Capa da Edição 27 da revista "Lutas Sociais"
Este mês o graffiti que fizemos no projeto "Arte pelo Fim da violência Contra as Mulheres", em parceria com a ONG Feminista Católicas pelo Direito de Decidir, ilustra a capa da Revista "Lutas Sociais", dedicada a feminista/marxista Heleieth Saffioti, leiam o editorial publicado no site do NEILS - Núcleo de Estudos de Ideologia e Lutas Sociais:
Capa Novembro 2011 Revista Lutas Sociais |
"Este número de Lutas Sociais é dedicado à Heleieth Saffioti, socióloga feminista, conhecida por seu pioneirismo nos estudos sobre a mulher. Desde o início, desarranjou o esquema acadêmico, acentuadamente masculino, com uma proposta inusitada: investigar os estreitos laços que unem opressão feminina e modo de produção capitalista. Ousada, lançou mão de conceitos de Marx para compreender algo de fundamental que, para ela, o marxismo deixara obscuro: a imbricação classe-gênero na sociedade burguesa. Feminista, não titubeou em demonstrar que reduzir a luta das mulheres à reivindicação por direitos sociais não leva à emancipação feminina. Capitalismo e condições plenas de igualdade e liberdade são excludentes. A luta feminista ou será também de classes ou não será.
A recíproca, para ela, também é verdadeira: a luta de classes não conduziráà emancipação humana sem destruir, ao mesmo tempo, a opressão feminina.
Heleieth Saffioti se foi há um ano. Mas deixou uma vastíssima produção intelectual, que se expressa na entrevista concedida a Renata Gonçalves e Carolina Branco; no artigo de sua própria lavra, "A questão da mulher no socialismo"; nos textos de Maria Aparecida de Moraes Silva, que rememora as aulas magistrais e o rigor com que sua "mestra" conduzia o ensino de sociologia, e de Lúcio Flávio de Almeida, que lembra a intelectual militante, cujas pesquisas inovaram o pensamento social crítico. Angélica Lovatto e Renata Gonçalves analisam algumas das mais importantes obras de Heleieth Saffioti. A primeira examina o livro mais vendido da autora, O poder do macho, que teve o mérito de apresentar, a um público jovem e não-acadêmico, o quadro de discriminação contra a mulher e contra o negro na sociedade brasileira. A segunda remonta aos primórdios da produção da autora e apresenta os principais aspectos presentes, sobretudo, no livro A mulher na sociedade de classes. A teórica e feminista inovou dialogando com e no interior do marxismo e, por vezes, caminhando na contramão de muito do que se escreveu neste campo, ao observar que o capitalismo não é cego ao sexo.
Os estudos de Heleieth Saffioti encontram eco nos artigos de Andréa D'Atri, Cinzia Aruzza e Judith Orr, acerca da controversa relação entre feminismo e marxismo. Desdobramentos deste debate podem ser observados no texto de Luciano Fabbri, que recupera contribuições dos feminismos contemporâneos para pensar o desafio colocado aos movimentos sociais e populares numa perspectiva antissexista, antiracista e anticapitalista. O mesmo se aplica ao artigo de Cláudia Mazzei Nogueira, que examina a divisão sexual do trabalho no sistema de integração da BrasilFoods. Como previra Saffioti, a maior inserção das mulheres na produção, ao contrário de uma igualdade, potencializou a desigualdade entre os sexos, ao mesmo tempo em que aprofundou a precarização do trabalho feminino.
Lutas Sociais apresenta também uma seção variada de artigos que abordam questões teóricas e políticas cruciais. James Petras e Robin Abaya trazem uma análise crítica das principais posições acerca da guerra euro-estadunidense contra a Líbia e argumentam que esta invasão se deveu fundamentalmente a razões de ordem estratégica (esperamos continuar com este debate); Leandro Vergara-Camus faz uma comparação entre a luta pela terra do EZLN e do MST, cujas bases sociais rejeitam a lógica do mercado e privilegiam a produção de subsistência; e Célia Regina Congilio examina a ideologia midiática de que mais educação e mais qualificação garantem uma boa inserção do trabalhador no mercado de trabalho.
Compõem este bloco os artigos de João Valente Aguiar, que problematiza a pertinência do conceito de formação da classe trabalhadora na mobilização do operariado agrícola alentejano no Estado Novo português; e de Ronaldo Gaspar, que critica as críticas de Hannah Arendt ao pensamento marxiano, evidenciando importantes limites da autora a este respeito.
Quatro resenhas encerram este número de Lutas Sociais. Duas delas dialogam mais de perto com o Dossiê: a de Raiane Assumpção sobre livro lançado pelo Coletivo Mães de Maio que, numa semelhança trágica com Las Madres de la Plaza de Mayo, denuncia o assassinato de seus filhos pelo Estado genocida brasileiro; e a de Karina Bidaseca, que detecta esboços da formação de um feminismo contra-hegemônico na América Latina. Eliel Machado e Waldir Rampinelli apresentam livros que têm como pano de fundo a barbárie "na América". O primeiro problematiza a criminalização da utopia revolucionária dos Panteras Negras e o segundo aborda a história não-oficial estadunidense."
por Renata Gonçalves
(pelo Comitê Editorial)
Viva o Movimento Feminista!
(Agradecimentos Especiais das Maçãs Podres para Renata Gonçalves e Valéria Melki Busin)
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