(Como o texto abaixo contém imagens explícitas, por questões ideológicas e políticas, só continuem a leitura se forem feministas ou maiores de 18 anos. Este texto é uma continuação/conclusão das publicações de setembro sobre o tema pornografia "feminista". Para ler todos click no menu "pornografia")
Depois do que explanamos nossas considerações sobre o "porn feminist", nós maçãs podres preparamos alguns testes de imgem para que vocês possam elaborar suas considerçôes frente este tema.
para cada uma das imagens numeradas de um mesmo filme pornô na "Foto1" associem-na com um dos termos a seguir:
"cavalheirismo", "submissão", "fetiche masculino", "dominação sexual", "opressão" e "fantasia sexual masculina".
O objetivo deste teste é que a feminista identifique alguns dos códigos/mensagens que vinculam a imagem das mulheres dentro dos termos expostos na série de estudos que publiamos sobre pornografia.
Foto2 - clique na foto para ampliar |
As respostas dos dois testes estarão no corpo texto, logo abaixo, em que nós, Maçãs Podres, concluimos este estudo sobre a chamada "pornografia feminista".
Anos de 1960- Libertação sexual
Foto3 |
Em oposição ao patriarcado, durante e após as iniciativas libertárias dos anos 1960, artistas feministas produziam trabalhos que muitas vezes deixavam expostos os seus corpos nus, a fim de se transformarem em sujeitos de ação artística e não objetos de contemplação visual.
Estas mulheres usavam seu próprio corpo e expressavam o interesse contemporâneo de projetarem uma imagem metafórica de libertação em suas obras. Elas estavam em consonância com os ideais de libertação de seu tempo e expressavam na arte a luta pela liberdade dos corpos e contra a hipocrisia conservadora da sociedade machista.
A nudez (quando existia) possuía significado de libertação social ou demonstrava o peso da opressão social/masculina sobre as mulheres. Entre tais artistas podem ser destacadas Marina Abramovic, Judy Chicago e Joan Jonas (foto ao lado).
...e Contracultura
Contraditoriamente, na mesma época, a produção pornográfica também ganhou um falso status de “liberdade sexual”, nos setores mais “moderninhos” da sociedade. Em oposição ao moralismo e a castidade religiosa imperante.
Nestas películas, mesmo estigmatizados, havia espaço para relações interraciais (mostrando o corpo negro masculino como força física selvagem), para a "imoralidade de homem branco" (mostrado como operário/marginal), que simbozava a "eroticidade" ausente dos maridos “bem comportados”, e também para "as mulheres subversivas" (jovens “abertas” para estabelecer relações com pessoas excluídas da sociedade).
Parecia que a marginalidade “pornográfica” poderia ser uma aliada na luta contra a hipocrisia moral e o conservadorismo religioso e machista, já que na pornografia estavam contidas todas as práticas que “mulheres e homens de bem” não deveria fazer e muito menos pensar.
Essas práticas, no entanto, se apresentavam permitidas aos olhos das mulheres e homens quando dentro de quatro paredes. Era assim naquela época e ainda é assim hoje.
Porém, o segredo do fetiche pornográfico nas mulheres é e sempre foi conservador, os estereótipos da puta e da santa designados para nós. Como estes dois extremos antagônicos servem de base para a sexualidade feminina no patriarcado, os materiais pornôs acabavam por retratarem o modo com o qual a construção de nossa sexualidade fragmentada tornava-se cada vez mais esquizofrênica. Não havia subverssão, apenas constatação sobre a hipocrisia sexual que a sociedade vivia.
No máximo, a pornografia pode apenas expressar, e nos fazer compreender, quais eram os valores morais "daquela" sociedade e o quanto estamos presas a estes valores.
Tenham certeza, pode-se avaliar muito bem uma sociedade conservadora pelo nível de consumo e pornografia que ela produz.
Castração sexual e Sexualidade fregmentada
Educadas para a castração sexual, nós mulheres devemos demonstrar na rua a assepsia sexual a que somos submetidas. Graças a castração que sofremos, a necessidade de obtermos algum prazer, estabelece uma relação direta com as normas institucionais. Os dispositivos de controle institucional (Religião, Estado e Família) nos direciona para que venhamos a ter prazer no consumo e isso se reflete em tudo que for produzido socialmente.
Como os meios de obtenção do prazer que conhecemos foram historicamente construídos a partir das sensações e situações de poder e de dominação, a pornografia reafirmará esses valores. Por isso que a pornografia feminina acaba também por reproduzir a necessidade de "uma limpeza estética" e "um romatismo", tipicamente "feminino".Não há hibridismo, nem mesmo uma suave oposição, tais filmes são apenas pornografia "para mulheres".
Pornografia Pós-feminista
Se em alguns momentos íntimos, algumas mulheres sentem prazer na sujeição sexual, isso só significa que tais pessoas foram culturalmente educadas para o fato. Mas enquanto dominadas, estas ainda encontram-se na condição de sujeito de uma ação, podendo buscar o equilíbrio ou mudar de situação a qualquer momento. Porém, isso não significa a mesma coisa de observar passivamente a sujeição sexual alheia e, desta maneira, obter alto prazer.
Assim, o produto-pornô não pode ser nem feminista e nem tão instigante para nós como é para os homens, pelo simples fato de que a indústria pornográfica surgiu, serve e lucra com o deleite da exploração e exposição do corpo feminino. A evidencia disso é a necessidade do sistema capitalista em criar tal nicho de mercado. Não poderia ser diferente, logo que somos seres sociais, expressamos a sexualidade ocidental, pautada pelo consumo e pela mercantilização dos corpos. Só que feminismo não é nada disso.
