com aquelas imagens. Era quase como trepar com as amiginhas proibidas de sua filha.
Agora, imagine o poder que as imagens de um vídeo game podem causar na mente de meninos e meninas que já se acostumaram a acreditar que “um tapinha não dói”. Eis que o ápice da propaganda da violência machista sobre as mulheres surge para estimular as mentes e as práticas sexuais das futuras gerações e de todos os degenerados que sonham com o estupro de mulheres para se masturbarem na madrugada. O nome do jogo é Repelay. Criado em 2006, no Japão e comercializado no centro de São Paulo, vence o game, o jogador que estuprar o maior número de mulheres e meninas. O jogo se inicia com a mão do agressor molestando o corpo de uma jovem mais pura e virginal, tudo dentro de um vagão de metrô. Nas fases seguintes as mulheres/meninas se mostram cada vez mais sexys e insinuantes e o bônus é escolher a posição em que ele poderá estuprá-las. Uma das maneiras de se ganhar mais pontos é coagi-las a abortar se engravidarem (interessante, não?).
É graças ao Mito da Emancipação Feminina revistas do tipo Vogue, Marie Claire, Casa e Jardim, que hoje as mulheres nem mesmo se manifestam diante de tais absurdos. Estas propagandas de mídia criaram a mentirosa sensação de que não existe mais machismo se não for as das mesas de bar com suas piadinhas sujas e cheias de cafajeste malícia ou olhadas constrangedoras dos “amigos de trabalho”.
O mais ridículo é que nos últimos oitenta anos depois da primeira vitória feminista, a conquista do voto, “as mulheres emancipadas” são sinônimos de sensualidade, exemplo profissional e dedicadas mães de família, entretanto jamais são ativas na reivindicação de uma mudança legitima nas estruturas sociais. Excluindo as politiqueiras que assumiram cargos públicos e jamais se envolveram em qualquer tipo de manifestação organizada em favor do fim do machismo, a luta feminista continua sendo a única capaz de acabar de vez com toda psicologia do poder característico ao sistema capitalista.
O jogo Rapelay, numa tradução livre “tentativa de estupro”, prova que o machismo vai muito mais além do que nós pensamos. Se todas as mulheres se conscientizassem da importância da luta teríamos condições muito mais eficazes de se promover uma revolução, devido à ameaça que nós representamos a sociedade, como escreveu Firistone:
“na verdade todas as minorias oprimidas juntas, sem supor nenhuma luta faccionária corpo a corpo, não constituiria uma maioria – a não ser que as mulheres fossem incluídas (por exemplo, nos Estados Unidos apenas 15% da população é formada por negros). O fato de as mulheres viverem com homens, nalguns níveis nossa pior desvantagem – pois o isolamento das mulheres umas das outras foi responsável pela ausência ou pela fraqueza dos movimentos de libertação das mulheres no passado – é, num outro sentido, uma vantagem: (imagine) uma revolucionaria em cada quarto de dormir (...). E se quem está se revoltando é a sua mulher, você não pode escapar para os subúrbios. O feminismo, quando ele realmente atingir seus objetivos, fará estourar as estruturas mais básicas de nossa sociedade”

Bem temos algumas opções diante deste problema:
1)- vamos continuar este joginho sórdido e assistir o previsível final;
2)- sair às compras e trazer pra casa a lingerie da moda;
3)- vestir nos filhas como adultas e espera que um príncipe encantado ou lobo mau venha a encontrá-las dentro de um metrô após jogar Repelay;
4)- vamos tomar as nossas vidas nas mãos, com armas de fogo e castrar todos os machos que conhecemos;
5) ou já é hora de lutarmos e parar de fingirmos que o machismo acabou, que somos mulheres emancipadas?

Texto:
Ana Clara Marques e Patrick Monteiro

7 comentários:

Élida Regina Pereira disse...

Muito bom!!!!!

MONICA disse...

Ana Clara e Patrick:parabéns pelo texto.Assim penso também,que nesta virada pseudo feminista,ou mulheres emancipadas,acbam fomentando mais e mais o penis crítico.Cabe sim,as mães,avós,e todas as mulheres que estão cuidando de meninas,instruí-las a serem combatentes da sordidez do marketing,dos programas na tv,da erotisação precoce.E,acima de tudo,falar,conversar,fazer grupos de estudo só porque:no hospital das clínicas em São Paulo, o dr responsável pela psiquiatria,nos diz que tem 250 casos mes,de meninas,estrupadas dentro de casa cada mes:o Pérola Bynton,tem inúmeros casos de meninas de 12,10,13 anos que são levadas lá para o aborto,cujos "pais" ou pedaços de bosta,são os próprios familiares,qdo.não os pais.Sigamos à frente,escrevendo,falando,ensinando,pois a batalha é dura!bjs

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Olá Monica, concordamos que estamos vivendo uma falsa sensação de emancipação feminina, tudo bem orquestrado a fim de evitar o enfretamento social. Mas acreditamos que a responsabilidade do cuidado de todo este mercado sexual infantil seja responsabilidade de homens e mulheres, a fim de não impor e continuarmos a reproduzir o papel de cuidadora. Até porque, o debate sobre a sexualidade das crianças é um tema complexo já que a sexualidade pro adulto é tratada de uma forma e para criança é outra. Se nós lançamos nossos olhares maliciosos sobre as crianças isto não significa que as mesmas não possuam sexualidade, o que nos preocupa a preservação do jogo de poder nas mãos dos homens adultos, brancos e burgueses. Quanto aos dados que vc trouxe é aterrorizador, mais precisamos repensar formas de acabar com esta relação de poder sobre o corpo de mulheres, crianças, idosos etc. Portanto, exigir a emancipação da mulher é por conseqüência libertar crianças, idosos, jovens, negros ou qualquer oprimido das estruturas que nos oprimem.

beigesilkworm disse...

