E as filiais da indústria sexual
Foto do site de Anna Span |
Não é nenhuma revolução sexual colocar seda nas cortinas, recitais de literatura nos diálogos ou música clássica nos filmes pornográficos. Não importa se existam floreios, requinte estético ou busca por atuações mais consistentes, quem está com a câmera na mão, quem tenha escrito o roteiro, feito a direção, a produção ou se as alcovas estão decoradas com as tradicionais fantasias e fetiches femininos, pornografia jamais será feminismo. Mas para as diretoras Petra Joy, Erika Lust, Anna Span, Tristan Taormino, Courtney Trouble, entras outras, foi possível criar filmes pornôs feminista. Será?
Nestes últimos anos, o consumo de pornografia por mulheres cresceu bastante e hoje a pornografia deixou de ser somente “coisa de homem”. Estudiosos, a mídia e a massa dizem que este aumento é um panorama da liberdade sexual que as mulheres estamos vivenciando. Dizem que a tecnologia tem propiciado uma maior liberdade para as mulheres, que o mercado de trabalho não é mais excludente e que os homens são mais cavalheiros do que tempos atrás. Enfeitar o cativeiro feminino é uma tática que é funcional para manter a opressão.
Foto do Blog de Courtney Trouble |
Somos preparadas para ficarmos presas nas grades de flores, a partir do momento que identificam nosso gênero.
Aprendemos que cativas e sem reclamar ganhamos mais enfeites para dar a falsa sensação de conforto, prazer e valorização. E vivemos o ápice momentâneo desta falsa impressão, onde todas as invenções são direcionadas para “facilitarem” a vida das mulheres, e estão ligadas a uma exploração maior do seu trabalho, corpo e mente. Sem racionalidade, sobra-nos a emoção, devido a carência que nos é imposta.
Aprendemos que cativas e sem reclamar ganhamos mais enfeites para dar a falsa sensação de conforto, prazer e valorização. E vivemos o ápice momentâneo desta falsa impressão, onde todas as invenções são direcionadas para “facilitarem” a vida das mulheres, e estão ligadas a uma exploração maior do seu trabalho, corpo e mente. Sem racionalidade, sobra-nos a emoção, devido a carência que nos é imposta.
A pornografia feminista nada mais é, que a falsa liberdade sexual dentro de um presídio confortável. É no meu computador, dentro do meu quarto, navegando em sites privados e com pseudônimos que posso consumir a vivência falsa e momentânea do prazer sexual direcionado para os homens.
A crítica das mulheres e das diretoras em relação aos filmes pornôs masculino são as mesmas criticas da relação dos homens no âmbito privado e publico. Essa queixa de sintoma não traz a busca do verdadeiro motivo da dor, não muda a lógica de comportamento, muito menos a relação desigual de poder e nem propõem qualquer superação.
Ao analisarmos essas queixas, se percebe a reafirmação dos papéis socialmente construídos, pois as exigências para a “cura” é que os filmes são mais romântico, tem mulheres comuns, ambiente mais propício para o sexo, são mais amáveis, sexualidade mais "limpa", etc.
Impor uma estética artificial de valorização emocional feminina e arranca-nos toda a vivência do afeto sexual, o que resta então é reivindicar e produzir algo que envolva esta tal “emoção feminina”. Caímos novamente na briga da emoção versus razão. E é claro que nós ficamos com a parte que nos foi concedida.
Ao analisarmos essas queixas, se percebe a reafirmação dos papéis socialmente construídos, pois as exigências para a “cura” é que os filmes são mais romântico, tem mulheres comuns, ambiente mais propício para o sexo, são mais amáveis, sexualidade mais "limpa", etc.
Impor uma estética artificial de valorização emocional feminina e arranca-nos toda a vivência do afeto sexual, o que resta então é reivindicar e produzir algo que envolva esta tal “emoção feminina”. Caímos novamente na briga da emoção versus razão. E é claro que nós ficamos com a parte que nos foi concedida.
...são produzidos em cima desta querela. Entra em cena tudo que nos anestesia de uma dor local. A descrição do “pornô feminista” frente ao comum, é que “os pornôs para mulheres mostram o que queremos ver: atrizes com quem possamos nos identificar, homens bonitos, mulheres tendo prazer e, claro, um pouco de romance”, afirma a canadense Alison Lee.
A problemática é que mulheres não-feministas querem ver, de um jeito mais sutil, uma prisão mais confortável, diante do obscurantismo que é nossa condição sexual.
Foto do site de Erika Lust |
A problemática é que mulheres não-feministas querem ver, de um jeito mais sutil, uma prisão mais confortável, diante do obscurantismo que é nossa condição sexual.
Mas para acharmos respostas para este fenômeno temos que perguntar qual é a origem da pornografia, como ela se desenvolve dentro dos contextos significativos das relações de gênero, qual é sua importância dela para a condição cultural de nossa sociedade e, se de algum modo e em algum aspecto, a produção pornográfica poderia ter alguma relação com o feminismo revolucionário?
