Artigo de Naomi Wolf |
Artigo de Naomi Wolf http://www.viomundo.com.br/blog-da-mulher/ |
(para ler o texto clique na imagem e para ampliar,
vá na barra de ferramentas na parte de baixo do computador)
vá na barra de ferramentas na parte de baixo do computador)
Não há nenhum exagero no título deste texto, basta lembrar dos casos ocorridos em 2007, no estado do Pará, em que mulheres eram colocadas em celas com até 20 homens. Neste últimos dias, cada mulher que viu as imagens da violenta prisão da escrivã sendo despida pelos policiais da corregedoria de São Paulo, sentiram na pele o que uma música dos anos de 1990 dizia em relação a racismo: “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”.
Porém este não é um comportamento exclusivo do Brasil, reproduzimos nas fotos acima um artigo escrito pela feminista Naomi Wolf em que ela afirma, depois de muita pesquisa, que tais violências similares são comuns em presídios da Europa e EUA. Logo se confirma o que já sabemos, o Estado Nacional é um instrumento do sistema econômico patriarcal e, desta maneira, reflete e institucionaliza todas as violências que sustentam os poderes do gênero masculino branco e heterossexual. Para quem não conhece o caso ou não viu as imagens na tv Bandeirantes ou na net, avisamos que o vídeo abaixo é violentíssimo.
As questões legais e a violência estrutural machista
A permanência do delegado da corregedoria se fazia exigida na hora da “revista”, na tentativa de evitar um “corporativismo”, ou seja, sendo a corregedoria a “polícia da polícia” a presença do delegado responsável pela investigação garantia a manutenção idônea do flagrante. Contudo, segundo o artigo 249 do Código de Processo Penal (“A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência”) uma mulher só pode ser revistada por um homem se o atraso na chegada de uma policial feminina prejudicar a investigação, não exigindo a presença de outros homens no ato da revista já que existiam outras policiais femininas no local. Deste modo, caracterizou-se como um pleno abuso de poder. Mas para os representantes legais do Estado de Direito (Patriarcal), neste sábado (19), a corregedora-geral da Polícia Civil de São Paulo, Maria Inês Trefiglio Valente, “não houve excessos na ação dos dois delegados”, pois eles agiram "dentro do poder de polícia" (ou seja, eles agiram segundo os poderes institucionais do Homem e do Cidadão), assim como para o promotor Everton Zanella que investigou a ação dos policiais "houve apenas um pouco de excesso na hora da retirada da calça da escrivã, todavia, em nenhum momento vislumbrei a intenção do delegado que comandava a operação de praticar qualquer ato contra a libido da escrivã”. A questão é se “um pouco de excesso” não é uma violação, o que são “apenas” R$ 200,00 dentro do mar de corrupção da polícia e política brasileira?
A delicada posição das mulheres
dentro das Estruturas do Patriarcado
Drª Maria Inês Trefiglio Valente |
Ao final poderíamos compor um milhão de linhas elucubrando o que o vazamento destas imagens representa (se ficaram escondidas durante mais de um ano por que vieram a tona agora?), mas preferimos destacar duas questões de interesse feminista, já que todas as outras podem ser vistas e lida em outros veículos de denúncia e comunicação.
Primeiro, a esperta utilização da figura da corregedora-geral da Polícia Civil de São Paulo, Drª Maria Inês Trefiglio Valente* como escudo de defesa do “modus operandi” do Estado, pois perante a “mídia carniceira e imparcial”, a Drª, como mulher, teoricamente representaria a legalidade do sexo feminino sobre a questão, ao achar que “não houve abuso de autoridade”. Segundo, deve-se observar como a neutralidade/passividade das mulheres frente aos abusos do machismo acaba por colocar-nos em oposição, após terem “encontrado” a propina, em sua defesa a escrivã culpa a figura menos “poderosa” de ter implantado nela o dinheiro, ao invés de “acusar” o delegado da ação (percebam que em nenhum momento da filmagem vemos o dinheiro cair do corpo da escrivã). E por isso é tão importante para o patriarcado a inclusão colaboracionista de mulheres nas estruturas de poder, já que nós/elas dão legalidade a estas instituições que nos violentam e reproduzem com igual ou maior brutalidade o que sofremos cotidianamente com o machismo.
Quando uma ponta de dúvida surgir em você sobre o fato de que as conquistas das mulheres poderiam ser bem maiores na atualidade do que realmente são, levando em consideração o fato de que existem muito mais mulheres no poder hoje do que há 30 anos atras, se lembrem que não basta uma mulher conquistar o poder como indivíduo, é necessario que ela o faça como classe sexual, pois diferente disso, seu papel de mulher será utilizado para mascarar o machismo das instituições patriarcais. Por isso, nós Maçãs Podres afirmamos: Não basta ser mulher, temos que ser feministas.