Não é o mito da emancipação que causa isso,é a acetação da vulgarização extrema que sofremos.Num país em que pornografia e prostituição são consideradas "direitos da mulher",inclusive defendida pelas mesmas,o que pode se esperar? E no país de origem,Japão,ocorre a mesma coisa,tanto que quando as garotas completam 15 anos,ganham um album sensual par ser postado na net.Ou seja,o probelma está também em nós mesmas que chamamos de "liberdade sexual" a nossa intensa exploração.
E outra coisa que dificulta mais ainda a luta é esta insistência e que só homem branco e burguês é que é machista(como se negros,pardos,descentdentes de japoneses,etc não o fossem) e que os outros ramos da sociedade sofrem a mesma opressão absurda que nós.O problema do idosos é outro,o problema do jovem é outro..o que tem a ver nesta temática?? Um homem jovem ou idoso corrre o risco das consequências do Rapelay??? Por que isnsitem tanto em misturar as coisas,ou será que o feminismo não consegeu existir por si só e precisa sempre de alguma outra causa para se segurar?

GRIF Maçãs Podres - Anonymous disse...

Madressilva,
Chamamos de Mito da Emancipação Feminina o bombardeio ideológico, exposto na mídia, na política e no plano econômico, que afirma a igualdade entre homens e mulheres, como se não existisse mais motivos para uma revolução feminista, dando uma sensação de que somos donas de nosso corpo. Ou seja, “a aceitação da vulgarização extrema” é conseqüência deste mito, pois antes da luta feminista radical dos anos 60/70 a vulgarização da imagem da mulher era inaceitável por puro moralismo, deste modo, não aceitar a vulgaridade imposta pelos homens às mulheres (aceita por algumas) tanto pode ser um ato político radical quanto uma ação reacionária do moralismo cristão. Devemos ter cuidado com nossas posições, pois estamos no limiar do pornográfico e o erótico. Alem de que o vídeo-game não é pornográfico e sim uma apologia a violência física e psicológica contra as mulheres.
Você propõe que se proíba a prostituição e a pornografia? Ou, que as mulheres se conscientizem da moral, das proibições, do lucro que os homens extraem destas atividades?
Nem santa nem puta...concordamos que em nome de um pseudo liberdade sexual (mito da emancipação feminina) a exploração do corpo feminino tem rendido muito mais riqueza economica aos homens do que uma quebra dos papéis sexuais de nossa sociedade machista.

Hoje o sistema político é baseado em dividir os problemas para facilitar a dominação; por princípios fundamentados em Simone de Beauvoir, Shulamith Firestone e Karl Marx, não queremos incorrer no erro de não aprender que secundarizar qualquer questão de opressão pode gerar um sistema que supere apenas um tipo de opressão e reproduza os demais tipos de exploração, exemplo, a questão feminina dentro da URSS. Ou seja, um homem jovem ou idoso que não responda pela normatividade hiper masculina heterossexual pode sim ser vitima do Repelay.
E como a base de nossas leitoras não são homens brancos, heterossexuais, burgueses, adultos e sim mulheres negras e brancas, jovens e idosas, pessoas de diversas orientações sexuais e pessoas que estejam disposta em acabar com o capitalismo, nossa proposta aqui é escrever sobre a opressão da mulher estabelecendo relações com as outras formas de opressão e estimulando os germes de uma futura revolução aos moldes do enfretamento radical.

Abraços
Maçãs podres.

Márcio disse...

É sou testemunha da imbecilidade do homem em tratar a mulher como apenas objetos sexual, sempre que digo em roda de colegas de trabalho que sou fiel a minha mulher sou tratado como uma aberração! Vejo isso em todas as esferas da sociedade. Parece que um programa de televisão de entretenimento tem que ter mulheres em trajes minúsculos, dançando! Tratando a mulher como cidadãos de segunda classe. Isso é uma aberração! Fica aqui registrado meu apoio total a causa feminista! Os homens nunca deveria esquecer de respeitar e admirar o primeiro ser que ele amou!

IGN-UP! disse...

Mais um texto descoberto no "maçãs mais lidas".Creio que tinha comentado com vcs o descaso que minhas conhecidas manifestaram quando mencionei este jogo....e este caso foi resolvido,tipo,o jogo ainda existe por aí?

Eu não me lembro onde eu comentei sobre as comunidades do orkut que pregam estupro de lésbicas...foi resolvido também?