Os filhos bastardos do mundo
“A representação do mundo, assim como o próprio mundo foi tarefa dos homens; eles o descreveram segundo seu ponto de vista particular que confundiram com a verdade absoluta.” O que a maioria dos homens não perceberam, é que são os filhos bastardos de um sistema que se justifica por um “pênis que eles não tem”. Todo o esperma que eles recebem são migalhas produzidas nos testículos de seus dominantes. A verdade é que os homens que defendem a causa feminista como algo importante, como qualquer outro homem neste planeta, tem privilégios maiores do que sua necessidade de romper com o machismo. Os homens não querem deixar o papel de predadores, e para serem predadores eles precisam de presas.
“A cultura é a tentativa dos homens de realizar o imaginável no possível. (...) Mas o homem não foi somente capaz de projetar o imaginável na fantasia. Acumulando conhecimentos, aprendendo, através da experiência sobre esta realidade e a como manipulá-la, ele pode molda-la a seu gosto.”
Por isso a qualquer manifestação ou tentativa de autonomia, os homens gritam para assustar as mulheres. Levantam as mãos para abaixarmos a cabeça ou são cordiais para erguerem o falo. Contudo, eles se assustam porque estamos gritando mais alto. Estão raivosos porque estamos levantando as mãos e mantendo nossa cabeça erguida. Estamos rompendo com os papéis e adquirindo conhecimento. Conhecimento é poder, e mulheres reunidas em busca da superação afeta a identidade dos machões que construíram sua superioridade através da intelectualidade.
Assim como ocorreu com os homens: "Esse acúmulo de habilidades para controlar o meio ambiente, a tecnologia, é um outro meio de atingir o mesmo objetivo, a realização do concebível no possível. Assim em nosso exemplo se na era a.C. o homem podia voar no tapete mágico do mito ou da fantasia, no século XX sua tecnologia, o acúmulo de habilidades práticas, tornou possível para ele voar na realidade - ele inventou o avião." Fica fácil entender agora os motivos e o fato da reação dos homens contra as mulheres ir muito além da discordância de nossas concepções teóricas. Os homens ficam realmente emputecidos com as mulheres que produzem algo que a intelectualidade deles ainda não tenha feito. Os homens que defendem a importancia do feminismo não estão preocupados com a causa senão apenas através do discurso. No fundo o que realmente buscam é seu lugar na história construída por eles mesmos. Os homens não aceitam que a base teórica da abolição da escravatura humana seja pensada e redigida pelas mãos das mulheres.
Quando nos perguntam, o que vocês mulheres feministas – maçãs podres de uma sociedade patriarcal – estão fazendo, respondemos: "Não estamos fazendo nada que Karl Marx não tenha feito."
Se os militantes escolheram pegar aviões e lançar palavras ao vento, a cada frase escrita por uma mulher, nossa escolha de nos manifestarmos vai muito além das fronteiras territoriais, rompendo com os muros, construindo uma história para além da morte. As histórias que os homens tem para contar falam de paisagens masculinas e nós falamos de pessoas independente de sua genitália. Se falam de povos específicos, nós falamos da humanidade. Muitas vezes como papagaios cantarolando frases repetidas, os homens não se dão conta que nós estamos cantando com a voz dos rebelados que escutamos nas lágrimas de Mercedes Sosa. O ouvido masculino desconhece a nossa música. Eles querem a liderança e nós estamos nos tornando líderes, eles acreditam que são fortes e nós estamos mostrando o quanto eles são fracos, nós estamos rompendo com a superficialidade e eles não querem este rompimento, nós apontamos as lacunas e eles se utilizam das brechas.
Era uma vez um príncipe encantando, ele acreditava que tinha uma grande arma, uma espécie de vara que tudo transformava. Ele acreditava que só ele tinha o poder, que poderia enfrentar dragões, gigantes, entrar em matas e desbravar o perigo, saindo sem nenhum arranhão. Ele acreditava que era bom. Que lutava pelo bem. Acreditava que tinha um encanto e só olhar para uma fêmea e ela estaria aos seus pés. Mas num grande dia o coitado caiu, se machucou, se perdeu mata adentro, sua arma não era poderosa e, para seu desencanto, a mocinha não precisava ser salva. Na verdade o príncipe caiu no conto da Carochinha, onde só tem personagens masculinos. A realidade não é esta. A realidade é que os homens se veem refletindo e repetindo o papel de herói deles mesmos. Mas nós mulheres não seremos salvas por ninguém que não sejamos nós mesmas, pois "a consciência que o ser humano tem de si mesmo dentro de seu meio ambiente, distingue-o dos outros animais inferiores, e transforma-o no único animal capaz de fazer cultura."
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro.
3 comentários:
Muito bom trabalho meninas...
Tenho de vir por cá mais vezes...
E venho sim... bjos
Lindo o vídeoooo...gostaria de divulgar no eu blog. Com autoria, claro...
Olá Ana Laura, pode divulgar sim, esta é a nossa intenção. Dê uma olhada nos outros videos que montamos.
Nana Odara, valeu pelo incentivo!
Viva a luta feminista!
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