O discurso de satisfazer as necessidades sexuais das mulheres, por estarem cansadas de sofrerem humilhações nas filmagens, ou por considerarem os filmes que fizeram “superficiais e nada artísticos”, é reflexo do discurso reacionário “contra-feminista” já que estas pessoas continuaram a produzir pornografia. A lógica de que “a igualdade entre os sexos já foi atingida, e agora temos que replicar o mesmo que é produzido para os homens”, demonstra ser um oportunismo atroz. Esta é a chance que o mercado concede a algumas mulheres de produzirem e dirigirem filmes ao invés de atuar neles, desde que isso venha a gerar lucro e satisfação aos machos.
Foto4 |
Ética Feminista não é Estética Feminina
Nas condições em que se encontram as relações de gênero na atualidade e com a deturpação dos ideais das lutas feministas, incluindo a massificação das teorias pós-feministas e contra-feministas (backlash), muito mais do que dificultar a sustentação do mercado sexual pornô, a atual conjuntura possibilita uma “abertura do mercado consumidor pornográfico” para além do gênero masculino. Não seriam as pseudo mudanças estéticas impostas pelas diretoras pornô que alterariam este panorama. Replicar os homens não é nada mais que conservar o machismo sobre as bases da feminiliadades criadas pelo próprio machismo (veja na Foto4). Como a dinâmica econômica do patriarcado é ampla em transvalorizar ideais, o que as diretoras pornôs acharam mesmo foi uma oportunidade de criarem um nicho comercial capaz de se apropriar do discurso da “emancipação feminina”. Esta é uma solução barata e muito parecida com a alternativa utilizada nas estruturas escravocratas brasileiras: outorgar a “liberdade de produção” de fêmeas de nossa espécie em dirigirem, escreverem e produzirem filmes pornográficos, assim como foi feito com os capitães-do-mato e feitores (homens negros que caçavam e “supervisionavam” o trabalho de seus iguais).
Não existe pornografia Feminista
Como afirmamos no primeiro texto que "Não é nenhuma revolução sexual colocar seda nas cortinas, recitais de literatura nos diálogos ou música clássica nos filmes pornográficos. Não importa se existam floreios, requinte estético ou busca por atuações mais consistentes, quem está com a câmera na mão, quem tenha escrito o roteiro, feito a direção, a produção ou se as alcovas estão decoradas com as tradicionais fantasias e fetiches femininos, pornografia jamais será feminismo". Eis a realidade concreta,“as cineastas pornôs” colocam suas mãos na pornografia, recolhem o rico dinheirinho e submetem outras mulheres a exploração sexual, sem que possam haver criticas feministas a participação masculina. Tanto que todas as imagens na "Foto2" são de filmes da Petra Joy, Erika Lust, Anna Span, e Courtney Trouble. Assim como as imagens da "Foto1" são do filme "Handcuffs" da Erika Lust, e cada segundo de imagem pode ser assistido e associado a algum dos volores. O pior mesmo a conivência feminina com estes filmes. Pois neles, os órgãos sexuais são simplesmente um “meio” de nos relacionarmos violentamente com as demais pessoas. A pornografia é monopólio dos homens, assim a concessão que os homens dão a nós mulheres é apenas uma vassalagem. Só numa sociedade machista a pornografia tem função. E o feminismo insurreicional idealiza o fim desta sociedade.
Viva a Insurreição Feminista
Texto: Ana Clara Marques e PatrickMonteiro
8 comentários:
Não tem muito a ver com o assunto,depois eu passo aqui para "catar" o que andei postando...mas eu queria que vcs vissem esta homepage:
http://www.toquefeminino.com.br/artigos/relacionamentos/relacionamentos_51.htm
bom assunto para textos,não? o tal machismo feminino.Tenho me grilado com isso...com esta resistência a absurda que as mulheres fazem perante ás lutas...e creio que os movimentos feministas deveriam dar mais atenção aeste detalhe,porque não adinat ficarmos falando com nós mesmas e entre gente "do meio" deixando a grande massa de mulheres de fora.Porém,quebrar uma coisa dessas deve ser f*.
Isolda
Isolda
Valeu a dica, estamos estudando o assunto e, provavelmente, em breve, teremos alguma postagem sobre o tema.
Abraços podres!
adorei a série de textos sobre pornografia.
Que bom que conseguimos partilhar um pouco de nossas pesquisamos contigo. Lemos há um tempo seu blog e gostaríamos de lhe pedir uma contribuição a ser publicada sobre A condição das mulheres dentro das religiõs, que trouxesse um panorama histórico, para ampliarmos o contato vamos deixar nosso email:
nucleogenerosb@gmail.com
Abraços Podres
eu enviei para vocês um pequeno texto, espero que sirva.
Obrigada Beto,
Nós o utilizaremos sim, e quando for publicado, terá o crédito e o link de seu blog.
Saudações feministas.
Adorei o blog, despertaram em mim mais interesses sobre o feminismo, um interesse que eu nao tinha antes!! Ta tudo um maximo, acho que me identifiquei bastante na verdade ! Gostei. Parabéns a todas as moderadoras que estão por traz desse blog maximo!!
Oi preta, desculpe a demora em responder, mas depois de setembro entramos numa ciranda viva de atividades. Ficamos muito, muito felizes de vc ter obtido esta consciência com alguma contribuição nossa!
Leia mais e se quiser de suas opiniões e propostas.
Saudações feministas!
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