Viva o Movimento Feminista
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
------------------------------------------* A Drª Maria Inês Trefiglio Valente, ao que apuramos, tem uma longa e produtiva carreira na polícia. Como cidadã, ela cumpre o seu dever com a competência e a capacidade que independem de sua determinação biológica e como não ciente (ao menos, neste caso) de sua responsabilidade feminista, ela acabou por não colaborar com uma, mínima, reflexão sobre a práxis machista nas estruturas de poder polícial. O que, dada sua história, nos faz lamentar muito.
8 comentários:
Herança do sistema capitalista, miséria, racismo, violencia contras as mulheres, gays...
Patrick, o blog está cada dia melhor!
Xêro
Como disse a socióloga Gail Dines, o fato de se eleger um presidente negro, não quer dizer que acabou o racismo e o fato de ter sido eleita uma presidenta não quer dizer que a política deixou de ser patriarcal e nesse caso da policial violentada, porque pra mim isso foi estupro simbólico, o fato de existirem mulheres na polícia não faz com que a polícia deixe de ser um aparato de repressão e reafirmação de poder patriarcal. Basta vermos como a mesma polícia tratou os jovens que se manifestavam contra o aumento de passagens e como os policiais homens se portaram contra a acusada.
Não basta ser mulher, tem que ser feminista. Essa é a grande questão das mulheres, pois infelizmente existem aquelas que intencionalmente ou não, colaboram para a manutenção das mulheres no lugar que é a nós reservado: exploração, abuso, violencia e etc.
Não convém se iludir com o fato de que se determinada mulher não se sente discriminada por estar participando de instituições ou cargos antes só reservado aos homens e por isso pode pensar que o feminismo não tem mais razão de ser como muitas andam pregando por aí, não podemos nos esquecer que as mulheres continuam sendo discriminadas enquanto classe. E que sim, as discriminadas são a maioria e o feminismo é que deveria ser a liga de uma solidariedade de sexo/gênero que faria com que todas se unissem para que não haja mais nenhuma mulher individualmente ou em grupo sendo vítimas de absurdos como esse.
Como sempre vocês foram no ponto da questão.
Parabéns. Saudações feministas.
Bom,eu acho que agora não restam dúvidas sobre a existência de mulheres machistas não é?Precisou outras falarem(e se contradizerem pelo visto) e vcs verem por si só.
Fabiana...
agradecemos seu elogio.
Arttemia...
mais uma vez, concordamos com suas colocações em gênero, classe e raça.
Yumehayashi...
se possível,gostariamos que vc explicasse melhor sua afirmação, não entendemos o que vc quis dizer sobre "mulheres machistas"
O fato de existirem mulheres identificadas com os homens não faz delas, mulheres machistas. Homens são machistas por acreditarem na sua superioridade em relação a nós. Mulheres identificadas com os homens, podem no máximo assumir a sua inferioridade. Todas somos socializadas no patriarcado e nós feministas somos aquelas, que mesmo assim, resistimos a essa socialização e justamente por isso o feminismo é combatido e repudiado.
Mulheres identificadas com os homens que colaboram conscientemente ou não para a manutenção do status quo, assumem o papel do que é ser mulher mas não usufruem como eles dos privilégios do que é ser homem, no máximo pegam as sobras. Não inventamos o patriarcado, o sexismo, a misoginia. Vivemos numa sociedade que despreza tanto as mulheres que algumas só conseguem “resistir” participando da própria opressão e de outras mulheres. Mesmo as que fazem isso com a intenção de desfrutar de poder, sabem que nunca passarão de coadjuvantes e colaboradoras da dominação masculina. Outras colaboram por pura ignorância de sua condição, medo e etc.
Não podemos perder de vista como mulheres e feministas de que em qualquer situação as mulheres é que são o povo mais discriminado, oprimido e explorado dentro do patriarcado capitalista. O que temos que fazer é esclarecer e entender, não só para nós mesmas, como para todas que o feminismo é que é a nossa resposta a toda essa exploração, discriminação e opressão. Parafraseando um trecho do livro Teoria Feminista da Andrea Nye: “Tomamos as suas mãos firme, mas suavemente _ “Deixe-os”, dizemos, “venha conosco. Reconstruiremos um outro mundo.”
Precisamos nos identificar umas com as outras, independente de classe e raça e avançando, desconstruir e destruir o patriarcado, o sexismo, a exploração, a discriminação. Juntas. Não queremos uma sociedade de dominadores e dominados, por isso a meta é acabar com toda a dominação e exploração. Mulheres identificadas com homens não ajudam na caminhada, mas não são elas o foco da luta. O foco, o objetivo, é a luta contra o patriarcado e a dominação imposta às mulheres pelos homens.
Olá, adorei o blog e a discussão, vou colocá-la no meu blog também... ah, um aviso, o link (http://www.blogger.com/goog_1022216956), abaixo da segunda foto, está quebrado.
beijos
xsuxsuzetex
Valeu a dica (postamos o link correto) e o elogio, sinta-se feministicamente livre para postar e para colher/plantar outras maçãs podres do blog.
Saudações feministas
Texto ótimo. Blog lindo.
Não basta ser mulher, tem que ser feminista!
Postar um comentário