EDIÇÃO EXTRA
Em comemoração a morte de Lévi-Strauss, devido aos e-mails que recebemos, em especial do camarada Carlos Wellington, e as rasas críticas pós-modernas publicadas nos "conceituados jornais", como a Folha de São Paulo, decidimos escrever "poucas" linhas sobre o fato ocorrido na noite de 22 de outubro de 2009 que ficou conhecido como "Caso Uniban". Procuramos analisá-lo por perspectivas outras que venham a traçar sólidos questionamentos capazes de fugir da hipócrita "indignação" difundida nos veículos de mídia machista e que também não reproduzam o simplismo de uma denúncia que se caracteriza um viés "ético de altruísmo cristão". E, para pensarmos, o finaliazmos com as preocupações de mulheres e homens que lá "estudam".
A PERSONAGEM
A universitária Geisy Arruda, 20 anos, possui um fenótipo que passa ao longe das típicas características gélidas da aristocracia ariana. Suas feições poderiam facilmente ser "confundidas" como as de uma descendente ou membro de uma região descriminada no Brasil (norte ou nordeste).
O LOCAL
Fruto do mercado especulativo e liberal do ensino superior, as atuais universidades particulares são geograficamente projetadas como Shopping-Centers. E não é por acaso. Diferente das estruturas físicas tradicionais de campus aberto das universidades públicas, a geopsicologia do local é repressora como um ambiente de serviço. E, em nada, representam o antigo espaço que permitia e estimulava uma prática sexual mais "livre" entre os estudantes, comum ao imaginário que possuímos em nosso consciente coletivo.
O FATO
Trajada e maquiada para ir a uma festa após as aulas, a estudante foi assediada por uma pequena multidão de homens e mulheres que a perseguiram até a sala, com coros de "puta" e "vamos estuprá-la". Tudo filmado e divulgado no Youtube. O fato repercutiu na grande mídia oportunista e moralmente conservadora.
PERGUNTAS ÚTEIS PARA UMA DIALÉTICA FEMINISTA
Consideramos que o consciente coletivo dos homens e mulheres envolvidos na questão, reproduziram os comportamentos cotidianos e os valores morais vigentes em nossa sociedade. A questão que "chocou o Brasil" é o fato inadmissível de que o cotidiano acabou sendo filmado e se processou dentro de um pretenso espaço intelectual. Portanto, "é inadmissível para a burguesia e família cristã, que se tornem públicos, fatos tão corriqueiros e de baixo calão". A hipocrisia sexual exige que isso não seja mostrado, pois a deselegância está na deselegância de não se banalizar o que é tido como "banal". Perguntamos:
Se ao invés de "universiotários" os agressores fossem "piões de construção" ou "garotos bêbedos do bar da esquina", em menor número, tal acontecimento teria tanta repercussão?
E se ao invés de gritos de ameaça, as expressões da massa fosse: "Linda, gostosa, queremos casar com você", a violência machista não existiria?
A ANÁLISE DA MAÇÃ PODRE DA ESPÉCIE
O CORPO COMO OBJETO DE DESEJO E AFRONTA
Todos os dias diversas e diferentes mulheres são assediadas da mesma maneira em trens, ônibus e no olho da rua, as vistas de todos. E nem precisam trajar roupas "atrevidas" ou provocantes, BASTA que a agredida pareça desprotegida frente ao/s agressor/res. A demonstração de Geisy de que o seu corpo "lhe pertenceria", foi entendida como uma afronta a todos os homens e mulheres que tinham como ciência social, a psicologia do pertencimento da sexualidade feminina ao desejo masculino. Além do que, aquele "espaço sério e privado" é projetado para transbordar uma completa assexualidade. Lembrando as teorias de Durkheim, uma das maneiras de se manter os comportamentos sociais sobre controle é impor punições não legais a quaisquer pessoas que tentem fugir das normas de convívio, ditas como "aceitáveis" - são as chamadas sanções espontâneas. Se imaginarmos que para muitas das patys e playboys existentes dentro desta pseudo-instituição de ensino, a possibilidade de que exista no seio de sua branca e cristã comunidade, uma mulher que possa desvirtuar a conduta do "gado" que eles estipulam como sua propriedade, a reação ocorrida dentro da tal "facul" nada mais representa do que o cotidiano exercício repressor que institui a desapropriação do corpo feminino. O fato em si demonstra o quanto o corpo das fêmeas da espécie é dado como mercadoria e, como objeto fetichista de mercado, ele é alienado da aquela a quem por direito o corpo lhe pertence.