Para dispar um debate leiam um texto antigo do blog da Cynthia Semínaris.
Para dispar um debate leiam um texto antigo do blog da Cynthia Semínaris.
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
12 comentários:
Texto retirado da Biblioteca feminista da Artêmia Arktois,sobre a problemática da pornografia:
http://www.esnips.com/doc/19550c0f-546d-42cf-99a8-2b6560fd0c07/O-LADO-NEGRO-DA-PORNOGRAFIA
Se vcs procurarem por textos da Sheila Jeffreys e Andréia Dorking(não sei como se esceeve direit) irão achar mais textos que expôe o que é a pornografia de fato.Os da Andreia foram escritos em meados da decada de 60/70,os da outra são mais recentes.Esta luta pela desmintificação da pornografia já existe faz décadas nos EUa e Europa,mas ainda não chegou aqui no Brasil porque muitas mulheres ainda acreditam em suas "glamourização".
E um detalhe importante: em pornografia feminina vc não vê mulher apanhando,sendo torturada,humilhada,crianças sendo violentada,mulheres sendo violentadas por animais...a polêmica em torno da pornografia é sobre o conteúdo violento e misógenoe as crueldades feitas com as atrizes,que são mulheres prostituídas que tem que se viciar em drogas para poderem viver nesta "carreia",não do ato sexual em si.A pornografia feminina seria o que se classifica como erotismo.Se alguém aí se abilitar a acessar os sites "masculinos" para ver por si só,seria bom para o entendimento do porqueê esta questão é pra lá de problemática.
Bom,o texto fala por si só.Espero que gostem.
Isolda.
Isolda
agradecemos a indicação de referência, pois possibilita não só pra nós mas para qualquer leitora um parâmetro de pesquisa sobre o tema.
Sobre o fato da "pornografia feminina" e que nela as mulheres "não se sofrem violência", deixaremos para comentar ao final das demais produções que fizermos sobre o tema esta semana.
Minha opinião sobre o porno feminino: http://arttemiarktos.wordpress.com/2010/09/27/o-tal-porno-feminino/
Arttêmia Arktos
Isolda,
Lemos o seu texto e ficamos com uma boa frase que nele consta: "Sexo é mercadoria". Tivemos a liberdade de reestruturá-la pra este comentário:
"O corpo "é" mercadoria. Capitalismo é consumo. Pornografia é fetiche. Logo,o sexo vende muito."
Sou leitora de vocês à um tempo e, sinceramente gosto e concordo com muitos pontos. Por outro lado discordo de outros, e acho que este é um deles. Bom, pra começar, pesquisei a rspeito dessa pornografia feminista e, realmente, de feminista não tem nada, talvez coubesse melhor o termo "pornografia feminina", ou cousa que o valha. Entretanto, não creio que um nome mal escolhido seja motivo pra não levar em conta um ou outro objetivo das mulheres que idealizaram esse tipo de filme.
Sou a favor da mais ampla liberdade sexual possível, e isso inclui a liberdade de usar-se de pornografia também. Entendo que há todo um "por trás", mas em tudo há, não? E entendo também que o conteúdo do filme passa uma visão.. estigmatizadora da mulher. Entretando, queiramos ou não é o tipo de mulher que existe hoje em dia, mudanças podem acontecer, mas devem acontecer a partir de alguma coisa.. e acredito que cada um faça a sua parte no ambito que consegue: vocês com um blog, mulheres expecializadas em pornografia, com pornografia. E em certas cosias é preciso ter jogo de citura, saber como acordar o público para a algo que você julgue que abrirá caminhos, entendem?
Cada mulher procura sua liberdade e igualdade com oshomens em algo que mais lhe agrade, que mais lhe faça sentido. E esta procura quase individual chama a atenção de outras mulheres, que acabam indo atrás também. Devido à isso, acho uma pornografia que vá de acordo com o que a mulher de nossa sociedade pede muito válida. E a respeito dos atores, por exemplo, há homens e mulheres lá, em empregos que, embora não ortodoxos,são dignos, já que eles não estão fazendo mal à ninguém e dando prazer à quem gosta.
Caras Maçãs, ainda tenho muitas dúvidas em relação ao que seja pornô,pra mim,o pornô está estritamente ligado à pratica sexual por puro prazer,safadeza mesmo, de ambas as partes,de ambos os gêneros e,principalmente desvinculado do sexo procriativo,e o que antigamente se chamava pelo pecado de onanismo, será o mesmo q pornô? qual é o liame q divide o erotismo do pornô?
