A história das "Marias Guerreiras"
Quantas mulheres no Brasil podem ser chamadas de dona Maria Quitéria, Maria Clara, Maria Camarão e Joaquina? Quantas destas tem registros históricos de suas ações? Quantas brasileiras ouviram falar em Tejucupapo? A explicação não está no fato destes nomes serem de mulheres "comuns" ou de que este lugar não é um é um centro cosmopolita e nem mesmo por causa de que as mulheres são donas de apenas 1% das grandes propriedades mundiais, o motivo é o seguinte: estas mulheres citadas e este vilarejo são um marco na história do Brasil.
Os fatos históricos da luta armada
Foi lá que ocorreu o primeiro registro brasileiro da participação das mulheres em conflito armado. Lutavam não por um Estado Português, Brasileiro ou Holandês, simplesmente defendiam sua existência. Armadas com o que era disponível: chuços, pedaços de pau, água fervente e poucas armas de fogo. Em 1646, os holandeses perdiam o domínio sobre o estado de Pernambuco.
Necessitavam desesperadamente de alimentos. Sob o comandado do almirante Lichthant, cerca de 600 homens esperavam encontrar a farinha de mandioca e o caju em Tejucupapo (um vilarejo de uma rua larga apenas). A vitória era dada como certa, pois a estratégia de ataque era bem simples: escolherem o domingo para realizar a investida, pois acreditavam que não teriam muita dificuldade nesse dia porque os homens do vilarejo costumavam ir ao Recife, a cavalo, para vender nas feiras da capital os produtos da pesca. A medida que a volante se aproximava, a notícia chegou ao vilarejo, os poucos homens saíram armados para uma emboscada. Contudo, os registros informam que as mulheres de Tejucupapo ferveram água em tachos e panelas de barro, acrescentaram pimenta, e escondidas nas trincheiras que haviam cavado, atacavam os holandeses com a mistura jamais esperada por eles. Seus olhos eram os alvos. O saldo do combate? Mais de 300 cadáveres ficaram espalhados pelo vilarejo numa batalha de horas. No dia 24 de abril de 1646, as mulheres guerreiras do Tejucopapo saíram vitoriosas, mas o breve registro de sua história continua sendo estrategicamente mantido longe dos livros didáticos em nome de uma ideologia que exalta os mitos da fragilidade, da beleza e da submissão das mulheres.
O Mito Desmitificado
Estimulas por está história, fomos buscar gravuras ou pinturas sobre o fato como ocorre com tantos momentos da "história do Brasil". O resultado? O mesmo dos registros historiográficos sobre a contribuição das mulheres no mundo: "nenhum". Indignadas, decidimos fazer o que está proposto no texto sobre a cultura ( http://nucleogenerosb.blogspot.com/2009/10/o-vampirismo-emocional-masculino-e.html ): “A cultura é a tentativa dos homens de realizar o imaginável no possível”, ou seja, imaginar modos capazes de criar as condições de superação da realidade presente em busca do futuro desejado. A escolha foi criar um "documentário" com mulheres armadas que seriamente se preparassem para a insurreição feminista. O método era fazer uma colagem com imagens reais, de mulheres que existiram e desmistificavam o mito da fragilidade feminina. A intenção é fazer o que os homens fazem com suas versões da história: criar um chip de memória futura. O resultado da procura por imagens: quase não existem registros filmados sobre mulheres com armas na mão. Porque será? Foi uma semana de garimpagem. Mas conseguimos um esboço de um projeto futuro.
Texto: Ana Clara Marques e Patrick Monteiro
4 comentários:
Cresci ouvindo a história das guerreiras mulheres de Tejucopapo, contada por minha avó e minha mãe. O que percebia em suas falas era o orgulho q tinham dessas bravas mulheres. É importante não deixarmos que histórias caiam no esquecimento. parabéns pelo post e pelo blog.
Tere Marques,
como eu o único do núcleo que foi criado em Pernambuco, também já conhecia tal história. Mesmo tendo estudado História na Federal Rural, só quando lançaram o curta, com cenas do espetáculo, que eu soube do fato. Fora de Pernambuco - e mesmo dentro como relatei, se não é um momento desconhecido, posso dizer que é negligenciado. Os motivos estão expostos no texto. Apesar da Lei nº11.340, no Art.8 (VIII e IX) exigir o ensino de conteúdos relativos as mulheres. Mas sabemos que falaciar sobre fragilidade feminina gera muita grana e o machismo não divulga ações femininas radicais, para nós manter bem calmas, doceis e belas.
Valeu o incentivo... e contamine o pomar.
Saudações feministas!
Patrick Monteiro, maçã podre da espécie.
Ola, fiquei interessada no acontecimento histórico. Gostaria de ler mais, alguma indicação...sei que não deva ter muitas, pelo que entendi. Mas há pelo menos uma?...
Bom, mas caso não tenha gostaria de obter maiores informações de vocês sobre as mulheres de Tejucopapo.
Mesmo que repassando oralmente esta conquista...é preciso.
Ana Laura
Ana Laura
sobre o fato existe um trailer do espetáculo teatral
http://www.youtube.com/watch?v=mE6YJFl2aYY
alguns sites com as informações passadas aqui:
http://www.memorialpernambuco.com.br/memorial/paginas/historia/111mulheres_de_tejucupapo.htm
no minimo um trabalho cientifico que cita o fato
http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/283.pdf
e um curta documentário que pode ser visto:
http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=1752
a demais, concordamos com vc e acreditamos q o fato deva ser mesmo divulgado. E se vc conhecer ou for educadora, este é um bom tema para se discutir o eixo gênero nas escolas.
Saudações Feministas!
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