A INTOLERÂNCIA e o PAGAMENTO COMO COISIFICAÇÃO DO "OUTRO"
Apesar de muitas feministas evitarem interrelacionar diversos temas ao machismo, sabemos que é muito provável que todas as formas de aversão contra seres humanos conhecidas em nossa sociedade sejam derivadas da coisificação do útero, surgida a partir da objetivação, como propriedade privada, a fim de se manterem controlados os meios de produção nas mãos masculinas - Ler "A origem da família, da propriedade privada e do Estado" de F. Engels. Assim, podemos analisar que também emergiu coletivamente uma pulsão que a muito não estava sendo exposta na mídia conservadora: o racismo xenofóbico. Desta maneira, soma-se a questão da repressão sexual, uma "exigência feroz" e intolerante de tais a-lunos contra o convívio com membros que - na cabeça deles - se encontram "abaixo de seu status econômico e intelectual". Esta pronto o panarama da intolerância oriunda das classes sexuais.
Já é de senso comum o fato de que muitas mulheres utilizam seu corpo para custearem seus estudos universitários. Mesmo não sendo este o caso especifico desta mulher, a intolerância médio burguesa frente a qualquer forma de comportamento que não represente a hipocrisia sexual cristã, a ideologia higienista do convívio entre os cultural/economicamente iguais e a condição estrutural que reduz os corpos a objetos de mercado - no caso dela, uma objeto barato e descartável dada a sua condição não-branca, como diria Biko - é corriqueira! A violência exposta é uma expressão dos valores misóginos citados acima, pois acreditamos que o regime da burguesia é a expressão máxima da tão famosa dicotomia da sociedade de classes sexuais, nascidas a partir da propriedade privada pós-matriarcal. Ou seja, o capitalismo é a expressão econômica do machismo. Com sua xenofobia racista e diferenciação de classes. Tanto que já cogita uma indenização econômica a vítima em questão, pois tendo sua integridade invadida/penetrada e ferida/desvirginada, a mercadoria foi danificada/comprada e deve ser pago o preço por seu uso. No controvertido sistema machista do capital “tudo tem seu preço”. E ao que parece será pago para que o "mal" seja reparado.
Por fim...
para ratificarmos nosso texto, temos algumas opiniões colhidas num site que mostra a dúbia moral da impresa e dentro dos "intelectuais" da própria Uniban. Isso é para que saibamos que não existe solução viável para resolvermos tais fatos, enquanto as mulheres não se conscientizarem sobre a luta feminista e não projetarem uma verdadeira insurreição contra as estruturas materiais e diretrizes morais que naturalizam e sustentam o machismo (a xenofobia, a desigualdade de classe, a repressão sexual e coisificação do corpo feminino):
"a universitária hostilizada quis se autopromover. Ela provocou. Por baixo da minissaia, ela estava até com fio dental." -(Cláudia Rodrigues, 27 anos - estudante de Marketing)
"a universitária hostilizada quis se autopromover. Ela provocou. Por baixo da minissaia, ela estava até com fio dental." -(Cláudia Rodrigues, 27 anos - estudante de Marketing)
"Ela causou..." - (Nathália Leandro, 23 - estudante de Marketing)
o protesto foi para "limpar o nome da universidade, porque o diploma vai ficar manchado por esta história" - (Reginaldo dos Santos Nascimento, 28 anos - estudante do 3º ano de Turismo)
"Queimou o filme" -(Thiago Luiz, 25 anos - Turismo, diz que o episódio prejudicou a "imagem" da universidade)
(os depoimentos foram colhidos dos alunos que compareceram nesta terça-feira à aula e fizeram um "protesto" usando narizes de palhaço distribuídos a quem chegava na universidade. Fonte: Portal Terra )
o protesto foi para "limpar o nome da universidade, porque o diploma vai ficar manchado por esta história" - (Reginaldo dos Santos Nascimento, 28 anos - estudante do 3º ano de Turismo)
"Queimou o filme" -(Thiago Luiz, 25 anos - Turismo, diz que o episódio prejudicou a "imagem" da universidade)
(os depoimentos foram colhidos dos alunos que compareceram nesta terça-feira à aula e fizeram um "protesto" usando narizes de palhaço distribuídos a quem chegava na universidade. Fonte: Portal Terra )
Texto: Patrick Monteiro
6 comentários:
ah,francamente,já estou enojada deste papo feminsita fajuto e hipócrita de que roupa não tem nada ver! Tem a ver e muito,pois a roupa da mulher é objetificante sim! Se duvidam,basta observarem que não existe cueca nem sunga fio-dental,os homens vão trabalhar de terno e camisa fechada e frequetam baladas com os mesmo tipo de traje,por que mulher anda semi-nua por aí? O feminismo diz que combate a objetificação da mulher e agora vem com este papo que é um direito dela ser objeto?? Se é "moralismo" andar toda "tampada",então,todos os homens são moralistas,pois é assim que eles se vestem,pois seu valor não se mede á exposição de coxas,bundas e peitos,mas sim no que eles produzem intelectualemnte.Equanto náos,ficamos por aí nos oferecndo como obejetos sexuais sob o pretexto insano de "nossos corpos nos pertencem" e bostas afins.Ninguém é mais dono de si na nossa cultura do que os homens e eles não se prestam a este papel.Será mesmo se vestir "sexy" um direito e poder ou será que não está na hora de sermos desvinculadas desta mega sexualização que nos é imposta??