Agora, acredito q o grande mal não seja o pornô em si, mas a mercantilização( artesanal ou industrial) do corpo,e sua consequente bestialização. E essa mercantilização como é de uma sociedade ierarquicamente patriarcal,logo,se reflete nos atos e gestos da gente; o pensamento dominante é o pensamento da classe dominante.digo isso porque senão ao exporem as vulvas(também no logotipo, que admiro) logo na entrada do blog,poderíamos considerar as maçãs como algozes de sí mesmas,ou reprodutoras do pensamento dominante.
Ao criticar o pornô em si podemos facilmente propor um reacionarismo,já q relativa liberdade sexual,assim como a estética ou estratégia revolucionária,são algumas conquistas subversivas, das quais o capital vem se apropriando .
Erotismo (como conhecemos históricamente) é o pornô disfarçado de “sexo limpo”, aquele utilizado pelas novelas em horários em que ainda as criancinhas estão acordadas e que é permitido as donas de casa também verem. Essa divisão entre pornô e erótico é a expressão da hipocrisia... A pornografia é o que está escondido, é a salinha no canto da locadora, são os cinemas localizados em lugares “escrotos e sujos” etc.
Portanto, a pornografia age como um agente moralizador, ditando o que é certo (sexo procriativo) e o errado (o próprio sexo). Lembrando que o prazer, o toque, e tudo que envolva a sexualidade não são apresentados dentro deste filmes, tudo é robótico, a sexualidade é alienada dos próprios corpos e se conseguíssemos ver estes filmes ao vivo e a cores, não daria nenhum tipo de excitação. Ex: Vire o rosto pra esquerda, pra direita, mais luz, faz cara de que está gostando, grite...etc.
Sobre o logo, é do artista Jamie Mccartney. Vulvas moldadas em materiais de prótese dentária e são a representação da fabricação dos nossos corpos. Nós a resignificamos. Representam as várias vulvas, os corpos diferentes, assim como nossas digitais, nossas vaginas e os pênis, representa que não somos “fabricados em massa”, olhar a vagina é ver que nós existimos e todas juntas representam nossa junção e nossas diferenças é o que nos iguala.
Anônima,
A escolha do nome é de muita relevância para a luta, pois é também através da linguagem que a consciência compreende, materializa e comunica eventos, fenômenos e ideologias. A associação da pornografia com o feminismo é estrategicamente mal-intencionada, pois induz a sociedade um senso comum completamente deturpado do que seja a causa feminista e do que pode ser a libertação da sexualidade humana.
Chamar a pornografia – indústria do sexo - de feminismo é, no mínimo, perigoso, pois, ao mesmo tempo, agrega valor político a exploração do corpo alheio, algo nada consensual para as feministas, e intoxica de permissividade uma ideologia de superação não moralista.
Não fomos nós que definimos estes filmes como “feministas”, mas nem por isso devemos deixar que tal termo se prolifere entre as mulheres, como a grande mídia tenta fazer, criando mais um ponto de repulsa entre as pessoas e a teoria/prática feminista.
A pornografia é uma fabricação, se a liberdade sexual exige a submissão física de alguns ao sexo industrializado para o beneficio de outros, não consideramos libertador a utilização da pornografia, pois isso induz a uma sexualidade fabricada e que nasce e se estende através do consumo do que não nos é permitido. Ou seja, se a pornografia é fabricada, logo a liberdade que ela produz o é também.
Em relação a questão do trabalho d@s atores/atrizes, eles são operários do sexo. Sua atividade sexual é tão alienada. O sexo ali não os pertence, assim como o celular não pertence aos operários que os fabricam com seu suor. Se o produto da luta pela liberdade sexual das mulheres for a pornografia, teremos então o fracasso de tudo que esta luta representa. E como feministas, não queremos isso não é?
Acredito sim na possibilidade uma pornografia que não seja sexista e penso mesmo que esta pode ser uma «receita» para se combater a pornografia sexista. Mas claro que antes de mais importa que as mulheres também percebam que a sua sexualidade está escravizada porque foi construida sob o modelo da sexualidade masculina e é mesmo um domínio em que é masi dificil combater o sexismo.
Convido a visitarem o meu recente blog e post em que começo a abordar esta temática.
Bem Rita,
gostariamos que vc discorresse sobre qual seria a funcionalidade da pornografia num mundo feminista, já que o produto pôrno deriva da prostituição institucionalizada?
(Ao momento que lermos sua resposta, com prazer iremos degustar detalhadamente vosso blog!)
minha tendência quase sempre é ser contra a pornografia, já assisti alguns, do mainstream mesmo, super machistas, e minha opinião é que a pornografia, com raras excessões, é a própria banalização e mercantilização do sexo, ou seja, como vcs mesmas disseram, os que trabalham (sim, trabalham) lá, são meros objetos para os produtores, e quase nunca usufruem realmente do que estão fazendo (como os fabricantes de comida "boa/saborosa/cara-ou-não", celulares, computadores, roupas 'boas', etc).
Gabriela, concordamos com suas colocações. Vc conseguiu traduzir o que pensamos de um modo simples e direto.
Saudações feministas.
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