29 de out. de 2010

O lado negro do Feminismo


Por que quando nós pensamos no continente africano logo vem a cabeça imagens de fome, miséria, guerra ou animais?
Assim como ocorre com a concepção das mulheres para os homens, os brancos criaram as concepções preconceituosas do que é ser negro. Tais ideias servem de antítese para valorizarem a “cultura branca” e legitimarem a histórica exploração das pessoas daquele continente e toda a dominação existente no mundo. Se os países mais pobres da Terra se encontram na África e na Ásia é porque a descolonização tardia deixa marcas ainda mais evidentes nestas regiões do que na América Latina (ou nem tanto quanto parece). A história de sangue nos aproxima.

REFLEXÕES SOBRE O MEIO E "O OUTRO"
Não é o clima que originou a fome daquele povo, mas a colonização. Não é a ausência de recursos naturais que instituem a miséria africana, mas a exploração do capital privado. Não é a barbárie antidemocrática que fomenta as guerras tribais, mas foram os colonizadores que, durante séculos, armaram as etnias. Não é a falta de espaços urbanos que mitificam o continente, mas a ideologia da civilização que mostra como selvagem tudo que não é Europa ou EUA (vide as imagens o que se projetam do Brasil no consciente coletivo estrangeiro). 
Para saírem da condição de “outro”, os sul-africanos e os descendentes de africanos criaram e aderiram ao conceito de sujeito (“Se me disseram que eu sou negro, eu serei, mas não do modo que vocês brancos o querem”). Surge a consciência negra. Um ato político de auto-afirmação frente aos governos racistas.
Na busca por resignificarem sua cultura, várias problemáticas podem ser levantadas, contudo em nada atenuam o fato de que o reencontro com suas matrizes culturais, éticas e estéticas servem de base estrutural para a luta. Os ativistas negros em todo o mundo tem um modelo a seguir. O que facilita suas ações. 

REFLEXÕES SOBRE A CONSCIÊNCIA DO SER
A aculturação dos descendentes da economia escravocrata existe para que estes se mantenham cativos aos valores dominantes. O mesmo ocorre com as mulheres. E não é por acaso, já que os valores dominantes são os valores do patriarcado branco.
As bonecas “Barbie da vida” são mais fatais para as meninas negras que para as meninas brancas. Porém o mecanismo de dominação para ambas é o mesmo, um padrão estético inatingível.
Quem não tem um espelho de si, não reconhece sua imagem. São pobres que assistem ricos nas novelas de Manoel Carlos, são negros que cultuam a estética branca de Gisele Bundchen, são mulheres que se enquadram na posição de objeto ao verem os homens como sujeitos de ação política, cientifica e social. 
Muito mais que dar respostas, hoje nós Maçãs Podres iremos apenas levantar fatos e reflexões. Precisamos de uma consciência negra feminista, de um feminismo consciente ou de uma consciência feminista. Pouco importa o nome.
O que seria da vida ou como seria a vida das mulheres de classe média (por vezes feministas) com suas bem sucedidas carreiras profissionais sem as empregadas domésticas? Chega de privarmos meninas negras e pobres de seus estudos, de seu autoconhecimento.
Chegou a hora de apagar as luzes da casa grande (luz demais cega os olhos, ofusca a percepção, causa vertigens e distorções). Como se diz no movimento negro “é preciso escurecer as coisas” (ainda é o reflexo solar da época das luzes que norteiam nossa racial cegueira coletiva). Para que nós feministas também possamos voltar a ver melhor os princípios originais (e fundamentais) de nossa luta pela libertação humana, teremos que ter a coragem de novamente tatearmos no escuro, apagando as luzes do feminismo individualista branco de academia e reconhecendo que "as coisas que reluzem" não são como elas realmente são. No Brasil a realidade também é pobre e racista.


Texto e vídeo: Patrick Monteiro e Ana Clara Marques,
DEDICADO A MENINA JÚLIA.


Um comentário:

IGN-UP! disse...

Seria bom que vcs analizassem a ponte existente entre o colonialismo e o esteriótipo da mulher negra como objeto sexual,muito celebrado nos carnavais do Rio,e consentido pelas próprias negras.Tme um texto de vcs que fala sobre isso,masnão neste contexto,aquele sobre as prendas x garotas da laje.Bom,poderiam ir mais afundo,tipo,citando as propagandas de eletro domésticos e bostas afins sempre com mulheres brancas assexuadas e as negras nuas do carnaval.É muito nítido na mídia esta estória de "branca pra casar x negra pra trepar",e o pior,colocam na cabeça das negras que elas estão sendo poderosas,etc aquele bando de merda machista ideológica que conhecemos....por mais que louras sejam o ideal de beleza,na hora da "animalidade",quem entra são as negras e os seus "degradês": mulatas,mulatas claras,morenas meio amulatadas(meu caso),etc