Este texto é continuação dos textos "Pornografia Feminista - As filiais da indústria sexual" , "Pornografia e Prostituição - Uma breve história dos mecanismos de opressão dos machos" , "Pornografia - Enciclopédia sexual dos machos" e Publicidade e Pornografia Simbólica
Uma falsa libertação
É inegável que exista uma relação direta entre o desenvolvimento da pornografia e o desenvolvimento do capitalismo, pois a indústria pornô é um dos únicos três “mercados de trabalho” em que a mão de obra das mulheres possui um valor econômico maior que a dos machos (a prostituição tradicional e a “modelagem” são os outros dois). Contudo, se comenta que o valor dos cachês para a maioria das atrizes é bem próximo de um salário mínino ou dois por cena explícita de sexo. Ou seja, o valor pago num filme porno é maior do que na prostituição de rua e igual a média das “acompanhantes de jornal”.
"Pornô, é mais barato que namoro!" |
As prisões sociais da pornografia
Após o Caso Elisa Samúdio, com os boatos que explodiram na mídia das festas dadas por celebridades, políticos e grandes empresários quando estes desejam extravasar o stress, comemorar um bom negócio ou acordo político, teremos deste modo um panorama bem amplo da exploração sexual que atinge estas mulheres no capitalismo.
Uma exigência pessoal das atrizes pornôs é o sigilo de contrato, quando se prostituem. Elas são obrigadas a assumir uma dupla identidade, além de se submeterem a todo tipo de violência. As mulheres que integram essa classe de trabalhadoras, para manterem sua “integridade moral”, parte importante do negócio, e para ganharem credibilidade e respeito, fazem de tudo para não serem “descobertas”. Elas se cobrem com um manto de uma segunda identidade, que muitas vezes é a de dona de casa, universitária, modelo e mãe. Muitas justificam essa vida dupla como uma tentativa de manter-se protegidas de seus clientes, da família e da sociedade. E assim conduzem suas vidas dentro de duas prisões.
Uma exigência pessoal das atrizes pornôs é o sigilo de contrato, quando se prostituem. Elas são obrigadas a assumir uma dupla identidade, além de se submeterem a todo tipo de violência. As mulheres que integram essa classe de trabalhadoras, para manterem sua “integridade moral”, parte importante do negócio, e para ganharem credibilidade e respeito, fazem de tudo para não serem “descobertas”. Elas se cobrem com um manto de uma segunda identidade, que muitas vezes é a de dona de casa, universitária, modelo e mãe. Muitas justificam essa vida dupla como uma tentativa de manter-se protegidas de seus clientes, da família e da sociedade. E assim conduzem suas vidas dentro de duas prisões.
Precisamos salientar que o que determina o enquadramento em qualquer um destes mercados sexuais é a proximidade que uma mulher tenha com o padrão de beleza imposto pela mídia, a idade que ela possua e os contatos (“cafetinização”) que tal mulher possa ter/submeter.
Para que as atrizes pornô possam chegar ao topo da cadeia alimentar da pornografia precisam se submeter as cenas mais bizarras, topar tudo que lhe for proposto pelos produtores do filme. Para logo depois, terem que fazer a mesma coisa de antes, no momento em que a sua idade avance ou que outra atriz se assegure no lugar/topo onde antes ela estava.
Pornografia, Tecnologia e as Mega Corporações
Além de sua influência no mercado de consumo dos filmes e etc, sabemos também que a participação da pornografia é alta no turismo sexual, principalmente dentro dos encontros e congressos profissionais. Estima que, em média, 50% dos hóspedes de hotéis procuram por pornografia nos canais fechados de seus televisores, fazendo com que as grandes corporações como Hilton e Sheraton viessem a descobrir que boa parte dos seus lucros de serviços de quarto surge do aluguel de filmes pornôs.
Outra importância da pornografia fora do convencional é a sua relação com as tecnologias de consumo. Os filmes pornôs foram importantíssimos para decretar a vitória arrasadora do VHS sobre o formato Betamax de vídeo. “Na guerra de formatos tecnológicos de mídia”, ao longo dos anos, a pornografia correu junto para popularizar comportamentos de consumo. Assim como também a pornografia faz da internet “o mais influente veículo de mídia da atualidade”, superando o cinema.
Para se ter uma idéia do poder midiático da pornografia moderna no mundo, segundo dados da consultoria Nielsen, nos Estados Unidos, as mulheres já representam 30% da audiência pornográfica na internet. E no Brasil uma pesquisa feita pelo Ibope afirma que 28% do público dos sites pornôs são formados por mulheres. Extremante ramificada e influente, estima-se que existam cerca de 370 milhões de sites 'pornôs', representando cerca de 12% do total que se posta na net. Lembramos que o consumo é realizado em ambientes fechados, com um alto grau de anúncios de mercadorias, não é a toa o grande investimento financeiro direcionado a esta fatia de mercado.
Solidão sexual e Antifeminismo Pornográfico
Produto de um longo processo histórico que culminou na solidão e no isolamento sexual em que se encontram as mulheres e os homens atuais, principalmente em tempos de internet, a indústria pornô tornou-se uma poderosíssima fonte de renda para mega-empresários que não deixariam de financiar boas possibilidades de negocio. Eis que a exploração do sexo é uma constante possibilidade de lucro, graças ao seu poder de criação de mercado consumidor, dada a maternidade intensiva e a repressão sexual imposta pelo patriarcado.