E também estou meio que farta deste lance de "moral cristã",esta é uma questão política.
O problema é que nenhuma mulher tem o DIREITO de exibir seu corpo sem ser sexualizada, o erro não é nosso, é de quem objetifica. Culpar a vítima? Quer dizer que eu tenho que usar as roupas ""certas"" para que os machos não me VIOLENTEM e abusem em todos os espaços públicos??? Concordo que a maioria das roupas femininas foram pensadas para recortar certas partes do corpo conforme o padrão vigente, mas discordo totalmente que seja obrigação da mulher passar a cobrir seu corpo pra não sofrer violência! Mais uma vez, o erro está nos nojentos que "esquartejam" a mulher. Não é a roupa que é objetificante, pergunte a qualquer mulher ""sexy" se ela se sente como um objeto, quem objetifica são os homens. E claro, eles podem andar sem camisa, ter pêlos, usar suas calças arriadas, bermudas à vontade, na verdade eles podem se vestir do jeito que bem entenderem, ninguém vai violentá-los por isso. ""homens não se prestam a esse papel""... e esse tal papel é o que? ""Natureza"" da mulher? Sua sugestão é cobrir o corpo? Então porque mulheres de burkha são estupradas? Porque 1 em cada 3 egípcias sofre assédio sexual diário nas ruas?
tuxedosam e whothehelliscely
Falar de corpo e de sexualidade é falar de mercado numa sociedade de classe sexual econômica. As perguntas abaixo são para refletimos, mas sintam-se a vontade para dialogarmos...
Sabemos que no mercado sexual machista existem produtos duráveis e descartáveis, existem roupas femininas que não são objetificantes? E a roupa pode determinar o valor do objeto?
Sendo a mulher determinada pelos machistas como objeto/produto, então ela tem um valor, qual o valor de troca e o valor de uso da mulher no mercado machista?
Está posto que em nossa sociedade as mulheres são constantemente coisificadas sexualmente. Seria a solução assexuá-las?
Uma vítima só é “vítima” devido sua incapacidade de ação, e por não ter condições de quebrar com a violência que sofre. Qual é a nossa responsabilidade quando aceitamos a coisificação masculina sobre nosso corpo?
Tudo neste sistema machista é obrigatório, é obrigatório ser recatada assim como é obrigatório ser bonita e sexy. Porque cobrir o corpo simboliza obrigação e sexualizar o corpo significa libertação?
Sabendo influência ideológica da moral cristã e da luta de classes, Porque um homem sintetiza o pensamento de todos os homens, como classe sexual? E porque nós mulheres nós tornamos a antíteses de nossas próprias opiniões feministas?
claro....sempre a mesma história,o lance da burca..sabia que indias andam nuas e nunca são estupradas? por que vc acha que é? para andarmos nuas temos que lutar pelo direito de ficarmos nua,o que significa lutar contra a porno-cultura que nos reduz a bundas e peitos e faz com que nos julguemos livres nos vestindo e agindo como objetos sexuais.Mas não,a maioria das feministas prefere re-afirmar estes valores machistase que julga "anti-feminista" todas aquelas que reagirem a tal,porque a regra é a mulher ser objeto.O homem tem o "direito sagrado" de nos ter como objetos e nós,o "direito sagrado" de ser um.è isso que tenho visto em diversos grupos feministas.
Papel que os homens não se prestam a fazer: o de objeto.Não pousam nus,não saem por aí alegando que prostituição é um direito deles sob o chavão "nosso corpo nos pertence",não andam por aí com roupas sexy(aliás,nem sei se existe roupa sexy para homens,só em sexy-shop,pra vcs verem como o ser objeto para eles é algo "extra" não o dia a dia como nas mulheres)mas eles querem que nós associemos feminilidade a tais valores(mega incentivada pela mídia) enquanto eles continuam sendo nossos consumidores.
E mais uma vez roupa tema ver sim,se não fossem,eu já teria sido estuprada milhões de vezes por andar sozinha nos campus e na rua tarde da noite(antes que me fuzilem: não estou justificando estupro,só dando exemplo).Roupa "certa" como vcs dizem,não tem nada ver com andar toda tapada feito uma freira,pois nem me visto deste jeito;apenas meus shortes e bermudas são "neutros".São apenas shorts e bermudas,como tudo nosso deveria ser,apenas roupas!
Tudo nosso é sexualizado,até certas profissões( enfermeira,secretária)até ser universitária virou sinônimo de puta e a palavra professora também.Chega destas bostas,já estou enojada de tudo isso,e as mulheres abraçando a porno-cultura só tem nos puxado pra trás.Só dá margem para criação de jogos estilo RAPELAY(o Japão é outro país onde a objetificação da mulher rola solta e é apoiada pelas mesmas).
Pra finalizar,acabei de vir de um festival afro onde NINGUÉM estava vestida a lá negra sensual objetificada estilo carnaval.As mulheres pareciam rainhas,simplismente poderosas e admiráveis,colocando no chãop esta idéia de que negra gosta de ser vadia.Roupa sexulizada é invenção do machismo,da porno-cultura,de estilistas misógenos que nos querem ensinar uma feminilidade objetificada.
Ter sexualidade livre não quer dizer personificar sexo,se feministas agem assim,elegando que se nós não nos vestimos "sexy" estamos sendo assexuadas, então nos vêem que nem os homens:seres que só servem para sexo.Se muitas acreditam nisso,então realmente a porno-cultura está vencendo....está fazendo com que nós mulheres tenhamos nossa sexualidade distorcida para um padrão machista,o de viver 24 horas por dia transpirando sexualidade.
Agora vcs vendo porque eu queria que vcs lessem aquele texto longo em inglês? fala justamente deste tema,de como a porno-cultura cooptou o desejo de liberdade sexual feminino e o transformou em algo machista,voltado para a objetificação.
Na mesma linha, eu encontrei o excelente texto do Contardo Calligaris, republicado em meu blog.
Tuxedosam, a roupa é um objeto, não a pessoa que a veste. Quanto a roupas masculinas, existem cuecas fio-dental e sungas. Nós trabalhamos (conforme o local) de terno e gravata porque o patrão nos obriga, da mesma forma como as moças são obrigadas a usar tailleur. Então vc tem que considerar a questão da roupa conforme o ambiente, a "regra" estabelecida e o ambiente social. Em uma faculdade/universidade, onde não há uniformes nem vestes obrigatórias, a reação/violência à moça foi desmedida, porque ela certamente não foi a primeira nem a única moça a se vestir mais à vontade. O problema, tuxedosam, é que a reação na Uniban é praticamente o mesmo que nós provincianamente condenamos quando ouvimos falar dos costumes de países islâmicos. A questão reflete o posicionamento religioso e supostamente moral a respeito da nudez, do corpo, da mulher. Vc se devia perguntar então porque no carnaval ninguém agride ou avança contra as mulheres que se expôem publicamente com menos roupa ainda?
Nós homens deveríamos ter aprendido a separar roupa e nudez de moral e religião.
Homens também se desnudam, tuxedosam. Homens também se tornam "objeto", tuxedosam. o futebol é um bom exemplo.
A sexualização das profissões citadas é algo aproveitado pelo comércio, pela pornocultura, por causa da visão social que a mulher é um objeto.
Evidente, a sexualidade está presente nas mais diversas situações, profissões e pessoas. O que não deveria ocorrer é essa noção de que a carga sexual que os objetos, situações ou profissões tenham signifique necessáriamente que esta pessoa queira sexo, ou que é promíscua.
A Geisy foi expulsa da universidade, leiam o informativo aqui no blog ou procurem a notícia...
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