Quando se busca a origem histórica da pornografia, se encontram as confirmações necessárias para relacioná-la com o comércio e a propriedade. É fato então que a pornografia apresenta-se como resultado histórico da mutilação institucional imposta ao corpo feminino.
Confirmadora do direito patriarcal masculino, não é a toa que é óbvia as razões pelas quais o feminismo insurrecional deva ser radicalmente contra o Estado, a família e a religião. Pois também é graças a estas instituições e a proteção delas que a pornografia surgiu e se legitimou. Por isso devemos ficar certas de que o sistema econômico em que vivemos é a atual expressão econômica do patriarcado.
As concepções pornográficas da força bruta, do poder físico para repressão, prazer e violência, além da opressão instituída para a dominação do outro, estão todas presentes no capitalismo.
No instante que ocorre um período de refluxo feminista/comunista, é o momento que o fenômeno midiático da pornografia contemporânea tem mostrado-se cada vez mais intenso e aceito socialmente. Seja no papel de transmissor ou receptor dos valores da dominação sexual masculina.
No instante que ocorre um período de refluxo feminista/comunista, é o momento que o fenômeno midiático da pornografia contemporânea tem mostrado-se cada vez mais intenso e aceito socialmente. Seja no papel de transmissor ou receptor dos valores da dominação sexual masculina.
No capitalismo, a atual pornografia pode se ampliar e desenvolver mesmo sem a participação efetiva dos homens, desde que mantenha vivo o processo de mercantilização da sexualidade humana. Por tal motivo tantas mulheres “feministas” se apresentam encantadas, compreendendo, estimulando e defendendo “os filmes pornôs feministas”.
Feminismo e antipornografia
Após o auge da contracultura, o tempo passou, nenhuma revolução libertária se instituiu. Fosse ela socialista, anarquista ou feminista. Toda via, os ranços conservadores só mantiveram vivos daqueles anos, o que fosse capaz de gerar algum lucro ao atual sistema econômico do patriarcado. Desde a mítica imagem de Che Guevara em camisetas, passado pelo símbolo do anarquismo em adesivos, pela estética punk nas calças ou pelos dreadlocks nos cabelos. E lógico, não houve perdão ao feminismo.
Como Maçãs Podres, parece-nos que esta é a explicação para que existam mulheres capazes de associarem pornografia com feminismo. É por desconhecerem o processo histórico da prostituição e por defenderem conceitos burgueses, em sua causa e conseqüência, que tais mulheres possam estar correlacionando a pornografia com a liberdade sexual. Pois imaginar que a indústria pornô poderia ser “feminista” é o mesmo que imaginar mulheres “cafetinando” bordéis e considerar isso algo “revolucionário”. Ora, desde quando explorar o corpo feminino significou a libertação humana das instituições patriarcais? Ora, desde quando cultivar a impessoalidade sexual humana e alimentar a solidão e o isolamento de nossa sexualidade coletiva poderia ser definido como feminismo?
Pornografia não é feminismo é consumo e exploração.
Então qual seria a ligação tênue capaz de confundir algumas mulheres conscientes a associarem pornografia, liberdade sexual e luta das mulheres? Qual é a lógica por trás desta idéia a ponto de gerar uma improvável relação entre ideais e ideologias tão distintas?
A resposta virá depois do próximo texto em que abordaremos a relação social entre sexualidade, sexo e pornografia.
Como Maçãs Podres, parece-nos que esta é a explicação para que existam mulheres capazes de associarem pornografia com feminismo. É por desconhecerem o processo histórico da prostituição e por defenderem conceitos burgueses, em sua causa e conseqüência, que tais mulheres possam estar correlacionando a pornografia com a liberdade sexual. Pois imaginar que a indústria pornô poderia ser “feminista” é o mesmo que imaginar mulheres “cafetinando” bordéis e considerar isso algo “revolucionário”. Ora, desde quando explorar o corpo feminino significou a libertação humana das instituições patriarcais? Ora, desde quando cultivar a impessoalidade sexual humana e alimentar a solidão e o isolamento de nossa sexualidade coletiva poderia ser definido como feminismo?
Pornografia não é feminismo é consumo e exploração.
Então qual seria a ligação tênue capaz de confundir algumas mulheres conscientes a associarem pornografia, liberdade sexual e luta das mulheres? Qual é a lógica por trás desta idéia a ponto de gerar uma improvável relação entre ideais e ideologias tão distintas?
A resposta virá depois do próximo texto em que abordaremos a relação social entre sexualidade, sexo e pornografia.
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
2 comentários:
Um belo texto ! Muito Bom !
Sugiro alguns sites para que o feminismo aperfeiçõe a ramificação da anti-pornografia mundial:
http://www.theporneffect.com/
http://www.thepinkcross.org/
http://revistatrip.uol.com.br/print.php?cont_id=31915
http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/osjudeuseasdrogas.htmlc
http://stoppornculture.org
att,
Marco Tulio
Valeu Marco Tulio,
é sempre bom quando os comentaristas além de fazer elogios ou críticas deixam links de pesquisa, pois ajuda-nos a todas (e todos) a criar conceitos sobre as questões levantadas aqui.
Fica como uma biblioteca de informções do tema e quando precisarmos de referências, teremos mais estas que vc indicou.
Saudações feministas!
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